Floresta tropical em Sumatra, Indonésia, uma das regiões do mundo onde o desmatamento avança mais implacavelmente. À direita, membros da comunidade waorani, do Equador, uma das 2 mil culturas indígenas que dependem da floresta para sobreviver.

As florestas são vitais para a sobrevivência e o bem-estar dos 7 bilhões de seres humanos. Elas proporcionam abrigo, alimentos, remédios, água potável e serviços ambientais indispensáveis, como a conservação da biodiversidade, a renovação genética, o abastecimento de água, a polinização, o sequestro de carbono, o controle de inundações e a proteção do solo contra a erosão e a desertificação. Além disso, desempenham um papel crucial na manutenção da estabilidade do clima sob o impacto de fortes mudanças.

Todo esse valor, difícil de ser estimado economicamente e de ser “precificado” monetariamente, vem sendo solenemente desprezado, sobretudo nos países tropicais onde as florestas ainda existem em relativa abundância. Em contraste, vários países desenvolvidos de clima frio e temperado – os que não destruíram todas as florestas no passado – hoje preservam zelosamente as suas e investem para recuperá-las, como o Japão, a Alemanha e a França. A urgência em reverter o declínio progressivo das florestas no mundo levou a Assembleia Geral da ONU a declarar 2011 como o Ano Internacional das Florestas, a fim de elevar a conscientização sobre sua gestão sustentável e conservação.

O esforço é mais do que necessário. Nada menos do que 1,6 bilhão de pessoas, em torno de 22% da população mundial, dependem das florestas para a subsistência, entre as quais 2 mil culturas indígenas. Além de fornecer comida e abrigo, elas oferecem inúmeros produtos valiosos, como madeira, lenha, frutas, genes, remédios, enzimas, resinas e óleos.

Só a retenção de gás carbônico pela biomassa florestal, evitando sua emissão na atmosfera, vale US$ 3,7 trilhões, segundo o estudo Rumo à Economia Verde, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Já o valor da biodiversidade para a produção de comida, fibras, óleos e a polinização da agricultura chega a US$ 190 bilhões por ano. Para a inovação médica e a renovação genética, vitais para o agronegócio e a indústria farmacêutica, as florestas movimentam mais US$ 640 bilhões. Tudo isso sem falar do valor intangível, imaginário e simbólico da preservação dos espaços naturais selvagens num mundo cada vez mais desprovido deles.

As florestas são o lar de milhões de espécies de plantas e animais (acima, à direita, rã de olhos vermelhos da América Central). O desmatamento em encostas de montanhas pode acarretar desastres, como os deslizamentos ocorridos na zona serrana do Rio de Janeiro no início deste ano (página ao lado).

Embora as florestas sejam ecossistemas muito produtivos, a expansão das fronteiras agrárias nos países em desenvolvimento fomenta elevadas taxas de desmatamento, respondendo por cerca de um quarto de emissões antropogênicas (de origem humana) do gás carbônico (CO2), o principal gás do efeito estufa que esquenta o planeta. Só no Brasil, entre 2000 e 2005, cerca de 7 milhões de hectares de florestas (70 mil quilômetros quadrados, ou os Estados do Rio de Janeiro e de Alagoas somados) foram perdidos.

Como a maioria dos bens naturais que não tem “dono” – como o ar, a água, o clima, o sol e o mar – os serviços florestais são usados por todos e depredados por todos até o momento em que a natureza cobra a conta, como no caso dos deslizamentos de terra nas encostas desmatadas.

Fonte de mais de 40% do oxigênio produzido no mundo, as florestas são “sumidouros” de carbono. Por meio da fotossíntese, elas transformam carbono em oxigênio. Em escala global, estima-se que os ecossistemas florestais contenham cerca de 80% do carbono terrestre acima do solo e 40% do localizado abaixo do solo. Há mais carbono armazenado nas florestas do que na atmosfera terrestre.

