Arquipélago de 332 ilhas no Oceano Pacífico, Fiji, que ocupou a presidência da última reunião da Convenção do Clima das Nações Unidas, na Alemanha, conhece bem os efeitos das mudanças climáticas. Tanto é que o país foi o primeiro a ratificar o Acordo de Paris. Portanto, quando o presidente americano, Donald Trump, anunciou em junho a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, não surpreendeu que Fiji, juntamente com outras duas nações do Pacífico, Ilhas Marshall e Tuvalu, mostrassem seu desapontamento e “angústia” com a decisão.

Enquanto para muitos cidadãos do resto do mundo as alterações climáticas são um evento distante ou inexistente, os habitantes desses países vivem, hoje, situações dramáticas. Segundo um estudo publicado pela revista Environmental Research Letters, cinco ilhas do arquipélago das vizinhas Ilhas Salomão já desapareceram devido à subida do nível médio do mar. Outras seis ilhotas passam por um processo de “recessão costeira severa”.

Segundo o Banco Europeu de Investimentos (BEI) – um grande financiador multilateral da ação climática com fortes investimentos nesses países –, “o aquecimento global ameaça a própria existência das pequenas ilhas, e não apenas devido à subida do nível do mar. Os fenômenos meteorológicos extremos são cada vez mais frequentes e prevê-se que venham a aumentar em intensidade. As infraestruturas de abastecimento de água são facilmente destruídas por tempestades, enquanto as marés vivas e a subida paulatina do nível do mar provocam a intrusão marinha e a salinização dos lençóis freáticos. Isso afeta o turismo, que sustenta a economia de inúmeras ilhas pequenas, causando efeitos devastadores nos meios de subsistência que perduram muito para além de abrandarem os ventos. Todos esses fatores poderão tornar as pequenas ilhas inabitáveis, antes mesmo de serem engolidas pelo mar”.

Os efeitos das mudanças climáticas não se restringem ao aumento do nível médio do mar. Vários países das Américas, Europa e Ásia têm vivido ciclones, enchentes e incêndios que nos mostram uma situação inesperada e para qual não estávamos preparados. Mesmo para quem acompanha de perto esse tema, era normal trabalhar com cenários e previsões mais gravosas para os anos de 2100 ou 2050, e, nesse contexto, as metas de redução de emissões mais ambiciosas estão ainda centradas na segunda metade do século. Mas a realidade está mostrando quão conservadores estamos sendo e que o mundo precisa atuar mais rapidamente.

Embora a opinião pública ainda não esteja de fato ativa sobre esse assunto, assistimos a movimentos surpreendentes e ao surgimento de líderes internacionais comprometidos com o futuro do planeta. Em outubro, na abertura do 19.º Congresso do Partido Comunista Chinês, o presidente Xi Jinping dedicou parte de seu discurso ao que chamou de “civilização ecológica”, mostrando o enorme esforço do país na redução do consumo de recursos naturais e de emissões de carbono.

O Brasil tem sido uma referência nessa área. O Itamaraty e os negociadores do país compõem uma equipe altamente respeitada e que muito vem contribuindo para o progresso das conversações, tendo sido elementos-chave para o sucesso do Acordo de Paris. Além disso, as metas de redução de emissões do Brasil são ambiciosas: 37% de redução em 2025 e 43% em 2030.

A reunião de novembro da Convenção do Clima da ONU nos traz um real sentido de urgência. Espero que os vários atores sociais (governo, empresas e ONGs), líderes de opinião e população em geral, interessem-se de fato pelo tema e abracem a causa de um futuro comum, já que o futuro está chegando mais cedo.