A teoria do big bang diz que o universo começou com uma grande explosão. Desde então, toda a matéria que ela formou continua se expandindo no espaço. Isso realmente aconteceu? A maioria dos cientistas acredita que sim. Depois de mais de meio século, teorias e observações entram em acordo para dar credibilidade à idéia do big bang. “Até então, pensava-se que o universo era eterno, estático e imutável. A teoria do big bang lhe atribui uma história, uma evolução. Ela diz também que o universo não existiu desde sempre, mas sim que teve um início”, diz o astrofísico Hubert Reeves.

Essa grande ruptura na esfera do pensamento científico começou em 1917, com a teoria da relatividade geral de Albert Einstein. As novas equações que ela propunha abriam a possibilidade de estudar a estrutura do universo. Depois, nos anos 20, o astrofísico norte-americano Edwin Hubble descobriu que as galáxias se distanciam umas das outras. E elas se distanciam tanto mais rápido quanto mais longe estejam de nós: é o fenômeno da expansão. Pela primeira vez, os homens se defrontaram com um universo mutante, e não mais estático.

Em 1927, o astrofísico Georges Lemaître se aproximou da teoria de Einstein e das observações de Hubble para mostrar que, se o universo está em expansão, então ele deve se resfriar cada vez mais! De seu lado, o físico George Gamow se perguntou: se o universo se resfria gradualmente, isso significa que no passado ele era mais quente? Esses traços, que costumamos chamar de radiação fóssil, se tornaram uma evidência em 1965.

Essa sucessão de descobertas provocou uma revolução na comunidade científica. Até então, ela permanecera cética em face dessa história do big bang. Agora, era preciso considerá-la seriamente. Hoje, graças às observações e às teorias, podemos remontar até o momento em que as densidades e as temperaturas eram muito elevadas. E o que constatamos é que esse universo antigo realmente é muito diferente do de hoje em dia.

Atualmente, ele é frio – em média 260ºC negativos -, muito escuro e muito pouco denso. Ele é, sobretudo, muito organizado: desde as grandes estruturas, as galáxias, as estrelas e os planetas até os seres vivos, as bactérias, as moléculas e os átomos. Nada era assim no começo. O universo era então muito quente, luminoso, denso – bilhões de vezes mais denso que o chumbo. E nele reinava o maior caos: não existia nenhuma das atuais estruturas, nem mesmo os átomos.

Esse universo primitivo se assemelhava a uma “sopa” de partículas elementares – elétrons, fótons, quarks – espécies de letras de um alfabeto que, aos poucos, iriam se organizar para escrever esses “livros” que são as estruturas cósmicas e os seres vivos. Em 13,7 bilhões de anos, o universo em expansão se resfriará, sua matéria será cada vez mais rarefeita, o que permitirá às partículas se organizarem. É o que chamamos de “crescimento da complexidade”, processo do qual nós humanos somos dignos representantes.

Porém, se as observações sustentam a idéia do big bang, isso significa apenas que se trata de uma teoria altamente crível, mas não uma “verdade absoluta e definitiva”. A imagem de um universo resultante de uma explosão a partir de um ponto não é correta. Uma explosão geralmente se produz a partir de um lado muito quente, do qual a matéria se derrama para ocupar um espaço vazio. Ora, no universo não existe centro, não existe vazio. No big bang, tudo acontece como se cada ponto explodisse, como se a explosão acontecesse em toda a parte.

Ao mesmo tempo, a noção de um tempo zero deve ser revista. Esse ponto zero, a partir do qual o tempo escorreria, começaria quando a temperatura fosse infinita. Ora, em física quântica não existe temperatura infinita, e nem sequer infinito. Segundo Hubert Reeves, “quando remontamos aos primeiros tempos, as noções de temperatura e de densidade simplesmente perdem o seu sentido; o tempo e o espaço não mais existem. Quando a temperatura atinge 1032 ºC, chegamos ao tempo de Planck, para além do qual tudo se apaga. Nossos conceitos físicos não podem descrever o que se passa para além dessa situação. Não existe, portanto, o tempo zero”.

Essa fronteira da física representa o horizonte último do nosso conhecimento: não temos nenhum meio de remontar a antes de 13,7 bilhões de anos. A última imagem que podemos obter é a dessa sopa de partículas. Mas isso não significa que nada existia antes dela. Significa apenas que trata-se de uma questão à qual ainda não temos meios para responder. Muitas teorias tentaram ir ainda mais longe, mas elas não são confirmadas pela observação e permanecem no estado de puras especulações interessantes

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Iremos a MARTE?

