Em muitas partes do mundo, os níveis do mar estão subindo devido ao aquecimento global. Mas os cientistas observam que o aquecimento e o aumento da evaporação provavelmente terão consequências diferentes em relação aos mares e lagos interiores.

O portal Earth Observatory, da Nasa, abordou um desses casos recentemente: o do Mar Cáspio, o maior corpo d’água fechado e interior da Terra (tecnicamente um lago), atualmente com 371 mil quilômetros quadrados de área – uma área superior à de Mato Grosso do Sul. O Cáspio banha terras de cinco países: Rússia, Azerbaijão, Irã, Cazaquistão e Turcomenistão. O que está se passando ali não tem exatamente relação com outro caso traumático no interior da Ásia, o do Mar de Aral. Mas não deixa de ser preocupante.

Segundo os cientistas, são previstos rápidos declínios nos níveis de água do Cáspio nas próximas décadas e séculos. Dados de altimetria de radar coletados por vários satélites e compilados pelo Global Water Monitor da Nasa indicam que os níveis de água já estão caindo ali desde meados da década de 1990.

O Cáspio em foto de 2003. Crédito: Jeff Schmaltz, Modis Rapid Response Team, Nasa/GSFC
Consequências ecológicas

Por uma estimativa, os níveis de água do Cáspio podem baixar de 9 a 18 metros até o final do século 21. Isso já bastaria para o lago perder cerca de um quarto de sua área e deixar a descoberto cerca de 93 mil quilômetros quadrados de terra. Essa é uma área pouco menor que Santa Catarina e quase tão grande quanto Portugal.

Grande parte da nova terra viria do norte do Cáspio. Essa zona rasa detém apenas 1% do volume do lago, e sua profundidade média é de 5 a 6 metros. Para efeito de comparação, as partes mais profundas do lago se estendem por mais de 1.000 metros abaixo do nível do mar.

O espectrorradiômetro de imagem de resolução moderada (Modis) no satélite Aqua da Nasa capturou a imagem em cores naturais do norte do Mar Cáspio reproduzida acima em 17 de julho de 2021. Os sedimentos suspensos levados pelos rios Volga e Ural que afluem haviam descolorido as águas na parte norte do lago, enquanto os ventos também podem ter levantado sedimentos.

A perda da parte norte do Cáspio pode ter consequências ecológicas importantes. Suas águas rasas estão repletas de moluscos, crustáceos, peixes e pássaros. Focas criam seus filhotes no gelo do inverno, que geralmente só se forma nessa parte do lago.

“As atuais áreas protegidas no Mar Cáspio, a maioria das quais cobrem ecossistemas costeiros, incluindo pântanos altamente cobiçados, como o delta do Volga e outros locais Ramsar [pântanos de importância internacional com o nome da cidade costeira de Ramsar, no Irã] serão transformados a ponto de se tornarem irreconhecíveis”, escreveu um grupo de cientistas europeus na revista Communications Earth & Environment.