Cientistas desenvolveram o primeiro teste do mundo para prever com precisão transtornos do humor em pessoas, com base nos níveis de uma proteína específica encontrada no cérebro. A descoberta foi feita numa colaboração da Universidade da Austrália Meridional (UniSA) com a Universidade de Adelaide (Austrália) e a Universidade Médica Kunming (China). Os resultados foram publicados em artigo na revista “Journal of Psychiatric Research”.

As ligações entre baixos níveis do fator neurotrófico derivado do cérebro maduro (mBDNF) e a depressão são bem conhecidas. Até agora, porém, não era possível distinguir entre as três formas da proteína BDNF em amostras de sangue.

A forma madura promove o crescimento de neurônios e protege o cérebro. Mas as outras duas formas de BDNF – seu precursor e o pró-domínio do BDNF – ligam-se a diferentes receptores, causando degeneração e inflamação dos nervos.

Redução e ausência

Um kit de teste desenvolvido por pesquisadores liderados por Liying Lin, da UniSA, agora pode distinguir precisamente entre essas proteínas, ao contrário de outros kits comerciais no mercado.

O professor Xin-Fu Zhou, da UniSA, um dos pesquisadores participantes do estudo, diz que há fortes evidências de que o estresse psicológico diminui o mBDNF e a falta de mBDNF causa depressão.

Em um estudo com 215 pessoas na China, incluindo 90 pacientes com depressão clínica e 15 com transtorno bipolar, os pesquisadores encontraram ligações claras com baixos níveis de mBDNF no sangue. Quanto mais severa a depressão, menor o nível de mBDNF.

Os níveis de BDNF maduro em pacientes que não tomavam antidepressivos também foram menores do que os de pacientes tratados com antidepressivos.

Surpreendentemente, não houve diferença nos níveis de mBDNF entre 14 pessoas com histórico de tentativas de suicídio e o grupo de controle de 96 pessoas. Além disso, nenhuma diferença significativa de gênero foi encontrada no estudo.

“Como o BDNF e o proBDNF maduros têm atividades biológicas diferentes, trabalhando em oposição, é essencial que possamos distinguir entre essas duas proteínas e detectar mudanças em seus níveis”, diz o prof. Zhou.

Biomarcador objetivo

“Os kits comerciais existentes de BDNF Elisa (ensaio de imunoabsorção enzimática) não são específicos e podem apresentar reação cruzada entre si. O kit que desenvolvemos tem uma taxa de precisão de 80%-83%.”

Os pesquisadores afirmam que os níveis séricos de mBDNF abaixo de 12,4 ng/ml podem ser usados ​​como um ponto de corte para diagnosticar depressão e transtorno bipolar.

“Este poderia ser um biomarcador objetivo, além de uma avaliação clínica por um médico”, disse Zhou. “Evidências crescentes indicam que a inflamação nas células cerebrais está ligada a comportamentos depressivos e o proBDNF parece ativar o sistema imunológico. Portanto, devemos separá-lo do BDNF maduro para obter uma leitura precisa. (…) Curiosamente, nossos estudos recentes em animais mostraram que o proBDNF [forma precursora do BDNF] injetado no cérebro e no músculo pode desencadear diretamente comportamentos depressivos.”

A próxima etapa é examinar se os desequilíbrios entre o proBDNF e o BDNF maduro podem ser restaurados na terapia de convulsão elétrica. Este projeto será liderado por Larisa Bobrovskaya, professora associada da UniSA, em colaboração com dois psiquiatras da Universidade de Adelaide, o professor associado Dennis Liu e o dr. Oliver Schubert.

“Os transtornos do humor afetam milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, cerca de um terço das pessoas com depressão e transtorno bipolar são resistentes a antidepressivos ou terapias alternativas. As razões não são compreendidas, mas podem ter algo a ver com os desequilíbrios entre as diferentes formas de BDNF, que esperamos investigar a seguir”, disse Zhou.