Socorristas e voluntários ajudaram a resgatar de cães e gatos a cavalos e tartarugas em áreas atingidas por graves inundações que deixaram mais de 180 mortos. Muitos animais se perderam dos donos e aguardam em abrigos.A tragédia provocada por chuvas torrenciais e inundações que assolaram o oeste da Alemanha há duas semanas, deixando ao menos 181 mortos, não afetou apenas as pessoas que vivem nas áreas atingidas, mas também animais.

Sandra Bischoff estava prestes a ir para a cama quando soube da enchente que inundou estábulos de cavalos no vale do rio Erft, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, um dos mais afetados pela catástrofe. Sandra, que mora em Colônia, tem três cavalos em um estábulo em Leverkusen e esteve em contato constante com outros criadores de cavalos através de redes sociais.

Sandra organizou imediatamente um grupo de socorristas voluntários e três carros com reboques para cavalos. No entanto, como apenas dois motoristas tinham licença para tal transporte, a mãe de Sandra, de 70 anos, que está habilitada a dirigir carros com reboques para cavalos, se prontificou e então Sandra, sua filha Margo, sua amiga Lisa e a mãe de Sandra se dirigiram na mesma noite até a área dos alagamentos.

“Demoramos muito tempo para chegar ao vale do Erft, estava chovendo aos cântaros. Quando finalmente nos aproximamos dos estábulos, vimos um enorme lago. A água estava acima de nossos joelhos, luzes azuis das equipes de resgate e da polícia brilhava no escuro. Os cavalos estavam muito assustados, não entendiam o que estava acontecendo”, diz Sandra.

Rapidamente, as mulheres começaram a trazer os cavalos para os reboques. “Não foi fácil porque éramos estranhas para eles, mas nossa experiência nos ajudou a conquistá-los. Não sei quanto tempo levamos para resgatar seis cavalos. Mas a polícia e os bombeiros nos solicitaram que saíssemos da área inundada para não nos expormos a um perigo ainda maior.”

Foi assustador, claro, mas a vontade de salvar os cavalos foi mais forte, enfatiza Lisa Herbst, de 30 anos. “Só nos acalmamos quando deixamos os cavalos no estábulo seco e seguro em Leverkusen.”

A água baixou, mas a ajuda continua

Os cavalos evacuados foram pegos por seus proprietários poucos dias depois, mas Sandra não parou de ajudar animais feridos e seus proprietários.

Em redes sociais, ela organiza alimentos para cavalos e medicamentos para os animais da área da catástrofe. Por causa da alta umidade, há muitos insetos, por isso são necessárias máscaras especiais, sprays e pomadas para mantê-los afastados. Também sedativos são necessários.

Sandra diz que a disposição das pessoas para ajudar é muito grande. “Meu celular toca constantemente, e as redes sociais estão cheias de ofertas de ajuda. Agora é uma questão de coordenar esta ajuda e organizar a entrega de alimentos e medicamentos.”

No entanto, ela e seus familiares definitivamente não querem ser declaradas heróis. “Eu amo muito os animais e estou sempre pronta para ajudá-los. Tenho certeza de que meus colegas teriam feito o mesmo se eu e meus animais fôssemos atingidos. As áreas afetadas precisarão de nossa ajuda por muito tempo”, diz.

Resgates 24 horas por dia

Quem também participou dos resgates foi a associação de proteção dos animais Tierrettung Essen, cuja equipe está disponível a qualquer hora do dia. A associação já ajudara nas áreas afetadas por enchentes no estado da Saxônia-Anhalt em 2013. Para poder ajudar os animais rapidamente, são necessários profissionais com equipamentos especiais. Até hoje, a organização sediada em Essen já resgatou cerca de 1.600 animais.

“Temos equipamentos novos, modernos e muito profissionais, que garantem a proteção dos socorristas de animais durante o resgate, além de materiais como barco, roupas especiais, pranchas de recuperação, suportes de natação para cães e para o resgate de animais de estimação na água. Temos veículos especiais off-road que nos permitem chegar a lugares remotos”, enfatiza o presidente da Tierettung Essen, Stephan Witte.

Certa noite, os socorristas de Essen receberam uma ligação de um proprietário de nove pôneis. Ele e seus animais estavam no meio do alagamento. O serviço de resgate enviou imediatamente três equipes para Linnich, no distrito de Düren, a 115 quilômetros de Essen. Os socorristas avaliaram a situação, vestiram seus macacões impermeáveis e partiram na escuridão para procurar os animais.

Por volta das 3 horas da manhã, dois pôneis foram encontrados e trazidos em segurança para terra firme. “Depois disso, a forte correnteza tornou impossível aos salvadores resgatar mais pôneis”, relata Stephan. “Felizmente, os animais restantes se salvaram em uma colina. A operação teve que ser abortada porque havia um perigo agudo para as vidas dos socorristas. O nível da água durante a operação de resgate estava entre um e dois metros.”

Missão especial para um gato doente

Há alguns dias, um casal de idosos de Ahrweiler, cuja casa havia sido inundada, chamou os socorristas de Essen. A equipe conseguiu salvar seu gato doente, de 14 anos, mas não a medicação e a comida especial.

Mesmo exaustos, os socorristas decidiram sem delongas organizar imediatamente os medicamentos e a comida para levá-los a Ahrweiler no mesmo dia, conta Stephan. O casal não teve que pagar por nada.

“Nunca esqueceremos quão emocionante foi a entrega, depois que a idosa nos abriu a porta completamente destruída”, diz Stephan. A dona do gato permitiu a publicação das fotos para mostrar como a situação foi dramática, disse ele.

Abrigos de animais lotados

A ajuda dos socorristas ainda será necessária por um longo período de tempo. Muitos animais de estimação foram levados para longe pela água ou se perderam de seus donos ao fugirem da enchente. Animais sobreviventes não conseguem encontrar seu caminho de volta para casa, ao mesmo tempo em que são procurados pelos donos.

Os animais perdidos estão sendo recolhidos e entregues em abrigos de animais. Instalações superlotadas abrigam aves, tartarugas, coelhos, gatos e cães à espera de serem buscados pelos donos, o que pode demorar semanas ou meses. Trabalhadores dos abrigos e socorristas ainda têm muito trabalho pela frente, e seus telefones não param de tocar.