O Parlamento da França aprovou nesta quinta-feira (06/01) o projeto do presidente Emmanuel Macron para a criação de um passaporte de vacinação, visando conter a propagação da variante ômicron do coronavírus.

O debate sobre o projeto chegou a ser interrompido na véspera após a repercussão de uma fala de Macron, que afirmara em entrevista que sua estratégia era “encher o saco” dos não vacinados para que eles aceitassem a vacinação. Muitos consideraram a linguagem do presidente, a quase três meses das eleições presidenciais, politicamente calculada, apelando à frustração cada vez maior do público contra os que não quiseram se vacinar.

Parlamentares na Câmara aprovaram por 214 votos a 93 o projeto de lei que inclui o passaporte vacinal pouco depois das 5h (horário local), após uma sessão que virou a noite. A maioria dos votos contrários partiu da extrema direita (Reunião Nacional) e da esquerda mais radical (França Insubmissa), além de três dissidentes do partido do presidente (República em Marcha). Outros 27 deputados prefiram se abster. O projeto irá para o Senado antes de uma última votação na Assembleia Nacional.

Há meses, os franceses precisam apresentar certificado de vacina ou um teste negativo para covid-19 para frequentar locais como cinemas e cafés ou viajar de trem. Mas com a disparada das infecções, com as variantes delta e ômicron, o governo decidiu invalidar a opção da apresentação do teste negativo no novo projeto.

Se o projeto for sancionado, apenas o passaporte de vacinação será aceito, para os maiores de 12 anos. Nesta quinta-feira, a França registrou mais 261 mil novos casos de covid-19. Entre os habitantes do país, 78,7% receberam pelo menos uma dose de vacina e 76,9% já completaram o esquema vacinal.

Alguns países europeus têm hesitado em adotar esse tipo de mecanismo. Outros, no entanto, já aplicam ferramentas ainda mais amplas. Na quarta-feira, a Itália tornou a vacinação contra a covid-19 obrigatória para maiores de 50 anos. Professores e profissionais de saúde já estão obrigados a tomar o imunizante.

Ameaças

Durante os debates, o primeiro-ministro francês, Jean Castex, afirmou que grupos contra a vacinação de covid-19 da França enviaram ameaças a diversos deputados.

“Qualquer tipo de violência é inaceitável numa sociedade democrática. Mas tratando-se de depositários da autoridade pública, depositários do sufrágio universal, o recurso à violência ameaça a democracia, o pacto republicano”, declarou o chefe de governo na Assembleia Nacional.

O deputado Pascal Bois, pertencente ao partido República em Marcha, do presidente Emmanuel Macron, teve sua garagem incendiada nos primeiros dias de janeiro, e outros deputados têm publicado nas redes sociais as ameaças de morte diárias.

Uma em cada três ameaças recebidas pelos deputados que têm sido favoráveis às restrições governamentais está ligada à crise sanitária, levando a deputada Aurore Bergé a pedir uma “frente comum” contra este tipo de violência.

O presidente da Assembleia Nacional, Richard Ferrand, deverá reunir-se até o fim de janeiro com os ministros do Interior, Gerald Darmanin, e da Justiça, Éric Dupond-Moretti, para discutir como enquadrar esses crimes.

jps (AFP, Lusa, RFI, ots)