Por muito tempo, a China foi para alguns uma esperança de um mundo melhor. Agora a Otan classifica o país como “desafio”. Pequim é, na verdade, uma ameaça, opina Alexander Görlach.Pela primeira vez, o comunicado de uma cúpula da Otan mencionou a República Popular da China, que se encontra bem longe do Atlântico Norte, e a descreveu como um “desafio sistêmico”.

A aliança de defesa do mundo livre observa, alarmada, como a China aumenta seu arsenal nuclear e desenvolve novos sistemas de lançamento de mísseis nucleares. Ao mesmo tempo, os autocratas de Pequim e Moscou estão se aproximando militarmente: a Otan, portanto, vê a cooperação dos exércitos de ambos os países com a mesma desconfiança que as atividades da China no ciberespaço.

É principalmente graças ao presidente dos EUA, Joe Biden, que a China agora está sendo apontada como uma ameaça à Aliança do Atlântico Norte. Os EUA consideram acertadamente a autocrática República Popular como um adversário fundamental do mundo livre. Dois parceiros europeus de Joe Biden, Angela Merkel e Emmanuel Macron, não querem ir tão longe e, portanto, imediatamente após a cúpula, tentaram minimizar a gravidade do comunicado. A chanceler alemã afirmou que se trata de encontrar o equilíbrio certo no trato com Pequim.

Ameaça e desafio

O presidente francês mostrou-se ainda mais distante do texto do comunicado do que a governante alemã, ao dizer que a Otan não precisa se ocupar com a China devido à distância geográfica do país, acrescentando que a aliança já tem suficientes outras tarefas. Ambos preferem se preocupar com a Rússia, que, também no comunicado da cúpula, é apontada como o maior perigo. A China é mencionada 10 vezes no texto, a Rússia é citada 55 vezes. Além disso, a Rússia é chamada de “ameaça”, a República Popular, apenas um “desafio”.

A cúpula da Otan está, portanto, seguindo os mesmos passos de dança vistos no cenário internacional para não irritar demais a China. Mas os políticos do mundo livre deveriam ter aprendido que a China não tem lealdade e destrata sem piedade quando bem entende.

A Suécia, que permitiu à China instalar uma estação de pesquisa em seu território, é intimidada quando defende os direitos humanos. A Austrália é humilhada pelas autoridades, que deixam apodrecer as importações agrícolas do país nos portos chineses. E isso logo depois de os dois países terem firmado solenemente um novo acordo comercial conjunto.

De esperança a ameaça

A dança também é realizada porque ainda é difícil imaginar que Xi Jinping tenha virado em 180 graus o Partido Comunista e, com ele, todo o país, em sua orientação econômica, política e militar. Aquilo que já foi a esperança de um mundo melhor no século 21, de fato, se tornou a maior ameaça à paz mundial, e um arsenal nuclear crescente não torna isso mais fácil.

Minorias no país são intimidadas e trancadas em campos de concentração se não se conformarem com a ideologia nacionalista de Xi. Os tratados com Hong Kong foram quebrados – uma afronta às pessoas na cidade anteriormente livre e à comunidade global.

Taiwan vem sendo coberta de ameaças de guerra. Ilhas que pertencem às Filipinas são ocupadas por milícias chinesas. A China tem disputas de fronteiras com Índia, Japão e Coreia. A nomenclatura em Pequim está criando ilhas artificiais no Pacífico Ocidental e cobrindo-as com bases militares. Com isso, o Partido Comunista quer garantir o controle das rotas marítimas do Pacífico e dos cabos de internet que correm no fundo do mar.

Taiwan é a próxima vítima

Esta lista mostra muito claramente que a China se tornou, de fato, uma ameaça militar – também para as nações europeias, cujos políticos se curvam perante Pequim para poderem continuar fazendo negócios com o ditador Xi Jinping.

No centésimo aniversário do Partido Comunista, a ser comemorado em julho, o presidente Xi certamente não será mais ameno: ele prometeu ao país um futuro nacional glorioso – a dominação global. Neste sentido, o domínio de Hong Kong já é celebrado pelo Partido Comunista.

Em seguida, a anexação de Taiwan pode florescer, o que poderia não apenas significar uma guerra entre os dois países, mas poderia transformar todo o Pacífico Ocidental em uma zona de guerra.

A China está apostando que o resto do mundo simplesmente virará o rosto. Já foi registrado em Pequim que a anexação da Crimeia gerou protestos, mas nada mudou no status que a Rússia havia criado militarmente. Portanto, a Otan não deveria ignorar a ameaça de guerra representada pela China.

Alexander Görlach é membro sênior do Carnegie Council for Ethics in International Affairs e pesquisador associado do Instituto de Religião e Estudos Internacionais da Universidade de Cambridge.