Cerca de 20% das emissões de CO2 provêm de atividades relacionadas ao desmatamento e à degradação florestal. O índice excede a totalidade da contribuição do setor dos transportes para a poluição mundial. O desflorestamento é hoje a segunda maior fonte de emissões de gases-estufa no mundo, só perdendo para os combustíveis fósseis. Deter ou diminuir o desmatamento é a alternativa mais barata de ação global no campo da mitigação climática.

As principais ameaças à floresta, segundo a fao , são o crescimento populacional e a necessidade de terras para a agropecuária

Apesar de toda a destruição já efetuada, as florestas tropicais, subtropicais, mediterrâneas, temperadas e boreais são o lar de milhões de espécies de plantas, animais, insetos e genes. A biodiversidade que resta no planeta depende muito dos ecossistemas florestais saudáveis. Embora cubram apenas 10% da superfície terrestre total, as florestas servem de abrigo para mais de 60% de toda a biodiversidade terrestre e de água doce.

Outra contribuição vital das florestas é a sua capacidade de processar o ciclo da chuva, devolvendo vapor para a atmosfera pela evapotranspiração. A proximidade de uma floresta é garantia de chuva para a agricultura. A chuva que cai no Centro-Oeste e no Sul e irriga o agronegócio brasileiro é produzida pela Floresta Amazônica. A vegetação também reduz o risco de inundações e deslizamentos de terra associados a desastres naturais, como terremotos e furacões.

Segundo a FAO, as principais ameaças às florestas são o crescimento populacional e a necessidade de terras para o pastoreio e a agricultura, em particular para cultivos destinados à produção de biocombustíveis, como lenha e óleo de palma. Para expandir a pecuária extensiva, centenas de milhares de hectares de floresta são queimadas para produzir capim. Estima-se que o desmatamento cause a perda de aproximadamente cem espécies da flora e da fauna locais por dia.

Manter os ecossistemas florestais aumenta a resiliência do planeta à mudança climática. As mais eficientes opções para a conservação das florestas são a implantação de áreas protegidas e unidades de conservação. No Brasil, a extensão das reservas protegidas tem aumentado consistentemente ao longo dos anos. Há várias iniciativas em curso para promover projetos de prevenção ao desmatamento e de uso sustentável das florestas. Um deles é o Fundo Amazônia, criado em 2008, com o objetivo de captar doações para projetos na Amazônia. O governo federal pretende arrecadar US$ 21 bilhões com o fundo, dos quais U$$ 136 milhões já foram oferecidos pela Noruega e pela Alemanha.

Reflorestamentos e novos plantios

A França foi um dos primeiros países a perceber a importância da preservação florestal. No fim do século 19, suas florestas ocupavam 10% da área original. A falta dessa cobertura favoreceu deslizamentos de terra em áreas montanhosas que causaram milhares de mortes. O governo lançou, então, vários programas de reflorestamento e passou a promover o manejo racional das florestas. Atualmente, as florestas ocupam quase 30% da área do país, com um crescimento anual médio de 300 km2.

No Japão, no início do século 20, o governo adotou a ideia de proteger as montanhas com florestas, depois de inundações causadas pelo desmatamento. Os Alpes Japoneses, que atravessam a maior ilha do arquipélago, Honshu, foram reflorestados. Surgiram programas de proteção das encostas e cooperativas dedicadas a administrar florestas de modo sustentável. Hoje, 65% da área do país está coberta de floresta, um dos maiores índices do mundo.

A Campanha Bilhões de Árvores, lançada em 2006 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pelo World Agroforestry Center, havia plantado mais de 7,4 bilhões de árvores em 2009, em 170 países, e planeja chegar a 13 bilhões no total.

Muro Verde é um projeto da União Europeia (UE) e de países africanos para plantar árvores nos limites norte e sul do Saara, a fim de conter a expansão do deserto e favorecer o surgimento de um modo de vida sustentável na região. Um programa semelhante, também com o apoio da UE, está sendo desenvolvido na China.

Mais informações

Site oficial do Ano Internacional das Florestas (em inglês): www.un.org/en/events/iyof2011/