Francis Rocard Astrofísico, responsável pelos programas de exploração do Sistema Solar no Centro Nacional de Estudos Espaciais, da França

Depois de conquistar a Lua, parece lógico que o homem caminhe so- Dbre o solo de Marte. Mas quando? Antes ou depois de 2050? Já vamos regularmente a esse planeta graças aos programas automáticos de exploração que são lançados a quase cada dois anos. Uma missão prévia robotizada de ida e volta será necessária, antes do envio de pessoas humanas, e deve partir ao redor de 2020, segundo as agências espaciais norte-americanas e européias. Essa missão colherá as primeiras amostras provenientes diretamente do solo de Marte.

De forma paralela, os norte- americanos preparam ativamente sua viagem de ida e volta a Marte… sobre a Lua, para 2018/2020. Assim que as tecnologias dessa viagem espacial estiverem testadas e confirmadas, ao redor de 2025, será preciso ainda mais dez anos para se fabricar todos os elementos necessários à viagem marciana. Assim, o homem somente pode esperar chegar a Marte lá pelo ano 2035.

Mas atenção: o programa lunar norte-americano ainda não atingiu o seu ponto de não-retorno. A não ser que as eleições presidenciais deste ano venham bagunçar tudo, chegaremos a esse ponto ao redor de 2012, quando os investimentos ligados à missão lunar estarão em fase adiantada de desenvolvimento (veículo de inserção, alunissador, etc.).

HOJE, O DESAFIO de uma viagem tripulada a Marte não pode ser enfrentado, pois ainda não dispomos das tecnologias adequadas, sobretudo as de propulsão. Segundo os dados atuais, a trajetória mais curta para Marte é percorrida em sete meses apenas para a ida. A volta provavelmente irá requerer mais tempo, pois haverá menos energia.

Além disso, antes de poder regressar, a tripulação deverá permanecer estacionada em Marte durante 11 meses, até que o planeta esteja novamente “perto” da Terra. No total, uma missão marciana durará dois anos e meio, talvez mais… Um afastamento longo é psicologicamente muito desgastante. Sobretudo porque não existirá nenhuma possibilidade de retorno urgente.

Assim, em que estado estará a tripulação ao chegar a Marte? Poderá trabalhar? Quando voltou de uma permanência de seis meses no espaço, o astronauta francês Jean-Pierre Haigneré não conseguia se levantar. Será necessário criar um sistema de gravidade artificial no interior da nave, mas ainda não existe o menor traço dessa tecnologia nos atuais estudos. Será também preciso proteger os astronautas das radiações, proporcionar-lhes comida, encontrar e reciclar a água, etc. Portanto, se a viagem a Marte significa uma fase lógica da epopéia espacial, sua tecnologia ainda precisa ser encontrada.

Existem outros UNIVERSOS?

Leonard

Susskind

Físico, professor em

Stanford (EUA) e

um dos pais da

Teoria das Cordas

O universo é, evidentemente, bem maior do que a região que podemos observar. Sabemos disso pelo fato de que ele é muito “plano”. Com efeito, quando vamos para fora, passear no campo por exemplo, para medir linhas, pontos e sobretudo ângulos de triângulos, deduzimos que a Terra é muito “plana”. O máximo que podemos dizer é que a curvatura da Terra é muito pouca. E, se a Terra é redonda, ela deve ser bem maior do que o campo que estamos explorando.

Exatamente a mesma coisa acontece em relação ao universo. Os astrônomos medem as propriedades de triângulos. Os maiores que conseguimos medir têm alguns bilhões de anos-luz de lado, e mesmo assim o espaço que ocupam nos parece muito plano. Podemos deduzir então que, sem dúvida, o universo é muito maior do que podemos ver. Mil vezes, dez vezes, ou um décimo de vez maior? Não temos como saber. Mas a teoria cosmológica da inflação sugere que ele é muitas potências de dez vezes maior.

A inflação, por outro lado, tende fortemente a criar um universo diversificado. Com essa teoria, em vez de se obter uma cobertura unida, nos encontramos diante de extraordinária manta em retalhos, composta de “meios ambientes” distintos. Cada vez mais, físicos e cosmólogos consideram que nosso universo é apenas uma ínfima parte de um conjunto imenso e incrivelmente diversificado. É praticamente certo que o essencial desse “multiverso” possui propriedades que o tornam hostil à vida. Mas, aqui e ali, lugares minúsculos (com extensão de alguns milhares de anos-luz?) poderiam ser propícios à existência de estrelas, de planetas, de átomos, de moléculas e de vida.

