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Espalhada por 10.360 km² (área um pouco menor do que o estado de Sergipe), a região de Everglades, no sul da Flórida, é uma grande extensão de terras inundadas que abriga condições especiais para o desenvolvimento de uma fauna e flora riquíssimas. Em um estado cujo clima quente atrai moradores do norte, e num país que, até começar a se preocupar com a ecologia, investia fortemente em “corrigir” a natureza, as intervenções em toda essa área causaram sérios desequilíbrios. Foi só na primeira metade do século 20 que as preocupações ambientais passaram a ganhar maior destaque na região, exemplificadas no Parque Nacional de Everglades, criado em 1934 numa área de 6.104,8 km2 e que hoje responde pela proteção de cerca de 20% da área total dessas terras alagadas.

Os Everglades começam em um vasto lago raso ao norte, o Okeechobee, alimentado sobretudo pelo rio Kissimmee. A água despejada ali segue lentamente pelas terras baixas até o Golfo do México, formando trechos de brejos com vegetação mais rasteira, sobretudo a junça. Nesse ambiente, o fogo – em geral iniciado por raios – tem papel importante, ao incendiar a vegetação mais antiga, que pode atrapalhar o fluxo da água. Árvores mais encorpadas, como ciprestes e pinheiros, crescem em áreas mais altas. Manguezais, brejos de água salgada e estuários completam a paisagem.

A região dos Everglades já era ocupada por seres humanos há 15 mil anos, mas as condições locais nunca favoreceram a formação de aglomerados urbanos. Tribos como okeechobees, caloosahatchees, calusas e tequestas estão entre os que se fixaram naquelas terras. Os seminoles, povo guerreiro descendente da tribo creek, invadiram a região no século 18 e defenderam o novo lar com unhas e dentes. Só depois de duas guerras, no século 19, o governo americano conseguiu dominá-los.

Patrimônio sob ameaça

Os índios se adaptaram às condições peculiares dos Everglades, diferentemente dos brancos. Os primeiros planos destes últimos para drenar a área e adequá-la ao uso urbano e agrícola surgiram ainda nos anos 1880. Durante a primeira metade do século seguinte, o crescimento da região metropolitana de Miami, no sudeste da Península da Flórida, levou as autoridades locais a interferir no lago Okeechobee, aumentando gradualmente os problemas ambientais vividos pela região. A criação do parque nacional começou a reverter essa tendência, uma iniciativa consolidada em 1947, ano do início da construção de vários canais no sul do estado. Mas a coexistência entre os Everglades e os seres humanos ainda é complexa.

A presença simultânea do Parque Nacional Everglades em três diferentes listas da Unesco – Reserva Internacional da Biosfera, Patrimônio Mundial e Zona Úmida de Importância Internacional – dá uma noção da relevância e da fragilidade dos ecossistemas ali abrigados. Apenas dois outros lugares do mundo estão na mesma situação. O parque é o mais importante local de procriação de aves pernaltas tropicais da América do Norte e abriga o maior ecossistema de mangues do hemisfério ocidental. Ali moram 40 espécies de mamíferos, 350 de pássaros, 300 de peixes (marinhos e de água doce) e 50 de répteis.

Entre as 36 espécies protegidas ou ameaçadas estão a pantera-da-flórida, o aligátor-americano, o crocodilo-americano, o manati (peixe-boi-marinho) e o peixe-jacaré, que conserva sua aparência há mais de 250 milhões de anos. A maior parte do estoque de água doce do sul da Flórida é proveniente do parque. Além dos já citados junça, cipreste e pinheiro, vários tipos de mamoeiros, cactos e palmeiras ajudam a compor as cerca de 160 espécies vegetais encontradas nos Everglades. Os mangues são um espetáculo à parte: em seus galhos, milhares de pássaros marinhos fazem seus ninhos.

Cerca de 1 milhão de pes­soas visitam o parque a cada ano, aproveitando-se da pequena distância entre ele e Miami – duas das três entradas estão relativamente próximas da cidade (a outra fica do lado do Golfo do México, perto de Naples). Em qualquer uma das opções, o turista vai encontrar incontáveis atrações, de avistamento de animais a passeios de barco ou bicicleta, tudo em meio a uma natureza deslumbrante.