Uma nova espécie de réptil pré-histórico, o Dynamosuchus collisensis, foi apresentada por cientistas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), do Museu de La Plata (Argentina) e da Universidade Virginia Tech (EUA), em artigo publicado na revista “Acta Palaeontologica Polonica”, segundo o jornal gaúcho “Correio do Povo”. O esqueleto fóssil foi descoberto por uma equipe liderada pelo paleontólogo da UFSM Rodrigo Temp Müller em março de 2019, em Agudo, na região central do Rio Grande do Sul.

Esse parente longínquo dos crocodilos e contemporâneo dos dinossauros viveu há cerca de 230 milhões de anos, no período Triássico, e tinha pouco mais de dois metros de comprimento. É o primeiro espécime do grupo Ornithosuchidae encontrado no Brasil. Trata-se também da quarta espécie do grupo descrita até hoje no mundo (até então, haviam sido identificadas outras três na Argentina e na Escócia) – a última foi descrita há meio século.

O focinho do animal era mais projetado para a frente do que a mandíbula inferior. Além disso, ele apresentava dois dentes muito grandes em cada lado da mandíbula inferior e uma couraça óssea revestindo todo o dorso, assim como nos jacarés e crocodilos. Diversamente dos crocodilos, esse réptil era terrestre e se movia com as quatro patas. Para correr, porém, ele só podia usar as patas posteriores.

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Todos os Ornithosuchidae conhecidos (incluída a nova espécie) possuíam dentição adaptada à dieta carnívora. Sua mordida era muito mais forte do que a de outros parentes próximos, o que, aliado à forma do focinho, pode indicar que eles eram necrófagos (alimentavam-se de animais mortos).

Triturador de ossos

Segundo os pesquisadores, o Dynamosuchus collisensis era o tiranossauro de sua época. “O réptil extremamente raro teria sido um verdadeiro triturador de ossos desde o início da era dos dinossauros”, disse Müller.

As patas traseiras o animal eram acionadas quando ele queria correr. Crédito: Rodrigo Müller et. al./Acta Palaeontologica Polonica

A poderosa mordida, a propósito, foi a origem do nome do gênero: Dynamosuchus significa crocodilo poderoso. Já collisensis é uma adaptação do latim para a palavra “morro”, em referência ao local onde o esqueleto foi encontrado, um sítio de fósseis localizado na base do “Morro Agudo”.

Além de aumentar o número de espécies fósseis conhecidas para o Brasil, o novo achado também ajuda a entender como eram compostas as cadeias alimentares de cerca de 230 milhões de anos atrás, no momento em que surgiram os primeiros dinossauros. O Dynamosuchus collisensis representa o primeiro réptil com adaptações à necrofagia a ser descoberto em um único sítio fossilífero ao lado de restos fósseis de dinossauros.

Uma análise do grau de parentesco entre as espécies revelou ainda que membros do grupo Ornithosuchidae devem ter migrado mais de uma vez entre o Brasil e a Argentina, em vez de terem evoluído isoladamente. Esse mesmo padrão também já havia sido observado em outros grupos de répteis da mesma época, o que demonstra que a evolução desses grupos deve ter sido regida pelos mesmos fatores.