O campo magnético da Terra é fraco, mas as criaturas – de pássaros e abelhas a lagostas e bactérias – demonstram que são capazes de detectar seu impacto. Até mesmo casos menos conhecidos de magnetorecepção, como é chamado, atestam isso, como as vacas que orientam seus corpos ao longo das linhas do campo magnético quando pastam, ou os cães que miram para o Norte ou o Sul ao defecar. Cientistas relataram as evidências mais convincentes até agora que indicam que os seres humanos também têm essa capacidade de sentir a força magnética dos polos.

Foi montada uma gaiola de metal de alta tecnologia: uma câmara escura coberta por finas folhas de alumínio para proteger a pessoa sentada ali dentro dos sinais eletromagnéticos externos. Uma série de bobinas elétricas que revestem essa gaiola de Faraday geraram campos magnéticos personalizados. A pessoa instalada lá usava um tipo de capacete com 64 eletrodos conectados a uma máquina de eletroencefalograma (EEG), para registrar suas ondas cerebrais.

O que a equipe liderada pelo biofísico Joe Kirschvink procurava eram os sinais indicadores de que o cérebro estava ocupado “processando” algo quando os campos magnéticos eram alterados. Quando o campo magnético foi girado no sentido anti-horário, houve uma queda nas ondas alfa – um sinal de que o cérebro estava mesmo processando alguma coisa. Isso mostrou que os neurônios estavam sendo ativados em resposta ao campo magnético. Kirschvink concluiu que sim, os humanos têm o poder de magnetorecepção.

A equipe também está interessada em ver como as pessoas do hemisfério sul ou regiões equatoriais respondem às mudanças nos campos. Isso poderia ajudar a desvendar se todos são capazes de sentir o campo magnético da Terra e se alguém é capaz de fazê-lo em um nível consciente.

Antecendentes
Já na década de 1980, o biólogo britânico Robin Baker realizou uma série de experimentos que pareciam mostrar que os humanos tinham um senso inato de direção. Em um estudo, ele vendou os alunos, colocou-os em um ônibus, conduziu-os por quilômetros e, no final do percurso, pediu que apontassem para o ponto de partida. O problema era que todos eles tinham um pedaço de metal nas vendas: para alguns, era um imã, para outros, era uma barra de metal não magnética. Aqueles com a barra de latão quase sempre eram capazes de apontar para casa; os alunos usando o imã não puderam.

Na mesma década, Kirschvink, então na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, fez experiências de replicação que fracassaram. Mas, três décadas depois, e agora no California Institute of Technology, ele e seus colegas descobriram uma maneira melhor de testar se os seres humanos têm uma bússola interna. Para superar as desvantagens da pesquisa anterior, em vez de pedir aos seus pacientes uma resposta consciente e comportamental às mudanças no campo magnético, ele decidiu perguntar diretamente a seus cérebros criando a gaiola e medindo as ondas cerebrais dos participantes em um EEG.

Mas no final, ainda não sabemos quão poderosa é a magnetorecepção humana, ou se é apenas um vestígio do nosso passado evolutivo. Não é possível saber ainda se temos receptores de magnetita e onde estariam. Kirschvink acha que provavelmente está em algum lugar no grande nervo trigêmeo que se espalha pela cabeça, mas mais pesquisas são necessárias para definir esse palpite. Nós também não sabemos o que poderia desencadear isso. Mas uma coisa é certa: encontrar seu carro em um estacionamento sempre será difícil.