Estamos SÓS?

NÃO

Michel Mayor Astrofísico do Observatório de Genebra, Suíça. Um dos descobridores do primeiro exoplaneta, 51 Pegasi

Quando enumeramos todos os exoplanetas descobertos nos últimos 13 anos, não restam mais dúvidas de que todas as condições para o surgimento da vida devem existir também lá fora. Obviamente, hoje detectamos sobretudo planetas gigantes e gasosos. Mas na medida em que eles são mais fáceis de ver e que teoricamente são mais raros que os planetas rochosos – difíceis de ver -, conclui-se que estes últimos devem ser muito mais numerosos.

O estudo das estrelas jovens em zonas de formação estelar mostra que todas as estrelas possuíam, no início, um disco de concrescência, uma espécie de matéria-prima dos planetas. As condições físicas são as mesmas em toda parte. Pode-se assim deduzir que a quase totalidade das estrelas possui planetas. Consideramos os 100 a 300 bilhões de estrelas da Via Láctea, a maior parte delas acompanhada por um ou mais planetas.

Mesmo se as condições necessárias à emergência da vida forem restritivas – temperatura ideal para manter a água em estado líquido, massa-limite para manter uma atmosfera, etc. -, deve existir um número tão grande de diferentes planetas em nossa galáxia que o número de sítios habitáveis deve ser muito grande, provavelmente da ordem de dezenas de bilhões.

Uma pergunta: será que a vida se desenvolve forçosamente quando todas as condições estão reunidas? Como as experiências de laboratório não podem responder a essa questão, resta-nos a observação dos mundos extraterrestres. A vida, com efeito, trai a sua presença ao modificar a composição química das atmosferas planetárias, um índice que pode ser detectado à distância. Esta é, por sinal, a base das próximas missões espaciais, tais como a missão européia Darwin, que deverá ser lançada em 2014.

Não temos provas formais dessa outra vida: esta é a resposta científica mais sábia que podemos dar. Mas, pessoalmente, sinto que deve haver uma outra vida, que sou apenas um subproduto bastante comum do universo. Lá fora, esses subprodutos não são necessariamente evoluídos ou inteligentes, e talvez não sejam mais do que bactérias ou outras formas primitivas de vida desse imenso jogo.

SIM

André Brack Exobiologista, diretor de pesquisa avançada no Centro de Biofísica Molecular do CNRS, em Orleans, França

A credito que, como Homo sapiens, estamos sós no universo. Os seres humanos constituem o resultado de duas evoluções: uma evolução lenta, apreciada por Darwin, resultado de uma pressão de adaptação ao meio ambiente, e uma evolução pontuada, apreciada por Stephen Jay Gould, que resulta de impactos e de cataclismo.

Esses últimos são verdadeiras contingências, das quais é praticamente impossível reproduzir a cronologia. Mas é preciso permanecer atento: a prova de uma vida extraterrestre poderia acontecer dentro de dois minutos, na forma de um sinal captado pelo programa de escuta de sinais extraterrestres (o Seti) ou pela chegada de visitantes do cosmos… um tipo de prova que tem poucas chances de se concretizar!

Em revanche, é bastante provável que a vida esteja presente lá fora, sob forma bacteriana. Muito mais que seres evoluídos, procuramos essencialmente bactérias extraterrestres. Com efeito, as condições que possibilitam a aparição de vida bacteriana não são muito exigentes: elas se encontravam reunidas na Terra quando nosso planeta era muito inóspito, e intensamente bombardeado por meteoritos.

Nossa hipótese de trabalho é, portanto, que a vida apareceu sob uma forma robusta, porém simples. Graças aos progressos da astronomia, sabemos que os lugares e as condições favoráveis à vida são universais.

A química do carbono, que, tudo leva a crer, está na origem da vida sobre a Terra, pode ser encontrada em toda parte. Mas se a vida surgiu em circunstâncias extraordinárias por puro acaso, então, é improvável que ela exista em outros lugares.

Como saber, enquanto não dispusermos de outro exemplo de vida surgida fora da Terra? A pista mais séria é a exploração espacial. Talvez encontremos traços de vida fóssil em Marte. Ou seres aquáticos ao redor de hipotéticas negras chaminés vulcânicas localizadas no fundo do oceano de Europa, uma lua de Júpiter.

