O atual surto de varíola dos macacos é o primeiro a surgir em vários lugares ao mesmo tempo e a não estar associado a viagens para a África, afirmaram especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta segunda-feira (23/05). Segundo a agência da ONU, porém, as transmissões da doença podem ser contidas nas nações não endêmicas.

“Houve casos nos últimos cinco anos em pessoas vindas da África, mas esta é a primeira vez que registramos em diferentes países ao mesmo tempo”, afirmou a especialista da OMS em varíola, Rosamund Lewis. “Trabalhamos em estreita colaboração com vários países para analisar por que este vírus está agora viajando com mais frequência.”

Lewis avalia como anormal o alto número de casos em regiões urbanas de uma doença que geralmente ocorre nas áreas rurais. Mais de 90 infecções em 12 países da Europa e América do Norte já foram registradas. Somente no Reino Unido são 56 casos.

Maria Van Kerkhove, diretora de Doenças Emergentes da OMS, avalia que, com menos de 200 casos suspeitos e confirmados, o surto nestas regiões ainda pode ser controlado.

“Queremos parar as transmissões entre humanos. Podemos conseguir isso nos países não endêmicos”, disse a especialista. “Estamos em uma situação na qual podemos utilizar ferramentas de saúde pública para a identificação na fase inicial e apoiar o isolamento dos casos”, esclareceu.

Kerkhove, que chefia a unidade técnica anticovid da OMS, disse ser provável que o maior acompanhamento dos casos resulte em um número maior de ocorrências nos próximos dias, mas garantiu que a situação pode ser contida. Ela destacou que a maioria dos pacientes não apresenta sintomas graves.

Andy Seale, especialista do departamento da OMS sobre doenças sexualmente transmissíveis, destacou que a varíola dos macacos não é uma dessas enfermidades, e tampouco seria uma doença ligada à comunidade gay. Ele lembra que qualquer pessoa pode contrair a varíola através do contato físico, não necessariamente sexual.

Surto na Europa pode ter surgido em festas rave

Entretanto, David Heymann, um consultor da OMS que já liderou o Departamento de Emergências da entidade, disse que uma das explicações para o surto surgido na Europa teria sido “eventos aleatórios” que seriam explicado pela atividade sexual em duas raves.

Segundo afirmou, a teoria considerada como a mais viável seria a de o surto teve início com a transmissão através do sexo entre homens em raves na Espanha e na Bélgica. Segundo Heymann, a doença pode se espalhar se houver contato próximo com lesões em uma pessoa infectada. “Parece que o contato sexual amplificou as transmissões”, disse.

Autoridades de saúde da Europa chegaram a afirmar que o sexo entre homens estaria por trás da maioria dos casos conhecidos, mas cientistas advertiram que é difícil confirmar se o contágio se deu através do sexo ou de um simples contato.

Qualquer um pode ser infectado através do contato próximo com um doente, ou com suas vestimentas ou roupas de cama.

Os sintomas da varíola dos macacos podem incluir febre, inflamação dos linfonodos, dores de cabeça, fadiga muscular e erupções no rosto, mãos, pés, olhos ou genitais.

Brasileiro passa bem

A OMS destaca que a vacina contra a varíola convencional – uma doença mais grave que durante séculos causou mortalidade global generalizada – provou ser 85% eficaz contra a varíola dos macacos.

Contudo, a maioria das pessoas das gerações mais novas não foi vacinada contra a varíola, que foi considerada erradicada globalmente há quatro décadas, motivo pelo qual as campanhas de imunização foram interrompidas.

O brasileiro de 26 anos que é o primeiro infectado pela varíola dos macacos registrado na Alemanha passa bem, segundo o hospital em Munique onde ele está internado.

“O paciente continua bem, ele tem relativamente poucos sintomas”, disse o médico chefe do setor de infectologia da München Klinik Schwabing, Clemens Wendtner, segundo reportagem publicada neste domingo pelo jornal TZ. “Ele tem lesões de pele em vários lugares, mas não está com febre e não sofre de falta de ar”, afirmou o especialista.

rc/cn (EFE, AFP, AP)