No mundo dos insetos, a reprodução sexual é frequentemente um negócio arriscado, e pode chegar ao ponto de um dos parceiros ser comido pelo outro. Um estudo desenvolvido pela Universidade de Auckland (Nova Zelândia) desvendou uma forma inusitada pela qual o macho de uma espécie de louva-deus escapa de ser morto pela fêmea nessas ocasiões. O trabalho foi publicado na revista “Biology Letters”.

O Miomantis caffra, conhecido como springbok, é nativo da África Meridional, mas já chegou à Nova Zelândia, a Portugal e à costa oeste dos Estados Unidos. Trata-se de uma das várias espécies de insetos em que o canibalismo sexual feminino é comum. Estudos anteriores mostraram que mais de 60% das interações sexuais terminam em machos sendo consumidos, principalmente sem acasalamento.

Os machos de diferentes espécies de insetos empregam diferentes táticas para tentar evitar esse destino. Entre elas estão abordar as fêmeas quando estão se alimentando ou mudando de penas, usar um presente nupcial chamariz ou fingir-se de morto quando a fêmea ataca.

Luta violenta

O estudo mostra que o springbok macho se envolve em uma violenta luta física com a fêmea para tentar acasalar com sucesso. A estratégia parece funcionar: a maioria dos machos que conseguiram copular com sucesso e evitaram ser comidos se envolveu em luta física com a fêmea.

“É raro os machos evitarem o canibalismo por meio dessa forma de coerção – lutar fisicamente com as fêmeas para acasalar com sucesso. Esta é a primeira evidência desse comportamento em um louva-deus canibal”, disse Nathan Burke, pesquisador da Universidade de Auckland e um dos autores do estudo.

“O conflito sexual no mundo dos insetos não é tão incomum e geralmente favorece uma abordagem cautelosa ou tática. Mas o louva-deus macho realmente luta para atingir seu objetivo, e este estudo mostra que pode ser sua melhor opção em termos de sucesso reprodutivo.”

A pesquisa, do dr. Burke e do professor associado Gregory Holwell, da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Auckland, envolveu a coleta de 52 pares de springboks e a observação de seu comportamento no laboratório durante um período de 24 horas.

Ferimento em fêmea provocado por macho durante a cópula. Crédito: Nathan Burke
Feridas graves

Eles descobriram que 29 dos 52 pares (56%) chegaram ao contato físico entre os sexos, com o macho sempre iniciando o contato. Quase todos (90%) evoluíram para a luta física. Desses, 58% dos machos conseguiram agarrar a fêmea antes, terminando em acasalamento bem-sucedido. Metade foi posteriormente comida.

Apenas em 7% dos pares não houve nenhum vencedor claro na competição física. Enquanto 35% resultaram na vitória da fêmea no confronto físico inicial, e posterior canibalização do macho, 20% dos pares registraram ausência de acasalamento e de canibalismo.

Outro achado incomum da pesquisa foi que 27% das fêmeas que perderam a luta física foram feridas pelas garras do macho. As lesões resultaram em graves feridas de punção abdominal que mais tarde formaram crostas pretas. Isso também foi observado em fêmeas na natureza.

“Aprendemos muito da fascinante biologia com o Miomantis caffra na última década, mas este último trabalho é realmente incrível”, disse Holwell. “Este é o melhor exemplo de machos que lutam para ajudar a lidar com o risco de canibalismo sexual.”