Antes de 2050, seremos capazes de analisar a atmosfera de planetas telúricos que as próximas missões espaciais deverão descobrir. As portas do futuro estão abertas para essa questão que assombra o espírito humano. Vale lembrar que, já no século 4 a.C., Epicuro já afirmava que a Terra é apenas um entre uma infinidade de mundos!

FINAL DOS TEMPOS?

Dois cenários são previstos pelos modelos cosmológicos: o big crunch e o big rip

Jean-Pierre Luminet Astrofísico do Observatório de Paris-Meudon, França

Todos os objetos astronômicos – planetas, estrelas, galáxias – contidos no universo terão, sim, um fim. Como mostram as projeções, a morte do Sol, por exemplo, se Tproduzirá em cinco bilhões de anos. No final dos tempos, haverá uma extinção geral de estrelas, na forma de imensos apocalipses: explosões, implosões, etc. Ocorrerá uma enorme quantidade de cataclismos que destruirão todas as formas de vida num raio de muitos anos-luz.

Por outro lado, cedo ou tarde, as estrelas não mais se formarão, pois a matéria se torna rarefeita ao longo do tempo. Agora mesmo, na nossa galáxia, existem apenas um ou dois nascimentos de estrelas a cada ano. Dentro de 20 bilhões de anos, nenhum astro se iluminará mais. O universo será cheio de estrelas extintas: anãs brancas, estrelas de nêutrons, buracos negros. Numa escala ainda mais ampla, as galáxias se desagregarão durante colisões gigantescas.

Mas o universo não é apenas o conteúdo: é também o contenedor, o espaço-tempo. Poderá também o tempo ter um fim? Os modelos cosmológicos prevêem dois cenários para o futuro.

Após a atual fase de expansão, que já dura 14 bilhões de anos, o universo será submetido a um movimento inverso de contração e de aquecimento que o levará ao big crunch (o grande esmagamento), uma teoria segundo a qual o universo começará a contrair-se, devido à atração gravitacional, até entrar em colapso sobre si mesmo. O segundo cenário é o da expansão perpétua, que diluirá e resfriará indefinidamente o universo. Essa hipótese é favorecida pelas últimas observações.

Parece mesmo que a expansão seja acelerada pela presença de uma energia repulsiva de natureza desconhecida, a “energia sombria”. O destino final do universo depende dela. Trata-se de uma constante? Ela aumenta ou diminui? Se a energia sombria decrescer no futuro, ela se tornará inferior à força da gravidade, e o universo acabará num big crunch. Se ela é superior à matéria ou constante, ela ganhará a batalha contra a gravidade. A expansão continuará para sempre. Pouco a pouco os astros extintos se converterão em buracos negros, que se evaporarão. O universo será apenas uma banheira de fótons cada vez mais frios.

Se, em revanche, a energia sombria se acelerar, o índice de expansão se tornará tão imperioso que o universo explodirá em todas as escalas: toda a matéria do universo, até mesmo os átomos, será dilacerada pela dilatação do espaço. É o que chamamos de big rip, o “grande dilaceramento”, o fim definitivo da matéria, que deixará um universo vazio, sem estrutura. Certos modelos prevêem que um fim desse tipo do universo poderá se produzir em 22 bilhões de anos. Mas, no estado atual dos nossos conhecimentos, ainda nada sabemos sobre o destino final do próprio espaço-tempo.

Devemos abandonar a TERRA?

Alfred Vidal- Madjar Astrofísico do Instituto de Astrofísica de Paris

Queiramos ou não, será preciso deixar a Terra um dia, por que o impacto da humanidade sobre o planeta se intensificará. Mas apenas uma porção ínfima poderá partir. Para ir aonde? No Sistema Solar, não será nada fácil. Na Europa (satélite de Júpiter) existe um vasto oceano, e em Marte, possivelmente, há reservas subterrâneas de água. Mas apenas pequenos grupos, como garantia da sobrevivência da espécie, poderão se instalar ali.

Em uma escala muito, muito longe, será preciso se dirigir para as estrelas. É inevitável. As sondas Pioneer e a Voyager levarão 80 mil anos para chegar à estrela mais próxima. Mas certamente, em um século ou dois, poderemos viajar mais depressa e ir mais longe. Em 50 anos os humanos já foram à Lua e construíram uma estação espacial. Preparam-se para ir a Marte dentro de 30 an

Se chegarmos a construir naves impelidas a um centésimo da velocidade da luz, precisaremos de apenas mil anos para irmos de estrela em estrela… É muito, mas talvez possamos reprogramar a duração de nossas vidas graças ao gênio genético. Ou possamos lançar mão de um congelamento controlado, o que permitiria alongar ainda mais a duração das viagens.

