Por que não seguir exemplo de Israel, permitindo que vacinados retornem à vida normal? Europeus tropeçam na própria teia de complexidades e debates e fracassam numa questão simples, opina Bernd Riegert.Se tem algo que a pandemia nos ensinou é que é preciso agir de forma rápida e determinada. É necessário ser mais rápido que o vírus e tomar as decisões certas antes da próxima onda. Os governos da União Europeia frequentemente fecharam a economia de países inteiros da noite para o dia, mas agora, quando a campanha de vacinação está prestes a possibilitar um retorno paulatino à vida normal, o que se vê é uma hesitação incompreensível. O melhor exemplo foi a tormentosa discussão sobre o passaporte de vacinação europeu.

Por que não fazemos como os israelenses que permitem que as pessoas vacinadas contra o coronavírus voltem a frequentar academia ou saiam de férias? Existem estudos iniciais encorajadores de que a vacinação também reduz significativamente o risco de transmissão da infecção. Sim, ainda não há cem por cento de segurança, mas quando houve disso nesta pandemia? Em vez de crescerem com base nessas notícias positivas, as tenras plantas da esperança são logo despedaçadas.

A cúpula da UE aprovou a criação do certificado de vacinação europeu após discussões intermináveis. Alemanha e França freiam a ideia por algum motivo inexplicável. A chanceler balança sua cabeça cansada e diz que primeiro é preciso esperar até que um grande número de pessoas tenha sido vacinado para determinar os direitos dos portadores do passaporte europeu de vacinação. Por quê? Aqueles que foram vacinados não podem recuperar já agora seus antigos direitos? Dezenas de milhares de pessoas já são vacinadas todos os dias na UE.

Ninguém sairia prejudicado

O argumento de que as pessoas que foram vacinadas ainda podem infectar outras também é enganoso. Afinal, os vacinados estão entre si na academia de ginástica. Mesmo que teoricamente se infectassem, eles não adoeceriam mais. Fora dessas “zonas protegidas”, aqueles que foram vacinados devem, obviamente, continuar a aderir às regras de higiene como todos os outros. Por questão de segurança adicional, seria possível pedir às pessoas vacinadas que façam um teste rápido em eventos importantes ou antes de viagens. No entanto, a disponibilidade de testes rápidos é outro drama, especialmente na Alemanha, onde um ano após o início da pandemia ainda não há uma estratégia conclusiva para testes.

Mas voltando ao passaporte de vacinação: como parece impossível colocar todos os 27 países da UE na mesma linha, alguns chefes de governo, na Grécia, Chipre, Polônia, Estônia e Áustria se adiantam e introduzem passaportes de vacinação nacionais. É um atestado do fracasso ao espírito comunitário na UE e uma oportunidade perdida de se retocar a prejudicada imagem da UE após uma campanha de vacinação que foi considerada lenta. Assim, as pessoas vacinadas de Israel poderão passar férias na Grécia sem quarentena, enquanto franceses e alemães continuam esperando seus vagarosos governos.

Sejam impacientes

Mas esperar não ajuda. Mesmo no caso de se querer esperar por mais estudos e vacinações em massa, seria necessário começar os preparativos para um passaporte de vacinação europeu hoje mesmo, ou já ontem. Pois esses projetos duram um tempo nesta comunidade complexa. Um exemplo é o formulário de entrada eletrônico padronizado (PLF) para rastreamento de contatos devido ao coronavírus. A medida foi decidida pela UE em outubro. Três (!) Estados da UE estão atualmente participando de um projeto-piloto. Os demais ainda precisam dissipar as preocupações com a proteção de dados e assinar contratos bilaterais para que a plataforma possa funcionar em algum momento.

Mas 12 países da UE acharam o procedimento estúpido demais e desenvolveram seus próprios formulários eletrônicos de chegada, que não são compatíveis entre si. “Viva a Europa”, como sempre diz a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, no final dos seus discursos. Mesmo se a cúpula da UE tivesse decidido adotá-lo hoje, a implementação do passaporte eletrônico de vacinação levaria muitos meses. Então, a pandemia acabará mais rápido do que a capacidade de agir dos grandes da UE.

As companhias aéreas avançam com mais determinação do que a UE. Sua associação internacional quer implementar um sistema para permitir que apenas pessoas vacinadas possam voar. Outros setores certamente seguirão o exemplo. A propósito, esses requisitos não são novos, não são discriminatórios, nem moralmente repreensíveis. Já hoje só é possível entrar em alguns países tendo sido vacinado contra febre amarela. E quem quiser colocar seu filho em uma creche na Alemanha, tem que vaciná-lo contra o sarampo. Onde está a diferença para o coronavírus?

Bernd Riegert dirige a sucursal da Deutsche Welle em Bruxelas.