Processo envolve supostas irregularidades na sua polêmica contratação pelo Barcelona em 2013. A acusação aponta crimes por suposta ocultação do valor real da transferência.A um mês da Copa do Mundo no Catar, o craque brasileiro Neymar reencontrou seu passado nesta segunda-feira (17/10), quando voltou a Barcelona para assistir à primeira sessão do processo por supostas irregularidades na polêmica contratação que o levou ao clube catalão há quase uma década. O julgamento deve durar até o fim de outubro.

Vestido de terno negro e óculos escuros, o agora atacante do Paris Saint-Germain, que deixou o Barça abruptamente em 2017 numa transferência milionária para o clube francês, chegou ao Tribunal de Barcelona acompanhado de seus pais, também processados pelo mesmo caso, pouco antes de 10h00 (05h00 em Brasíia).

O atleta, que na noite anterior marcou o gol da vitória da sua equipe frente ao Olympique de Marselha pelo campeonato francês, passou quase duas horas na sala, sentado na primeira fila de um grande banco de réus compartilhado com os pais, os ex-presidentes do FC Barcelona Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu, e os advogados de seus antigos clubes, Barcelona e Santos.

A ação foi apresentada há sete anos pelo grupo DIS, fundo que possuía parte dos direitos econômicos do atleta quando ele era um promissor atacante do clube paulista. A acusação aponta crimes de corrupção e fraude, pela suposta ocultação do valor real da transferência do craque para o Barcelona em 2013.

Acusação de corrupção

Devido às poucas horas de descanso, a defesa de Neymar solicitou que ele e seus pais se ausentassem da audiência, obtendo autorização do juiz. Pouco antes do meio-dia, o jogador de futebol deixou o prédio da audiência, localizado numa área central da metrópole espanhola, acompanhado da mãe, enquanto o pai decidiu ficar com os demais réus.

Neymar, que a partir de 20 de novembro voltará a liderar a seleção na Copa do Mundo, é acusado de crime de corrupção empresarial pelo Ministério Público, que pede dois anos de prisão e multa de 10 milhões de euros (R$ 51,5 milhões). No entanto, a pena máxima pedida pelo Ministério Público é para Rosell, de cinco anos de prisão por corrupção e fraude.

O cronograma inicial prevê que o atacante brasileiro deporá ou em 21 ou 28 de outubro, assim como os demais cinco acusados. Antes disso, outra das aparições mais esperadas será quando o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, testemunhará nesta terça-feira por videoconferência para explicar, a pedido da DIS, como o pré-acordo assinado secretamente entre o Barça e o craque influenciou o mercado em 2011.

Apesar de o FC Barcelona ter estimado inicialmente a contratação de Neymar em 57,1 milhões de euros (40 milhões para a família e 17,1 para o Santos), a Justiça espanhola estimou que o negócio envolveu pelo menos 83 milhões de euros (cerca de R$ 431 milhões). Para o DIS – fundo de investimento esportivo do grupo de supermercados brasileiro Sonda – Barça, Neymar e depois Santos uniram forças para esconder o valor real da operação por meio de outros contratos dos quais ficaram de fora.

Empresa “duplamente prejudicada”

A empresa, que adquiriu 40% dos direitos econômicos do jogador de futebol em 2009, recebeu 6,8 milhões de euros dos 17,1 pagos oficialmente ao clube brasileiro. “Neymar Júnior, com a conivência de seus pais e do FC Barcelona, e seus dirigentes na época, e o Santos FC […] fraudaram os legítimos interesses econômicos do DIS”, disse Paulo Nasser, advogado da empresa, segundo quem os direitos do jogador “não foram vendidos ao maior lance”.

Alegando ter sido duplamente prejudicada, tanto por não ter recebido sua parte da transferência real quanto pelo contrato de exclusividade assinado por Neymar e o Barça – que impedia outros clubes de concorrerem ao atacante –, a DIS agora pede a devolução dos 35 milhões de euros que estima ter perdido.

O DIS os acusou de corrupção e fraude e pediu uma sentença de cinco anos de prisão para Neymar e seu pai, e por uma indenização de 34 milhões de euros e multa de 195 milhões de euros, que seria paga ao Estado espanhol. Os promotores pedem uma multa de 10 milhões de euros para Neymar e seu pai, além de cinco anos de prisão para Rosell por fraude e corrupção, além de uma multa de 10 milhões de euros.

md/av (AFP, EFE, AP)