Paulo Guedes diz que o “Brasil está condenado a crescer”. Mas é o contrário. É o Brasil – ou melhor, o brasileiro – que está condenado porque a economia não cresce, escreve Alexander Busch.Os indicadores econômicos mais recentes confirmam o que muitos temiam: a economia brasileira está novamente em recessão. E o crescimento não deve voltar no próximo ano.

É um bom sinal, disse na quinta-feira (02/12) o ministro da Economia, Paulo Guedes, que a Bolsa esteja subindo apesar do desempenho ruim do PIB (Produto Interno Bruto). Isso mostra, segundo ele, que o “Brasil está condenado a crescer”.

Mas é exatamente o contrário. O Brasil, ou melhor, os brasileiros, estão condenados porque a economia não cresce. E isso há doze anos.

Os últimos indicadores econômicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acabam de ser divulgados. A economia encolheu 0,1% no terceiro trimestre. Isso se deve principalmente ao fato de que o setor agropecuário, que sempre foi capaz de compensar os pontos fracos do PIB, produziu muito menos desta vez devido à seca e à geada. Como a economia já tinha retraído 0,4% no segundo trimestre em comparação com o trimestre anterior, a economia brasileira está em recessão.

Os bancos de investimento projetam um crescimento anual de somente cerca de 4,8% em 2021, o que colocaria a economia brasileira no final do ano no ponto onde estava antes do início da pandemia, no final de 2019. Dois anos perdidos, então.

Mas se você dividir o PIB pelo número de brasileiros, o resultado é ainda mais decepcionante. Cada brasileiro teria hoje um PIB per capita equivalente ao que foi registrado pela última vez em 2009, o que significa que a economia brasileira vem patinando há doze anos.

Isso dificilmente mudará no próximo ano. Ao contrário do que Guedes afirma, a maioria dos economistas espera uma economia estagnada, e possivelmente até recessiva, em 2022.

Por um lado, isso se deve à alta inflação, que deve chegar a 10% até o final do ano. Para conter a alta dos preços, o Banco Central terá que manter a taxa de juros alta, o que limitará o consumo. Ao mesmo tempo, serão realizadas eleições no ano que vem, cujo resultado ainda está completamente indefinido. Os investidores ficarão cautelosos enquanto não souberem quem irá governar pelos próximos quatro anos.

Somente com investimentos, desenvolvimento tecnológico ou reformas, a renda per capita brasileira poderá crescer novamente no médio prazo.

No curto prazo, apenas o aumento do consumo poderia acelerar o crescimento do Brasil. Afinal, o consumo de massa é o motor tradicional da economia brasileira. Mas o cenário parece ruim nessa área. Devido à alta taxa de desemprego de 12,6%, a média salarial está caindo. Neste ano, caiu 9% em termos nominais. Se considerarmos também a inflação, é possível dizer que o poder de compra dos brasileiros diminuiu em cerca de um quinto neste ano.

E é exatamente aí que reside a tentação populista do governo. É bem possível que o presidente Jair Bolsonaro reaja à sua crescente impopularidade no ano eleitoral com novos programas de gastos. Que ele e Guedes, por exemplo, aumentem ainda mais o valor de benefícios sociais, como acaba de acontecer, a fim de comprar votos no Congresso e, por fim, nas eleições.

Em um primeiro momento, os brasileiros pobres se beneficiariam disso. Mas eles terão que pagar a conta depois com inflação mais alta e recessão. As perspectivas não são boas para os próximos doze meses.