A verdadeira ioga, da escala mais baixa à mais alta, apresenta-se como a interpretação prática e ativa do pensamento da Índia, a solução para a inquietação metafísica e religiosa. Mas apresenta-se a ioga assim para a maioria dos adeptos que frequentam as salas de exercícios do mundo ocidental? Notamos, para começar, que em geral os adeptos permanecem no primeiro grau, a hatha ioga. A que motivações obedecem? Primeiro, a uma defesa contra a vida hiperativa. A hatha ioga é considerada um método de relaxamento e repouso, remédio contra a fadiga, fator de equilíbrio mental e físico. Os resultados variam com as pessoas; poderão ser apreciados a partir de dois ou três meses, se os exercícios dirigidos forem praticados duas vezes por semana e as posturas e meditações, 30 minutos por dia.

(*) O texto aqui apresentado é um excerto do artigo “O que é a ioga?”, de Jean Chevalier, publicado em PLANETA 12, de agosto de 1973.

Mas nada é obtido mecanicamente. Os exercícios devem liberar primeiramente o espírito e a consciência, dissolver as nodosidades físicas e psíquicas, soltar os vínculos supérfluos. As técnicas de respiração e de reeducação muscular, a fisiologia da assimilação e o domínio dos nervos são terapêuticas psicossomáticas que inspiram, por exemplo, o parto sem dor. A ioga é então concebida como a arte de passar bem, por muito tempo. Outros pedem a satisfação de ambições mais altas. A ioga apresenta-se então como método científico para a conquista da felicidade. Não esconderá essa forma um equívoco? A felicidade que tantas pessoas procuram, seduzidas pela publicidade de alguns institutos, em nada se parece com a que propõem os grandes mestres da ioga.

Quando os centros de ioga prometem felicidade, tal como a desejada pelo comum dos mortais, estão traindo o conceito tradicional da Índia. A verdadeira ioga pressupõe longa purificação e ascese. Não é ginástica acompanhada de meditação. “É penoso passar por cima da lâmina afiada da navalha” – assim os sábios exprimem a dificuldade do caminho (“Katha Upanishads”, III, 14). Mas, se não pudermos atingir o completo desligamento do místico, devemos nos esforçar para nos tornarmos melhores. Pode-se tirar proveito da prática da ioga nem que seja só até certo grau. O importante é evitar o equívoco: a felicidade da ioga situa-se além das satisfações primárias.