Podemos garantir que, em 500 anos, o homem terá visitado todos os planetas do Sistema Solar. O mais difícil são os primeiros passos. É deixar a Terra e ir a Marte. Tudo o mais, depois disso, não será muito diferente. Quando existirem pequenos e médios “acampamentos” instalados nos diferentes planetas do nosso sistema e em alguns asteróides, a humanidade se tornará indestrutível. Ela precisará de 2 a 20 milhões de anos para se instalar em todos os planetas da galáxia: quase nada na escala da vida. E, então, a vida conhecerá uma verdadeira explosão e se espalhará em todo o universo. Nada poderá detê-la.

A terra vai parar de girar?

Jacques Laskar Astrônomo do Instituto de Mecânica Celeste da França

Sim, teoricamente, em muitos bilhões de anos, após um lento processo de desaceleração. O dia durará então um ano, e o Sol aparecerá sempre na mesma posição no céu. No entanto, muito antes de se chegar lá, os terrestres – se ainda existirem – assistirão a um espetáculo extraordinário: a Lua permanecerá paralisada no céu, e a duração de um dia terrestre será equivalente a um mês lunar (que valerá então muitos meses atuais, pois a Lua terá se distanciado da Terra). Terra e Lua estarão em rotação sincrônica. Essa primeira etapa chegará em alguns bilhões de anos.

A causa desse dia sem fim é dupla: de um lado, a presença da Lua e do Sol; de outro lado, o fato de a Terra ser um planeta maleável. As marés lunares (ou solares) deformam a Terra, que está longe de ser um corpo totalmente rígido. Como a Terra gira ao redor de si mesma mais rapidamente que a Lua ao redor da Terra, essa deformação não acontece na direção da Lua, o que exerce um efeito de freio. Uma parte da energia de rotação da Terra é, assim, dissipada. Resultado: a velocidade de rotação do planeta sobre si mesmo diminui.

Dito de outro modo, a duração do dia aumenta. Quando as duas velocidades estão sincronizadas, chega-se a uma situação de equilíbrio, e tudo pára. O dia dura então um mês lunar. Mas, como as marés solares continuam a agir, a duração do dia aumenta até atingir o período de revolução da Terra ao redor do Sol. Sol e Terra entram então em rotação sincrônica.

Devemos instalar um telescópio na LUA?

Catherine Cesarsky Astrofísica da ESO, Organização Européia para Pesquisas Astronômicas no Hemisfério Austral

E sta é uma pergunta cada vez mais séria e freqüente para os astrônomos, sobretudo nos Estados Unidos, depois que o presidente George Bush declarou prioritários para a Nasa projetos de reconquista lunar e de exploração planetária. A superfície da Lua, à primeira vista, pode parecer um lugar ideal para a observação astronômica. A Lua quase não tem atmosfera, as radiações provenientes dos astros não são absorvidas, as imagens óticas e em infravermelho não são ofuscadas. A ausência de ionosfera evita os cortes de ondas de rádio de baixa freqüência, que carregam informações interessantes para a cosmologia e a compreensão dos mecanismos de aceleração de partículas.

Para resumir, a Lua oferece a possibilidade de se fazer uma astronomia em todos os comprimentos de onda, e em solo fixo! Podemos sonhar com telescópios ou com redes de equipamentos extremamente grandes, capazes de analisar planetas como a Terra em outros sistemas solares. Ou detectores de raios cósmicos a 1015 elétron-volts, de rádio interferômetros de baixíssima potência, de instrumentos capazes de detectar as ondas gravitacionais produzidas, por exemplo, por ocasião da fusão de dois buracos negros.

Dúvidas, contudo, podem surgir: a poeira lunar não irá rapidamente emporcalhar as belas superfícies coletoras e os delicados mecanismos dos instrumentos? Estamos certos de que a face oculta da Lua possibilitará uma radioastronomia livre dos parasitas surgidos da atividade humana? Sobretudo, levando-se em conta os impressionantes avanços da tecnologia, não seremos já hoje mais capazes de fazer melhor e mais barato com telescópios em órbita do que montados na superfície da Lua? A única coisa certa é que a instalação de telescópios ou de equipamentos gigantes em rede oferecerão sempre uma melhor relação qualidade- preço se decidirmos construílos… na Terra.

