Quando você olha para dois objetos próximos de si, como duas folhas, é fácil distingui-los. Mas quando eles estão mais distantes de você, tornam-se difíceis de distinguir. Os dois objetos ficam “comprimidos”, um princípio básico de percepção. O conceito de self (o que define a pessoa na sua individualidade e subjetividade) funciona da mesma maneira, de acordo com um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Se alguém lhe perguntar, por exemplo, se você acha que amanhã estará mais calmo do que hoje, é fácil comparar os dois. Mas se a pergunta for se você acha que ficará mais calmo em 10 ou 11 dias, torna-se muito mais difícil distinguir entre os dois dias.

“Nosso autoconceito se torna cada vez mais embaçado com o tempo, quanto mais você se afasta do presente”, diz a autora sênior Meghan Meyer, professora assistente de ciências psicológicas e do cérebro no Dartmouth College (EUA). “Conforme você pensa em si mesmo mais longe no tempo, seja no passado ou no futuro, você está acessando uma versão menos distinta de si mesmo.”

Autocompressão temporal

A pesquisa foi composta por quatro estudos. Em três dos estudos, os participantes avaliaram seus próprios traços de personalidade ou relataram sua percepção de si mesmos em diferentes momentos no passado e no futuro. O estudo descobriu que, em relação ao seu self presente, os participantes comprimiam seu self passado e futuro. No quarto estudo, os participantes eram informados de um par de traços de personalidade e tinham de selecionar qual deles os descrevia melhor em um determinado período de tempo, enquanto se submetiam a uma ressonância magnética funcional (fMRi).

A imagem cerebral permitiu aos pesquisadores determinar como o cérebro organiza as representações do self ao longo do tempo. Cada vez que um participante pensava em si mesmo no presente, no passado ou no futuro, os pesquisadores podiam obter uma impressão de como estava seu cérebro. Esses registros tornaram-se menos distinguíveis uns dos outros à medida que os participantes pensavam em si mesmos mais longe no tempo.

“Mesmo no nível da atividade cerebral, vemos evidências de que nosso passado e nosso futuro se tornam menos distintos à medida que nos consideramos mais distantes no tempo”, disse Meyer.

Os dados de ressonância magnética foram consistentes com os resultados das avaliações de personalidade dos participantes, fornecendo evidências do que a equipe chama de efeito de “autocompressão temporal”. “Nossa pesquisa fornece uma nova maneira de pensar sobre como organizamos nossa identidade ao longo do tempo”, disse Sasha Brietzke, primeira autora do estudo.

Em psicologia, é amplamente conhecido que pode haver comportamentos problemáticos para algumas pessoas quando elas pensam sobre seu passado ou futuro, como alguém que não economiza o suficiente para a aposentadoria porque não consegue pensar tão longe. Meyer afirmou: “Pesquisas futuras sobre o efeito da autocompressão temporal podem ajudar a explicar esse tipo de comportamento. As pessoas podem ter dificuldade em tomar boas decisões para seu self futuro ou em relembrar com precisão seu passado porque não podem ver seu self distante de forma clara”.