Ônibus de Estocolmo movido a etanol circula pelas ruas da cidade. O sistema de transporte coletivo da capital sueca já dispõe de uma frota de 400 veículos que utilizam esse biocombustível. A maior parte do etanol usado no país sai do Brasil.

Enquanto muitos países choramingam que é impossível reduzir sua emissão de gases aos níveis (hoje considerados insuficientes) estabelecidos pelo Protocolo de Kyoto, a Suécia se encontra na posição oposta. Em 2007, ela foi eleita pelo segundo ano consecutivo a nação que mais fez para salvar a Terra, de acordo com a organização ambientalista alemã Germanwatch. Entre 1990 e 2006, esse país escandinavo cortou suas emissões de carbono em 9%, e nem por isso deixou de fazer sua economia crescer: o aumento registrado foi de 44% em preços fixos no período.

Em reconhecimento aos avanços que a Suécia já havia conquistado na área ambiental, o acordo de Kyoto previa até que o país aumentasse suas emissões em 4%. Em vez disso, porém, o parlamento sueco decidiu cortar mais 4%. Para Emma Lindberg, especialista em mudança climática da Sociedade Sueca de Conservação da Natureza, essa atitude foi tomada levando-se em conta uma diretriz: “Precisamos fazer o que é bom para o ambiente porque é bom para a Suécia e sua economia.”

Os especialistas acreditam que a essência do êxito sueco está na criação da taxa de carbono, em 1991. Para cada litro de combustível consumido pelo veículo, o usuário desembolsa um adicional de 2,34 coroas (cerca de R$ 0,65). Embora muitas indústrias importantes consigam ressarcimento ou isenção desse gasto, o resultado ainda é bem satisfatório: “Nossas emissões de carbono seriam 20% mais altas sem a taxa”, afirma Andreas Carlgren, ministro sueco do Meio Ambiente.

Embora o país já demonstrasse ter adquirido consciência do problema logo depois do primeiro choque do petróleo, nos anos 1970, Emma Lindberg afirma que foi a mordida no bolso representada pela taxa de carbono que levou a sociedade a procurar alternativas ambientalmente mais saudáveis. Hoje elas se multiplicam Suécia afora. Resíduos de madeira de florestas ou de indústrias da área, por exemplo, substituíram o petróleo e o carvão no aquecimento doméstico do ar e da água. Linköping, a quinta maior cidade do país, movimenta sua frota de ônibus, caminhões de lixo, uma linha de trem e alguns táxis particulares com biogás proveniente do metano obtido de bois abatidos. Na capital, Estocolmo, a Estação Central planeja usar o calor corporal de seus cerca de 250 mil usuários diários para aquecer a água destinada a um novo edifício vizinho. Até o rei Carlos Gustavo XVI está sintonizado com a questão: a fim de apoiar uma campanha de eficiência energética lançada em abril, ele ordenou que todas as luzes dos palácios reais ficassem apagadas durante uma hora.

O rei Carlos Gustavo XVI deu exemplo aos cidadãos suecos: por ocasião de uma campanha de eficiência energética desenvolvida pelo governo, ele instruiu as pessoas que estavam nos palácios reais a manter as luzes apagadas durante uma hora.

Dona da maior frota de carros “verdes” da Europa (mais de 72 mil veículos), a Suécia é o maior importador de etanol no continente e o quinto maior importador do produto made in Brazil. Quase todos os automóveis flex do país são movidos pelo biocombustível tupiniquim. O governo quer fazer toda a frota sueca circular em 2020 usando apenas combustíveis renováveis.

A paradoxal expansão econômica sem alteração significativa no consumo de energia ocorreu graças ao crescimento de setores como o de serviços. Nesse sentido, as áreas que apresentaram maior desenvolvimento são bem mais econômicas do que as indústrias de papel e outras que consomem energia intensivamente.

Nem tudo são flores, porém. Os suecos adoram os famigerados utilitários esportivos, o que coloca a poluição veicular do país em destaque entre os membros da União Européia. Além disso, muitos ambientalistas alegam que o governo já estaria sinalizando que a disciplina ambiental poderia ser afrouxada – o primeiro-ministro, Fredrik Reinfeldt, estaria pleiteando que a União Européia flexibilizasse as proporções de cortes nas emissões de carbono, ou seja, requisitando que as reduções fossem mais severas fora do bloco do que dentro dele. Mas Andreas Carlgren desmente o desinteresse oficial: segundo ele, a flexibilização seria a forma mais eficiente de reduzir as emissões aos níveis europeus e de transferir tecnologia para os países em desenvolvimento.

De qualquer forma, o povo sueco tem orgulho da condição de liderança em assuntos ambientais construída pelo país, assegura Emma Lindberg. Talvez essa conscientização seja a maior garantia de que as medidas da Suécia a favor do meio ambiente sejam um caminho sem volta.

A forma sueca de reduzir emissões

• Toda a eletricidade consumida no país tem origem hidrelétrica ou nuclear.

• Criada em 1991, a taxa de carbono está hoje em 2,34 coroas (R$ 0,65) por litro.

• Desde abril de 2007, os suecos têm um abatimento de 10 mil coroas (cerca de R$ 2.765) na compra de carros “verdes”. Esses veículos também asseguram desconto de 30% na taxa de registro, isenção do imposto sobre congestionamento (ver item seguinte) e até estacionamento grátis.

• Estocolmo, a capital do país, instituiu um imposto sobre congestionamento em 2007. Quem quiser entrar ou sair da área central da cidade tem de pagar 10, 15 ou 20 coroas (entre R$ 2,76 e R$ 5,52).

• Os principais postos de gasolina são obrigados a oferecer pelo menos um tipo de combustível renovável, como etanol ou biogás.

• Uma lei sobre mudança climática a ser apresentada em setembro deverá promover o transporte de carga por ferrovia e aumentar o desconto na compra de carros “verdes”.