(Pelo Observatório do Clima) – A aceleração da elevação do nível global dos oceanos começou 30 anos antes do que os cientistas imaginavam. O resultado é de um novo estudo, publicado em 5 de agosto no periódico “Nature Climate Change”.

A equipe do pesquisador alemão Sönke Dangendorf, da Universidade de Siegen, desenvolveu uma nova metodologia para analisar as séries de dados mais antigas sobre o nível do mar. Sua conclusão foi que a tendência observada hoje data dos anos 1960 – antes mesmo de a expressão “aquecimento global” ter aparecido pela primeira vez na literatura científica.

Ao longo do último século, os oceanos já subiram cerca de 20 centímetros. O fenômeno, um dos efeitos mais temidos do aquecimento global, é causado sobretudo pelo derretimento de geleiras de montanhas, dos mantos de gelo da Groenlândia e da Antártida e pela expansão térmica do mar – líquidos aquecidos aumentam de volume.

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Estima-se que a elevação neste século, a depender do comportamento do gelo da Antártida, possa ultrapassar um metro. Isso teria consequências dramáticas para cidades costeiras e nações insulares, já que uma elevação dessa ordem pode se multiplicar por quatro durante ressacas ocorridas em maré alta.

 

Precisão milimétrica

O nível do mar é medido com precisão milimétrica por satélites desde 1993, quando se detectou a aceleração. Antes disso, os cientistas precisavam se fiar em registros esparsos de marégrafos espalhados pelo mundo.

Dangendorf e seus colegas combinaram duas técnicas de análise dos dados dos marégrafos. A primeira permite olhar a tendência no longo prazo, mas não detecta variações que ocorrem de um ano para o outro. A outra permite reconstruir a variação anual, mas não enxerga o longo prazo. Assim, foram capazes de reconstruir a tendência de aumento do nível do mar desde 1900.

Eles descobriram que a aceleração começou em 1960, saltando de cerca de 1 milímetro por ano para quase 4 milímetros por ano. Ela seguiu uma mudança nos ventos alísios do Hemisfério Sul. O principal ponto de aumento é no Pacífico Sul, entre Austrália e Nova Zelândia. E mostra a importância da expansão térmica para essa tendência.

“Os ventos se intensificaram, levando a uma maior redistribuição de massas de água quente superficial para o Pacífico”, afirmou Dangendorf ao OC.

Ele explica que isso causou um segundo efeito sobre o nível global do mar. “Se a água mais quente é empurrada para longe, a água mais fria e mais densa de profundidades intermediárias sobe à superfície”, observa. “Essa água mais fria e mais densa absorve calor de forma mais eficiente, levando a uma maior expansão térmica – e, por consequência, a uma elevação mais rápida no nível do mar.”