Uma série de novos estudos laboratoriais encontrou indícios de que a variante ômicron produz um quadro mais leve de covid-19 do que as versões anteriores do coronavírus por causar menos danos aos pulmões.

Uma equipe de pesquisadores americanos e japoneses avaliou a ômicron e outras variantes em ratos de laboratório (camundongos e hamsters) e observou que a ômicron produziu infecções menos graves, muitas vezes limitadas às vias respiratórias superiores: nariz, garganta e traqueia.

A variante causou muito menos danos aos pulmões, onde as variantes anteriores costumavam causar cicatrizes e sérias dificuldades respiratórias.

Embora os animais infectados com a ômicron tenham tido, em média, sintomas bem mais leves, os pesquisadores ficaram especialmente impressionados com os resultados em hamsters sírios, espécie conhecida por ficar gravemente doente com todas as versões anteriores do vírus.

“Isso foi surpreendente, já que todas as outras variantes infectaram fortemente esses hamsters”, afirmou ao jornal americano The New York Times o virologista Michael Diamond, da Universidade de Washington e coautor do estudo.

O motivo de pelo qual a ômicron é mais branda pode estar relacionado com a anatomia. Diamond e sua equipe constataram que a quantidade de ômicron no nariz dos hamsters era a mesma dos infectados com uma forma anterior do coronavírus. Entretanto, eles viram que os níveis de ômicron nos pulmões equivaliam a um décimo ou menos do verificado em outras variantes.

Tecidos do pulmão

Pesquisadores da Universidade de Hong Kong chegaram a resultados semelhantes analisando pedaços de tecido retirados das vias aéreas humanas durante uma cirurgia. Em 12 amostras de pulmão, os cientistas constataram que a ômicron avançou mais lentamente do que a delta e outras variantes.

Os especialistas também infectaram o tecido dos brônquios, os tubos na parte superior do tórax que levam o ar da traqueia até os pulmões. E dentro dessas células brônquicas, nos primeiros dois dias após a infecção, a variante ômicron avançou mais rapidamente do que a delta ou a cepa original.

Proteína incompatível com ômicron

Um grupo de 31 pesquisadores de diversas universidades descobriu características no tecido pulmonar humano que ajudam a evitar que a nova variante se espalhe para os pulmões. Células do pulmão carregam uma proteína chamada TMPRSS2, que é incompatível com ômicron, impedindo a variante de se espalhar no órgão.

De acordo com o pesquisador Ravindra Gupta, virologista da Universidade de Cambridge e um dos autores da pesquisa, os resultados mostraram que essa proteína não se adere bem à ômicron, levando a crer que a cepa é menos capaz de infectar células dessa maneira do que a variante delta.

Uma equipe da Universidade de Glasgow chegou à mesma conclusão independentemente, de acordo com o The New York Times. Mais acima, nas vias respiratórias, as células tendem a não transportar a proteína, o que poderia explicar evidências de que o ômicron é mais comum nessa região do que nos pulmões.

Os especialistas ainda relutam em aceitar esses resultados e aguardam dados mais significativos. As descobertas ainda têm que ser corroboradas por mais estudos, como experimentos com macacos ou exame das vias aéreas de pessoas infectadas com ômicron.

Menos hospitalizações

Dois estudos preliminares realizados no Reino Unido e divulgados no mês passado sugerem que as infecções com a variante ômicron da covid-19 têm menos probabilidade de resultar em hospitalização, comparadas com a variante delta.

Os resultados confirmam a tendência observada anteriormente na África do Sul, onde a ômicron foi registrada pela primeira vez.

No entanto, especialistas alertam contra o excesso de otimismo, devido ao alto índice de infecções. Qualquer vantagem teórica nos resultados ainda pode ser revertida pelo caráter altamente infeccioso da nova cepa, que se dissemina muito mais rápido do que a delta. O número absoluto de infecções ainda pode sobrecarregar hospitais.