Centenas de rios do planeta, como os europeus Danúbio, Sena e Tâmisa e os asiáticos Tigre e Mekong, registram níveis perigosamente altos de antibióticos, de acordo com o maior estudo mundial a esse respeito, divulgado em maio em uma conferência em Helsinque (Finlândia). Esse tipo de poluição ajuda as bactérias a se fortalecer ante os remédios já existentes, dificultando os tratamentos.

Em alguns casos, as concentrações excedem os níveis considerados seguros em até 300 vezes, afirmam os pesquisadores. Segundo a ONU, o aumento da população de bactérias resistentes a antibióticos poderá matar 10 milhões de pessoas até 2050.

Os antibióticos chegam aos rios e ao solo por meio de resíduos humanos e de animais, vazamentos de estações de tratamento de águas residuais e indústrias farmacêuticas. “Podemos ter grandes partes do ambiente com antibióticos em níveis altos o suficiente para afetar a resistência”, disse o cientista ambiental Alistair Boxall, da Universidade de York (Inglaterra), que liderou o estudo.

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Os pesquisadores procuraram 14 antibióticos comumente usados em rios em 72 países em seis continentes e encontraram antibióticos em 65% dos locais monitorados.

Recorde negativo

O metronidazol, usado no tratamento de infecções bacterianas, como infecções da pele e da boca, excedeu os níveis seguros pela maior margem, com concentrações em um local em Bangladesh 300 vezes maiores que o nível recomendável.

Já no Tâmisa e em um de seus afluentes em Londres, os pesquisadores detectaram uma concentração total máxima de antibióticos de 233 nanogramas por litro (ng/l), enquanto em Bangladesh a concentração foi 170 vezes maior.

O antibiótico mais prevalente foi o trimetoprim. Usado principalmente para tratar infecções do trato urinário, ele foi detectado em 307 dos 711 locais testados.

Outro remédio usado no tratamento de várias infecções bacterianas, a ciproflaxacina, foi o composto que mais frequentemente excedeu os níveis seguros. Ele ultrapassou o limite de segurança em 51 locais.

Segundo a equipe envolvida, os níveis seguros foram excedidos com mais frequência na Ásia e na África, mas locais na Europa e nas América do Norte e do Sul também registram níveis preocupantes. Isso mostra que a contaminação por antibióticos é um “problema global”.

Mapeamento do alto risco

Os países onde os antibióticos excederam os níveis seguros em maior grau foram Bangladesh, Quênia, Gana, Paquistão e Nigéria. O estudo revelou ainda que locais de alto risco eram tipicamente adjacentes a sistemas de tratamento de águas residuais, lixões ou esgotos e em algumas áreas de turbulência política, incluindo a fronteira Israel–Palestina.

“Os resultados são bastante reveladores e preocupantes, demonstrando a contaminação generalizada dos sistemas fluviais ao redor do mundo com compostos antibióticos”, afirmou Boxall. “Muitos cientistas e formuladores de políticas agora reconhecem o papel do ambiente natural no problema de resistência antimicrobiana. Nossos dados mostram que a contaminação por antibióticos dos rios pode ser um importante contribuinte.”

“Resolver o problema será um enorme desafio e precisará de investimentos em infraestrutura para tratamento de efluentes e águas residuais, regulamentação mais rigorosa e limpeza de locais já contaminados”, concluiu Boxall.