Considerado tão talentoso quanto Pelé, Leônidas da Silva tornou o futebol brasileiro famoso e consagrou o “Diamante Negro”.

 

Não seria exagero afi rmar que Leô nidas da Silva inaugurou o futebol brasileiro como o conhecemos. Antes do “Diamante Negro”, apelido que o marcou, a presença da Seleção em copas do mundo não causava medo ou admiração, times como Flamengo e São Paulo não eram tão populares, jogador de futebol não era celebridade e bicicleta era apenas um veículo de duas rodas.

Em 6 de setembro, Leônidas teria feito 100 anos. Ganhou várias homenagens, entre elas uma ilustração na página de abertura do Google, executando uma bicicleta perfeita. Embora não tenha inventado o lance, Leônidas tornou-o sua marca registrada. “Ele não fazia apenas gols de bicicleta, mas grandes cruzamentos. Também usava a jogada para se defender da truculência dos zagueiros em divididas de bola aérea”, conta o jornalista André Ribeiro, autor da biografi a Diamante Negro (Cia. dos Livros). Leônidas nasceu no Rio de Janeiro e começou a jogar futebol em pequenos clubes de bairro, como o Bonsucesso. Já ali passou a ganhar projeção e foi convocado para a seleção carioca algumas vezes. 

Em 1933, teve uma breve e conturbada passagem pelo time Peñarol, do Uruguai. O atacante foi vice-campeão nacional e ganhou o apelido de Diamante Negro, mas sua agitada vida noturna tirava os dirigentes uruguaios do sério.

No ano seguinte, de volta ao Brasil, foi defender o Vasco da Gama e participou da seleção nacional na Copa do Mundo de 1934, na Itália. Fez o único gol brasileiro na derrota para a Espanha por 3 a 1, que eliminou a equipe. Foi a Copa de 1938, na França, que o consagrou mundialmente. Leônidas ajudou o Brasil a alcançar o terceiro lugar, o melhor  desempenho nacional até então. Artilheiro com oito gols e eleito o melhor jogador da Copa, caiu nas graças da imprensa internacional, que o apelidou de “Homem Bor racha”. 
“Foi a Copa de 1938  que levou o mundo a descobrir Leônidas e, de certa forma, o Brasil também. Quando ele voltou, várias empresas o procuraram para fazer anúncios de produtos. Ele foi o primeiro jogador de futebol garoto-propaganda”, diz Ribeiro. Uma das companhias, a Lacta, aproveitou seu popularidade para lançar o chocolate Diamante Negro, até hoje popular.

POPULARIDADE E PRISÃO

Quando voltou da França, o jogador defendia o Flamengo. Com a súbita valorização do craque, a diretoria do clube viu a oportunidade de lucrar mais com excursões e amistosos internacionais. O número de partidas aumentou e Leônidas teve de jogar até o limite físico, num período em que convivia com um problema crônico no joelho. Recusava-se a jogar. Mas o clube  exigia que ele cumprisse o contrato. A situação criou um tamanho malestar que terminou em prisão. Em meio ao litígio, o presidente flamenguista Bastos Padilha descobriu que o jogador havia falsifi cado sua certidão de reservista do Exército e o denunciou à Justiça. Leônidas ficou detido por oito meses. “Era um prisioneiro de luxo, tinha regalias, podia sair à noite. Passou na prisão o tempo necessário para se recuperar da lesão”, diz Ribeiro.

Livre e recuperado, Leônidas foi vendido ao São Paulo, em 1942, por 200 contos de réis, valor dez vezes maior que uma grande contratação. Sua estreia atraiu ao Pacaembú cerca de 70 mil pessoas, recorde de público no estádio e número muito superior à quantidade de torcedores do clube naquele tempo. Nos anos seguintes, o craque pôs o São Paulo entre os maiores times do país, conquistando cinco títulos paulistas.

Pela seleção, porém, Leônidas não pôde disputar mais nenhum título mundial. A Segunda Guerra Mundial inviabilizou a competição nos anos 1940 e desavenças com o treinador Flávio Costa impediram sua convocação para a Copa de 1950 no Brasil. Mesmo com 37 anos, ele ainda estava em forma e foi artilheiro do campeonato paulista de 1949. Até surgir Pelé, Leônidas era considerado  o maior craque brasileiro. Para quem viu os dois em ação, a escolha não é óbvia. Em entrevista a André Ribeiro, o comentarista esportivo Luiz Mendes resumiu assim a questão: “Leô nidas não foi melhor que Pelé, mas pior não foi”