Um novo estudo sugeriu que os pangolins (um mamífero assemelhado ao tamanduá) são o elo mais provável entre o coronavírus, morcegos e humanos, informa a rede noticiosa alemã DW. Segundo os pesquisadores, os pangolins têm coronavírus 99% idênticos ao 2019-nCoV. Isso os torna hospedeiros reservatórios muito prováveis ​​para o vírus.

As especulações iniciais apontavam para frutos do mar, cobras e outro coronavírus transmitido por morcego da província de Yunnan, no sudoeste da China. Mas pesquisadores da Universidade Agrícola do Sul da China descobriram que uma sequência genética do vírus dos pangolins é 99% idêntica ao coronavírus que atualmente infecta mais de 31 mil pessoas. Isso significa que, antes de chegar aos seres humanos, o vírus provavelmente foi transmitido de morcegos para o pangolim, o animal mais comercializado ilegalmente no mundo.

Segundo pesquisadores, os morcegos são a fonte original mais provável do vírus mortal. Para esses cientistas, características genéticas únicas dos morcegos os tornam hospedeiros ideais do coronavírus.

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Pelo menos 630 pessoas já morreram por causa do coronavírus conhecido como 2019-nCoV. Ele foi detectado pela primeira vez em dezembro de 2019 em um mercado de animais vivos em Wuhan, China.

Sem surpresa

A confirmação de que a origem do vírus está nos morcegos não surpreenderia os pesquisadores. Esta não seria a primeira vez que o mundo testemunharia um surto de vírus transmitido por esse mamífero. Pensa-se que o ebola tenha se originado em morcegos, bem como dois outros tipos de coronavírus – a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que surgiu na Ásia em 2003 após transitar do morcego para a civeta (tipo de gato selvagem) e daí para humanos, e a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), que infectou cerca de 2.500 pessoas desde 2012, após passar por camelos.

Yan Xiang, professor de virologia da Universidade do Texas, observou que os morcegos são o segundo mamífero mais comum depois dos roedores, representando quase 20% de todas as espécies de mamíferos. Há mais de 1.300 espécies de morcegos, e algumas delas podem viver até 40 anos.

Segundo Xiang, dois elementos-chave da resposta imune do mamífero, chamados “imunidade inata”, merecem atenção: suas altas temperaturas corporais e níveis mais altos da proteína interferon, que sinalizam a ativação de um estado antiviral.

Morcego: mais forte candidato a origem do vírus. Crédito: Steve Bourne/Wikimedia

Os morcegos são o único mamífero com capacidade de voar, o que aumenta sua temperatura corporal e taxa metabólica e coloca seus corpos em constante estado de “febre”. Alguns cientistas acreditam que os morcegos suprimiram seu sistema imunológico, o que lhes permite tolerar mais vírus.

Os intermediários

Os coronavírus são doenças virais zoonóticas, o que significa que elas são transmitidas de animais para seres humanos. Enquanto no animal, o vírus passa por uma série de mutações genéticas que permitem infectar e multiplicar-se dentro de seres humanos.

Xiang se disse “convencido” da ligação entre o coronavírus e os pangolins, conforme sugerido pelo último estudo dos pesquisadores da Universidade Agrícola do Sul da China, que estudaram mais de 1.000 amostras de animais selvagens. Embora o estudo ainda esteja para ser publicado, o cientista afirmou que as evidências de suas alegações “já existem” em um artigo de outubro de 2019, o qual publicou sequências genômicas de pangolins doentes contrabandeados da Malásia para a China, encontrando evidências de coronavírus.

O novo coronavírus provavelmente poderia ser “um híbrido de dois coronavírus muito semelhantes aos sugeridos em um artigo recente”, afirmou Xiang. “O vírus provavelmente não foi capaz de infectar humanos diretamente através de morcegos, então teve de passar por um animal intermediário para sofrer mais mutações a fim de infectar humanos”, disse ele à DW. O animal intermediário que facilitou o híbrido dos dois vírus é “provavelmente o pangolim”, considera Xiang, mas ele enfatiza que, nesse estágio, esse elo era especulativo e precisaria ser confirmado por estudos adicionais.

Embora seja difícil prever a devastação de tais surtos, Stuart Neil, diretor de virologia do King’s College London, afirmou que “no grande esquema das coisas”, eventos como esse “não acontecem com muita frequência”: “Provavelmente estamos expostos a esses vírus de outras espécies com muito mais frequência do que as transferências de novos vírus de animais e essas epidemias sustentadas”, disse ele à DW.

A razão para isso, segundo Neil, está em “nossos mecanismos de defesa intrínsecos”. Ele não existe como um vírus inerentemente mortal, porque o que pode ser inofensivo para uma espécie, como mostram os inúmeros coronavírus que circulam em morcegos, pode ser mortal para outra. “É inteiramente dependente dos mecanismos de defesa das espécies hospedeiras e se elas podem viver em harmonia com um vírus ou não.” Mas essas epidemias estão se tornando mais prováveis, alertou Neil. Ele lembrou que os humanos invadem cada vez mais os habitats de animais selvagens e frisou: “(…) os humanos são expostos a esses vírus por causa de como eles se comportam e interagem com os animais”.