Segundo debate entre candidatos foi bem mais empolgante que o primeiro, e está claro que a reta final terá uma disputa emocionante. Mas há também uma má notícia, observa Mikhail Bushuev.Sejam bem-vindos à reta final da campanha eleitoral que vai definir a sucessão da chanceler federal Angela Merkel. A duas semanas da eleição, a Alemanha assistiu a um segundo “trielo” entre os candidatos a chanceler federal dos partidos conservadores CDU e CSU, do social-democrata SPD e do Partido Verde.

E o novo encontro entre Armin Laschet (CDU), Olaf Scholz (SPD) e Annalena Baerbock (Partido Verde) foi animadoramente diferente do primeiro, há duas semanas.

O que teve? Uma dura troca de acusações e mais conteúdo nos debates. Quem partiu para o ataque? Laschet, que está sob pressão e tenta salvar o que puder para a CDU e CSU. E quem foi atacado pelo candidato da CDU? Não, desta vez não foi Annalena Baerbock, mas Olaf Scholz.

O vice-chanceler federal Scholz rebateu todos os ataques — sem brilho, mas com solidez. Com suas investidas, Laschet possivelmente somou pontos com a base de eleitores da CDU, mas não conseguiu fazer o adversário sangrar.

A esta altura da campanha eleitoral, nada mais cola em Scholz. Sua espantosa falta de memória no escândalo cum-ex, que custou bilhões de euros ao contribuinte alemão, é aparentemente perdoada pelos eleitores.

E Baerbock? Ela teve os seus momentos e conseguiu, em meio à troca de acusações entre os dois senhores, marcar posição. Quando Laschet e Scholz brigavam sobre de quem era a culpa na lentidão das reformas do governo do qual seus partidos fazem parte, Baerbock, soberana, ironizava o “acerto de contas com o passado” de CDU e SPD – ela mesma, afinal, representa o futuro!

E sobre o que se falou? Aposentadorias e aluguéis, salário mínimo e imigração (aqui estranhamente só Laschet pode se manifestar) e — finalmente! — digitalização.

Alguém de fora da Alemanha deve ter se surpreendido com o fato de que, em 90 minutos, não se tenha tocado uma única vez em temas da política externa, nem por parte dos entrevistadores nem dos candidatos.

Mas não há com que se preocupar: os políticos alemães não abandonaram a responsabilidade pelo mundo. Afinal, também se falou sobre temas globais, como proteção climática e um imposto mínimo mundial para gigantes tecnológicas.

A boa notícia depois desse segundo debate é que as duas semanas que restam para o dia da eleição serão empolgantes, e o resultado poderá ser apertado. Quem gosta de calcular as chances de cada partido e prever coalizões está diante de um prato cheio.

Scholz lidera em todas as pesquisas. Mas é cedo para descartar Laschet. Pelo menos na noite deste domingo ele não cometeu nenhuma falha e se manteve na corrida.

Baerbock deixou claro: apesar de ela quase não ter mais chances de chegar à chancelaria federal, está em condições de consolidar o crescimento dos verdes. O partido está muito distante do primeiro lugar, mas deverá dobrar o resultado de quatro anos atrás.

Só o fato de os “partidos das massas” SPD e CDU/CSU terem de abrir espaço, e o duelo virar um “trielo”, já é uma vitória para o Partido Verde.

As notícias não tão boas vieram com a pesquisa feita ainda durante e logo após o debate. Ela mostrou mais uma vez, implacavelmente, que a Alemanha está num conflito geracional e ainda não se deu conta disso.

Em resumo, é o seguinte: Baerbock é benquista sobretudo entre as eleitoras e os eleitores jovens, mas os idosos são a maioria no país. A luta contra a crise climática, que ela incorpora, não é vista com tanta urgência pelos mais velhos. Isso é doloroso, e não só para os verdes.

Bem-vindos à gerontocracia alemã.

Mikhail Bushuev é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.