“Somos a primeira geração que sente as consequências das mudanças climáticas e a última que tem a oportunidade de fazer algo para deter isso”, disse o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, durante cerimônia realizada em agosto para anunciar seu plano de redução de emissões e estímulo às energias renováveis. Essa nova versão do Clean Power Plan, que define o corte das emissões de carbono americanas, mira sobretudo nas usinas termelétricas a carvão, disparado o mais poluente combustível fóssil. O objetivo é abater 32% das emissões dessas usinas até 2030. O plano foi elogiado no seu lançamento, mas, ao que tudo indica, vai ser complicado atingir as metas acertadas.

Um dos principais motivos para isso é que, embora a Agência Internacional de Energia tenha previsto em 2014 uma redução média anual de 1,7% no consumo de carvão nos EUA até 2020, um relatório divulgado pela Administração de Informação Energética do país este ano constatou um movimento no rumo oposto entre 2012 e 2013, os anos com dados consolidados mais recentes: um aumento de 4% (veja quadro ao final da reportagem). Também é certo que muitos políticos e governantes de estados cuja economia gira em torno do carvão (lembrete: os EUA têm as maiores reservas desse mineral no mundo) vão dificultar ao máximo a concretização das medidas propostas pelo governo Obama nessa área. Qualquer iniciativa para melhorar o ar será ineficaz sem o apoio incondicional de EUA e China, os dois maiores poluidores do mundo – e, não por acaso, os maiores produtores de carvão.

No ritmo atual, antes de 2050 teremos ultrapassado o teto de aquecimento de 2°C na temperatura média do planeta (a diferença entre o clima de hoje e da última era glacial é de apenas 5°C). Para tentar impedir o apocalipse, ministros e técnicos irão a Paris em dezembro para uma nova conferência do clima da ONU com documentos detalhando vários cortes de emissões. Os EUA pretendem reduzir até 28% na comparação com 2005. Os chineses prometem que a partir de 2030 sua curva de emissões será descendente. Para evitar constrangimentos, os líderes das principais potências não irão à cúpula. Deixarão para os técnicos. Melhor, pois, diferentemente dos políticos, eles sabem que com a física não se negocia.

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