A Lituânia foi a primeira a se torna independente, e o último foi o Cazaquistão. Exposição ricamente ilustrada em Berlim conta a história de altos e baixos do colapso do império soviético.A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), fundada em 1922, não chegou a completar seu 70º aniversário. O desejo de liberdade e independência era tão grande nos estados bálticos, no Cáucaso e na Ásia Central que, entre março de 1990 e dezembro de 1991, 15 novos países surgiram ou voltaram a existir.

O Muro de Berlim caiu ainda mais cedo, em 9 de novembro de 1989. Quase um ano depois, a Alemanha, que estava dividida entre Leste e Oeste desde o fim da Segunda Guerra Mundial, celebrou sua reunificação graças à revolução pacífica que ocorreu na Alemanha Oriental.

O parteiro e coveiro Mikhail Gorbatchov

O movimento de liberdade no centro e no sudeste da Europa fez com que a esfera de influência soviética e partes de seu próprio império desaparecessem do mapa político.

Esse ponto de inflexão foi desencadeado pelo comunista reformista Mikhail Gorbatchov que, como líder do Kremlin desde 1985, deu início a um novo rumo com a Glasnost (transparência) e a Perestroika (reestruturação) – um curso que, ao chegar ao seu final, fez com que a União Soviética se tornasse história. Mas, mesmo 30 anos depois, os vestígios da desintegração daquela que era então a segunda superpotência ao lado dos Estados Unidos são visíveis e palpáveis.

O legado distribuído de forma desigual ainda alimenta esperanças e sonhos, mas também é a causa de desentendimentos e guerras, como na Ucrânia. A exposição fotográfica Postsowjetische Lebenswelten. Gesellschaft und Alltag nach dem Kommunismus (Mundo pós-soviético. Sociedade e cotidiano após o comunismo, em tradução literal), que pode ser vista na praça Steinplatz, em Berlim, desde 15 de setembro, é sobre esses opostos.

O projeto – idealizado pela Fundação Federal para o Estudo da Ditadura Comunista na Alemanha Oriental e o portal online dekoder.org, especializado em Rússia e Belarus – oferece um trabalho educacional e cultural que pode ser encomendado em forma de banners e em várias línguas: além de alemão e russo, inglês, francês e espanhol.

Foco para além da Rússia

Os 120 banners, que são acompanhados por textos curtos e códigos QR que levam a vídeos no YouTube, ilustram todo o espectro da vida cotidiana e da sociedade: edifícios pré-fabricados e cultura pop, religião e culto à personalidade, guerra e crime, pobreza e luxo.

O autor da exposição – e da publicação complementar em inglês-alemão publicada pela Editora Metropol – é o historiador especializado em Leste Europeu Jan Behrends, do Centro Leibniz para Pesquisa Contemporânea (ZZF), de Potsdam, na Alemanha.

“Você tem muitas surpresas quando desvia o olhar da Rússia e de Moscou” para outras regiões, opina.

Embora possuam uma experiência pós-comunista comum, o pós-comunismo na Geórgia é, na verdade, muito diferente do da Letônia ou do Turcomenistão, da Rússia ou da Ucrânia. Behrends exemplifica com o desenvolvimento na Transcaucásia, “onde as sociedades estão caindo na guerra e na guerra civil desde 1991”. Em outras palavras, desde o momento em que a União Soviética se desintegra.

Prédios pré-fabricados versus luxo

Já a história dos estados bálticos é completamente diferente: uma história de sucesso está sendo escrita com a adesão desses países à União Europeia e à Otan e com o surgimento de democracias estáveis na Estônia, na Letônia e na Lituânia.

“Se você for hoje a Riga, capital da Letônia, a diferença com os países escandinavos do outro lado do Mar Báltico já não é mais tão grande que desperte imediatamente a atenção”, diz Behrends.

Ele acha o título de sua exposição bastante ousado, já que não é possível realmente dizer o que é tipicamente pós-soviético. As pessoas costumam ter uma imagem na cabeça: edifícios pré-fabricados de um lado e interesse por marcas ocidentais de luxo, como Versace, do outro.

Mas, se olharmos mais de perto, há grandes diferenças. “E isso deve despertar o interesse em talvez olhar mais de perto cada um desses 15 estados e compará-los com a Alemanha Oriental, a Polônia ou a República Tcheca”, afirma. Em outras palavras, países e regiões que tiveram seu próprio passado comunista.

Trinta anos após o fim da União Soviética, Behrends registra um interesse crescente pelo tema, sobretudo por causa da “situação política dramática”: o especialista em Leste Europeu se refere ao regime do presidente russo Vladimir Putin, à guerra na Ucrânia e aos protestos pela liberdade em Belarus.

“Todas essas são questões atuais que só podem ser entendidas se as explicarmos historicamente”, conta Behrends. E a exposição multimídia Postsowjetische Lebenswelten pretende contribuir com isso.