Quando e como surgiu a arte pré-histórica nas cavernas? A Cueva de Ardales, no sul da Espanha, está ajudando a responder a essa questão. Lá, uma formação de estalagmites está manchada de vermelho em alguns lugares. Essa coloração tem aparentemente quase 65 mil anos.

Até agora, uma parte da comunidade científica atribuía a coloração a uma camada natural de óxido de ferro depositada por água corrente. Mas um estudo de 2018 já colocava essa hipótese em dúvida. Agora, ela acaba de ser rejeitada pelas descobertas de uma equipe internacional de cientistas. Os resultados de seu estudo, publicados na revista PNAS, indicam que os neandertais foram os responsáveis pelas “manchas”.

Os membros da equipe, de instituições da Espanha, França, Alemanha e de Portugal, analisaram amostras de resíduos vermelhos coletados da superfície das estalagmites e os compararam com depósitos ricos em óxido de ferro na caverna. Eles concluíram que o pigmento à base de ocre foi aplicado intencionalmente – ou seja, foi pintado – pelos neandertais, já que os humanos modernos ainda não haviam chegado ao continente europeu. Mais importante ainda, esse pigmento provavelmente foi trazido para a caverna de uma fonte externa.

Importância simbólica

Além disso, foram detectadas variações na composição do pigmento entre as amostras, correspondendo a diferentes datas de aplicação, às vezes com muitos milhares de anos de intervalo.

Assim, parece que muitas gerações de neandertais visitaram essa caverna e coloriram as superfícies da grande formação de estalagmites com ocre vermelho. Esse comportamento indica uma motivação para retornar à caverna e marcar simbolicamente o local. Ele testemunha também a transmissão de uma tradição ao longo das gerações. “Os neandertais vieram em diversas ocasiões, ao longo de vários milhares de anos, para marcar a caverna com pigmentos”, disse à AFP Francesco d’Errico, da Universidade de Bordeaux (França), um dos autores do estudo.