Uma espécie extinta de elefante anão experimentou uma redução de peso e altura de 8 mil quilos e quase dois metros depois de evoluir de um dos maiores mamíferos terrestres que já existiram, confirmou um novo estudo. O trabalho, de pesquisadores internacionais, foi publicado na revista Current Biology.

O elefante anão que habitou a ilha italiana da Sicília, Palaeoloxodon cf. mnaidriensis tinha apenas 15% de sua massa corporal original no momento em que seu processo de nanismo foi concluído. Ele foi extinto há cerca de 19 mil anos.

O estudo envolveu a Universidade de Potsdam (Alemanha), as universidades de Cambridge e de York, a Nottingham Trent University e o Museu de História Natural de Londres (Reino Unido), a Universidade de Palermo (Itália) e a Universidade da Islândia. Os pesquisadores usaram evidências moleculares e fósseis combinadas para definir a taxa mínima e máxima de nanismo da espécie.

Evolução em ação

A equipe descobriu que o elefante anão, com menos de 2 metros de altura, reduziu seu peso e altura em no máximo 200 quilos e 4 centímetros por geração.

Por causa de seus ambientes isolados, a evolução nas ilhas é um processo que pode levar a uma variedade de mudanças extremas em um curto período de tempo. Essas alterações, incluindo nanismo e gigantismo, são muitas vezes mencionadas como “evolução em ação”. Para pôr a redução do tamanho do elefante anão no contexto, ela seria comparável aos humanos modernos diminuindo para aproximadamente o tamanho de um macaco Rhesus.

Como parte do trabalho, a equipe recuperou com sucesso o DNA antigo de restos de elefantes anões da Caverna Puntali, na Sicília. Sua idade estava estimada entre 175 mil e 50 mil anos.

Muitos anões e gigantes insulares estão agora extintos. Medir a taxa de mudança em animais extintos apenas a partir dos fósseis pode ser um desafio devido à incompletude do registro fóssil. Além disso, a datação molecular usando DNA antigo para medir a taxa de mudança evolutiva é dificultada pelo fato de que muitas vezes esses animais existiram em ilhas com climas quentes. Em regiões assim, o DNA não sobrevive bem.

Clima frio

Para superar o desafio da degradação do DNA, os pesquisadores analisaram um pedaço de osso petroso – parte do crânio que contém os órgãos do ouvido interno – que é conhecido por preservar o DNA melhor do que outras partes do esqueleto.

Ao combinarem o DNA e a evidência fóssil, os pesquisadores conseguiram determinar que a linhagem mitocondrial ou materna desse elefante siciliano específico divergia do elefante Palaeoloxodon antiquus de Neumark Nord (Alemanha). Essa espécie tinha quase 4 m de altura e pesava dez toneladas.

O Palaeoloxodon antiquus viveu no continente europeu entre 800 mil e 40 mil anos atrás. A equipe acredita que ele teria colonizado a Sicília por volta de 200 mil anos atrás. Essa colonização provavelmente ocorreu durante períodos de clima frio, quando os níveis do mar estavam mais baixos. Isso deixou à mostra pontes de terra que os elefantes poderiam ter utilizado para colonizar as ilhas.

Pensa-se que o processo de nanismo começou logo depois que o elefante de Puntali divergiu de seu parente no continente.

Usando a idade estimada do fóssil do elefante de Puntali, o tamanho e a massa do elefante de presas retas e o início estimado do processo de nanismo, a equipe conseguiu calcular o tamanho e a taxa de redução da massa corporal por ano e por geração.

Exemplo intrigante

“Combinando DNA antigo com evidências paleontológicas, podemos mostrar o momento das mudanças evolutivas observáveis ​​com maior precisão”, disse o dr. Axel Barlow, especialista em paleogenômica e biociência molecular na Escola de Ciência e Tecnologia da Nottingham Trent University. “A magnitude do nanismo resultante desse rápido processo evolutivo é realmente impressionante. Ele resulta em uma perda de massa corporal de quase 85% em um dos maiores mamíferos terrestres. Como descendentes de gigantes, os extintos elefantes anões estão entre os exemplos mais intrigantes de evolução nas ilhas.”

A drª Victoria Herridge, bióloga evolucionista do Museu de História Natural de Londres, afirmou: “É uma conquista sequenciar com sucesso um antigo genoma mitocondrial de um elefante anão da Sicília e, finalmente, ter DNA de um elefante de presas retas do sul da Europa. Isso abre a porta para mais estudos desse tipo. E, com isso, surge a chance de finalmente desvendar um dos grandes mistérios da biologia evolutiva: por que os elefantes evoluem para serem tão pequenos nas ilhas”.

A drª Johanna Paijmans, pesquisadora do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge, disse: “Este é um exemplo realmente empolgante do poder dos estudos multidisciplinares. Somente combinando várias linhas de evidência é que pudemos obter um melhor entendimento do processo de nanismo desta espécie icônica”.

Os restos mortais do elefante anão são mantidos no Museu Gemmellaro (Universidade de Palermo), onde os espécimes foram amostrados.

O dr. Giulio Catalano, pesquisador de pós-doutorado no Departamento STEBICEF da Universidade de Palermo, declarou: “Com este estudo empolgante, lançamos uma nova luz sobre a complexa história evolutiva das espécies de elefantes anões que viveram na Sicília no Pleistoceno.”