A Grande Muralha Verde, projeto da ONU para proteger e recuperar um corredor de vegetação de mais de 8 mil km ao sul do deserto do Saara, é visto como uma das grandes esperanças do continente africano para combater o avanço da desertificação, aumentar a absorção de carbono e gerar emprego e renda sustentável para muitos dos países mais pobres do mundo. A cada ano que passa, no entanto, a falta de avanços concretos na implementação do projeto traz frustração e temores de que a região seja deixada para trás na luta contra a crise climática.

Quinze anos depois de seu lançamento, a proposta voltou aos holofotes internacionais nas últimas semanas com a realização da 15ª Conferência das Partes (COP15) da Convenção da ONU sobre o Combate à Desertificação (UNCCD), que termina nesta 6a feira (20/5) na Costa do Marfim. Mais do que o tempo acumulado sem avanços, o que preocupa mais os países africanos é a falta de sinais de doadores internacionais de que esse cenário possa mudar nos próximos anos. De fato, o resultado da Grande Muralha Verde até pouco tempo atrás é desanimador: apenas 4% da meta de restaurar 100 milhões de hectares tinha sido cumprida até 2020.

“Não é apenas plantar árvores, é plantar esperança para milhões de jovens”, afirmou Ibrahim Thiaw, secretário-executivo da UNCCD, citado pelo Climate Home, em defesa da Grande Muralha Verde. “A esperança ainda não está se transformando em ação na escala ou no ritmo que desejamos. Porque, coletivamente, estamos lutando para transformar essas promessas em projetos e investimentos”.

Adaptações curiosas

RFI destacou como as dificuldades de financiamento e articulação política acabaram criando adaptações curiosas no projeto da Grande Muralha. Inicialmente, a ideia era a de um corredor verde propriamente dito, se estendendo por milhares de quilômetros. Agora, a proposta é mais descentralizada, com a criação de pequenos oásis verdes no entorno de vilarejos e cidades, aproximando as pessoas das áreas vegetais e potencializando oportunidades de geração de renda por meio da vegetação. Um exemplo de sucesso para esse modelo é o de Dor, uma cidade no nordeste de Burkina Faso: por meio de um modelo de governança descentralizado, que envolve a participação de toda a comunidade, diversos projetos de recuperação de solo e reflorestamento foram implementados nos últimos anos, com ganhos ambientais e de expertise.

Em tempo: Em julho, terminará o mandato da mexicana Patricia Espinosa como secretária-executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), depois de seis anos. Com isso, abre-se espaço para uma disputa pelo comando da UNFCCC, um dos espaços mais destacados da diplomacia ambiental. A seleção já começou, com a ONU divulgando na semana passada as condições e o perfil da pessoa desejada para suceder Espinosa: alguém sênior, com uma “visão estratégica e uma compreensão íntima” de questões climáticas e de desenvolvimento, preferencialmente com experiência governamental. O salário? US$ 207 mil anuais. Como assinalado pelo Climate Home, a expectativa é de que o novo nome venha da Ásia ou da África, já que os secretários-executivos mais recentes da UNFCCC eram da Europa e da América Latina.