Um ano após tomar posse, Joe Biden falha em tarefas aparentemente sem solução. As próximas eleições de meio mandato serão decisivas para o futuro da democracia americana, opina Oliver Sallet.Ele começou seu governo com grandes objetivos: colocar a economia dos EUA de volta nos trilhos após os impactos da pandemia. Mas, no final dos programas de investimento de Biden, a inflação está agora em 7%, a mais alta em décadas. O projeto de prestígio de Biden, o pacote social “Reconstruir Melhor”, que foi uma de suas maiores promessas de campanha, também fracassou. Não por causa de adversários, mas por causa de um senador de suas próprias fileiras.

“Uma América superar a grande divisão” foi outra promessa central. Mas aqui, também, o balanço é sóbrio: a pobreza nos Estados Unidos se tornou ainda mais extrema como resultado da pandemia. Grande parte da metade da população formada por eleitores republicanos não pode mais ser alcançada com argumentos e continua a vagar por aí acreditando em teorias de conspiração grosseiras e na vitória eleitoral de Donald Trump.

Eleitores em ambos os campos políticos dão a Biden um índice de aprovação historicamente baixo. A única consolação: só Trump era mais impopular.

Problemas sem solução

Na fronteira com o México, o problema da migração continua se agravando. E o presidente Biden é um prisioneiro de sua própria ideologia: controles rígidos de fronteira ou mesmo a expansão da cerca de fronteira significaria “sim, Trump estava certo!”. Portanto, ele simplesmente ignora a questão.

Certamente, os problemas que Biden enfrentou quando tomou posse há um ano foram enormes. E, portanto, era dificilmente concebível unir um país tão grande, heterogêneo, mas também fraturado e economicamente abalado em apenas um ano. Especialmente diante de todas as adversidades provocadas pela polarização política e pela pandemia. No entanto, Joe Biden é avaliado precisamente em relação a estes pontos.

Biden falha por causa de seu próprio partido

No final, tudo isso será secundário. Há meses, os estados liderados pelos republicanos vêm esvaziando a democracia, alterando a lei eleitoral a seu favor. Eles querem dificultar para a população negra de voto predominantemente democrata ir às urnas, ou transferir a responsabilidade de contar os votos exclusivamente para correligionários ou instituições próprias.

A exigência de Trump após as eleições de 2020 de que o secretário do Interior do estado da Geórgia, um republicano, encontrasse mais 12 mil votos em algum lugar − pode se tornar realidade nas próximas eleições. E isso de maneira completamente legal.

Joe Biden está ciente da situação. Mas também neste ponto ele falha − não por causa dos republicanos, mas por causa dos senadores renitentes nas próprias fileiras. Eles não estão dispostos a apoiar uma emenda no Senado que permitiria a Biden pôr um fim às ações dos republicanos.

A democracia americana está em jogo

Se as coisas continuarem como estão, os democratas sofrerão uma derrota eleitoral esmagadora nas eleições de meio mandato em novembro. Donald Trump poderia então ser ressuscitado politicamente e até tornar-se presidente da Câmara dos Representantes, como alguns no Capitólio já estão especulando. Esse seria o início do fim de Biden e talvez o retorno de Trump.

Detê-lo será crucial − não apenas para a presidência de Joe Biden, mas para o futuro da democracia americana. E, assim, de todo o mundo ocidental.

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Oliver Salet é correspondente da DW em Washington. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.