Linha do tempo

1948 – George Anthony

Gamow formaliza a

hipótese do big bang.

– Inauguração do telescópio

Hale, em Monte Palomar,

EUA.

– Descoberta da radiação

X do Sol por H. Friedman.

– Os soviéticos lançam o

foguete R-1.

1951 – Jan H. Oort

apresenta novas provas

da estrutura em espiral da

Via Láctea.

1952 – Lançamento

da primeira sonda espacial

francesa, a Véronique.

1954 – Descoberta da

primeira radiogaláxia,

Cygnus A.

1957 – Os soviéticos

põem em órbita o Sputnik

1, primeiro satélite artificial,

e, a seguir, o Sputnik

2, com a cadela Laika.

1958 – Criação da

agência espacial Nasa.

1959 – Os soviéticos fazem as primeiras fotos

da face oculta da Lua.

1960 – Descoberta do primeiro quasar.

1961 – O russo Yuri Gagarin é o primeiro homem no espaço.

1962 – A sonda Mariner II sobrevoa pela primeira vez outro planeta além da Terra: Vênus.

1963 – Valentina Terechkova é a primeira mulher cosmonauta, a bordo da Vostok 6.

1965 – A sonda Mariner IV sobrevoa Marte e fotografa numerosas crateras. – O foguete Diamant lança o satélite francês Asterix. – Robert Wilson e Arno Penzias descobrem o raio térmico cosmológico, mais uma comprovação da teoria do big bang.

1967 – A sonda Venera 4 é o primeiro objeto terrestre a atingir a superfície de Vênus. – Detecção dos primeiros pulsares (estrelas de nêutrons em rotação).

1969 – Neil Armstrong e Edwin Aldrin são os primeiros homens a pisar na superfície da Lua.

1970 – A sonda Venera

7 pousa no solo de

Vênus e emite sinais durante

22 minutos.

1971 – Primeiro indício da existência de um buraco negro, no centro da fonte de raios X Cygnus X1. – Primeira estação orbital soviética Salyut 1.

1972 – Lançamento da sonda Pioneer 10 em direção a Júpiter. Ela carrega uma placa gravada com símbolos, destinada a eventuais seres vivos.

1973 – Colocação em órbita da primeira estação espacial norteamericana, Skylab.

1975 – Primeiras fotos tomadas a partir do solo de Vênus pelas sondas Venera 9 e Venera 10.

1976 – A Viking 1 (dos Estados Unidos) é a primeira sonda a conseguir aterrissar suavemente em Marte.

1979 – Surge a hipótese do universo inflacionário, de Alan Guth.

1981 – Primeiro vôo da nave Columbia.

1982 – Primeiro vôo do astronauta francês Jean- Loup Chrétien. Ele efetuou um périplo de oito dias a bordo da Saliut 7.

1986 – Explosão da nave espacial Challenger, no seu décimo vôo. Sete astronautas morrem na explosão. – Entrada em órbita da estação espacial Mir, pelos soviéticos. – Encontro de cinco sondas espaciais, dentre as quais a sonda européia Giotto, com o cometa Halley.

1987 – Descoberta, na Grande Nuvem de Magalhães, de uma supernova, a mais brilhante observada desde 1604.

1989 – Lançamento do satélite Cobe, por um foguete Delta, que cartografa a radiação fóssil do universo.

1990 – Colocado em órbita o Hubble, primeiro telescópio espacial.

1995 – Uma nave espacial norte-americana se acopla à estação espacial soviética Mir. – Descoberta do primeiro exoplaneta, batizado 51 Pegasi, pelos astrônomos Michel Mayor e Didier Queloz. – Colocada em órbita de Júpiter a sonda Galileo.

1996 – Explosão do lançador europeu Ariane V, no momento do seu vôo inaugural.

1997 – Primeiro robô marciano, Sojourner.

1998 – Primeira etapa da construção da Estação Espacial Internacional com o módulo Zarya.

2001 – Dennis Tito é o primeiro turista espacial.

2003 – Catástrofe da nave espacial Columbia. – Primeiro astronauta chinês no espaço.

2004 – A sonda Voyager 1 sai do Sistema Solar. – A sonda européia Huygens pousa com sucesso em Titã, satélite de Saturno, e de lá fotografa o Sol.

2006 – Plutão perde seu status de planeta.

2007 – Descoberta do primeiro exoplaneta “potencialmente habitável”, de tipo terrestre.