Embora seja um deserto sufocante hoje, estudos anteriores sugeriram que Vênus pode ter sido coberto por oceanos. Mas uma nova pesquisa revelou o oposto: Vênus provavelmente nunca foi capaz de suportar oceanos.

O chamado de “gêmeo da Terra”, devido à semelhança em tamanho e densidade, diferem radicalmente. No entanto, Vênus sempre foi inóspito, e uma história semelhante poderia ter acontecido na Terra também se as coisas fossem um pouco diferentes.

Enquanto a Terra é um centro natural para a vida, Vênus é um planeta sem vida com uma atmosfera tóxica de dióxido de carbono 90 vezes mais espessa que a nossa, nuvens de ácido sulfúrico e temperaturas superficiais que chegam a 462 graus Celsius (quente o suficiente para derreter o chumbo).

Em uma pesquisa publicada na quarta-feira (13) na revista Nature, pesquisadores tentaram entender como esses dois planetas rochosos se tornaram tão diferentes. Eles tentaram simular o início, quando os planetas do sistema solar se formaram há 4,5 bilhões de anos.

Eles usaram modelos climáticos para olhar para trás no tempo em que Vênus e a Terra eram jovens. Mais de 4 bilhões de anos atrás, ambas estavam muito quentes e cobertas de magma. Os oceanos só podem se formar quando as temperaturas são baixas o suficiente para que a água se condense e caia como chuva por dezenas de milhões de anos. É assim que o oceano global da Terra se formou, enquanto Vênus permaneceu quente.

Nessa época, o sol estava cerca de 25% mais fraco do que agora. Mesmo assim, não teria sido suficiente para ajudar Vênus a se resfriar, já que é o segundo planeta mais próximo do sol. Com isso em mente, os pesquisadores questionaram se as nuvens poderiam ter contribuído para o resfriamento de Vênus.

No modelo climático, eles determinaram que as nuvens contribuíram, mas de uma forma inesperada. Eles se agruparam no lado noturno de Vênus, onde não teriam sido capazes de proteger do sol o lado diurno do planeta. Em vez de proteger Vênus do calor, as nuvens noturnas contribuíram para um efeito estufa que prendeu o calor na densa atmosfera do planeta e manteve as temperaturas altas.

Com um calor tão consistente e aprisionado, Vênus teria sido quente demais para a chuva. Em vez disso, a água só poderia existir como sua forma gasosa, vapor de água, na atmosfera.

“As altas temperaturas associadas significavam que qualquer água estaria presente na forma de vapor, como em uma gigantesca panela de pressão”, disse Martin Turbet, principal autor do estudo e pesquisador do Departamento de Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade de Genebra e membro do Centro Nacional de Competência em Research PlanetS, na Suíça, em comunicado.

O estudo também descobriu que as coisas poderiam ter acontecido da mesma maneira na Terra se nosso planeta estivesse um pouco mais perto do sol ou se o sol fosse tão brilhante naquela época como é agora.

Como o sol estava mais escuro há bilhões de anos, a Terra foi capaz de se resfriar o suficiente de seu estado para que a água se formasse e criasse nosso oceano. O fraco e jovem sol “foi um ingrediente chave para realmente formar os primeiros oceanos da Terra”, escreveu Turbet.

“Esta é uma reversão completa na forma como olhamos para o que há muito tempo é chamado de ‘Paradoxo do Jovem Sol Fraco'”, disse Emeline Bolmont, co-autora do estudo e professora da Universidade de Genebra, em um comunicado. “Sempre foi considerado um grande obstáculo para o surgimento da vida na Terra. Mas acontece que, para a jovem e muito quente Terra, esse sol fraco pode ter sido de fato uma oportunidade inesperada.”