O Pantanal, a maior planície úmida da Terra, está ficando mais seco. De acordo com análise do MapBiomas, o total da área coberta por água e campos alagados entre a cheia de 1988/1989 e a mais recente, em 2018, caiu 29%, de 5,9 milhões de hectares para 4,1 milhões. No ano passado, essa área somou cerca de 1,5 milhão de hectares, o menor índice dos últimos 36 anos.

Não à toa, o Pantanal mais seco tem facilitado a ocorrência e a disseminação de incêndios. Desde 1985, o bioma teve 57% de seu território com pelo menos um registro de fogo, o equivalente a 86,4 mil km2. Ao todo, 93% do fogo ocorreu na vegetação nativa.

No ano passado, o Pantanal experimentou sua pior temporada de incêndios deste século, com 2,3 milhões de hectares queimados; na série histórica do MapBiomas, 2020 perde apenas para 1999, quando o bioma registrou 2,5 milhões de hectares incendiados.

Ciclos comprometidos

A análise também mostrou a diferença de área nativa preservada entre a planície e o planalto, onde ficam as cabeceiras da Bacia do Alto Paraguai. Enquanto mais de 83% da planície estava coberta por vegetação preservada em 2020, essa cobertura era de apenas 43,4% no planalto. “A conservação do Pantanal, sua cultura e seu uso tradicional dependem dos ciclos de inundações e dos rios que nascem na região do planalto”, explicou Eduardo Rosa, do MapBiomas. Os dados tiveram destaque em CNN Brasil, G1 Metrópoles, entre outros.

Enquanto isso, Alfredo Mergulhão informou n’O Globo do trabalho de organizações da sociedade civil para fazer aquilo que há pouco seria impensável para a vida pantaneira: trazer água de outro local para matar a sede dos animais. Cerca de 300 mil litros de água foram despejados em áreas alagáveis embaixo de pontes para permitir que os animais se refresquem do forte calor e do ar seco. “É um trabalho paliativo, o volume que a gente consegue colocar é infinitamente menor do que precisa”, observou o veterinário Jorge Salomão, da ONG Ampara Silvestre. “Dois, três dias depois, já seca novamente. O único jeito de resolver é a chuva mesmo.”

Ambientalistas pediram ao presidente do STF, ministro Luiz Fux, urgência no julgamento de uma ação contra o governo federal por conta da omissão no combate às queimadas no Pantanal. A ação foi apresentada em junho e encaminhada para o então ministro Marco Aurélio Mello. No entanto, desde sua saída da Corte, o caso não foi repassado para outro relator, deixando a ação em um limbo jurídico até que o sucessor de Mello assuma a cadeira no STF. O Globo deu mais informações.

Em tempo: Vale a pena conferir a edição recente do programa Profissão Repórter (TV Globo), que mostrou o trabalho de bombeiros, brigadistas e ambientalistas contra os incêndios no Pantanal, além do resgate de animais atingidos pelo fogo. Uma das regiões visitadas pela reportagem foi a do Parque Estadual Encontro das Águas (MS), a maior reserva de onças-pintadas do mundo, que teve 85% de sua área queimada nos incêndios do ano passado.