O satélite de observação XMM-Newton, da Agência Espacial Europeia (ESA), radiografou a bela criatura cósmica reproduzida acima, conhecida como Nebulosa do Peixe-boi (W50), e identificou a localização da aceleração incomum de partículas em sua “cabeça”. O estudo a esse respeito foi aceito para publicação na revista The Astrophysical Journal.

Acredita-se que a Nebulosa do Peixe-boi é um grande remanescente de supernova criado quando uma estrela gigante explodiu cerca de 30 mil anos atrás, lançando suas camadas de gases pelo céu. É uma das maiores de seu tipo, abrangendo o tamanho equivalente a quatro Luas cheias.

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Excepcionalmente para um remanescente de supernova, um buraco negro permanece em seu núcleo. Este “microquasar” central, conhecido como SS 433, emite jatos poderosos de partículas que viajam a velocidades próximas a um quarto da velocidade da luz que perfuram as camadas gasosas, criando a forma de dois lóbulos.

O SS 433 é identificado pelo ponto vermelho no meio da imagem. Os dados de raios X adquiridos pelo XMM-Newton são representados em amarelo (raios X suaves), magenta (raios X de energia média) e ciano (emissão de raios X duros, isto é, com alta energia de fótons), enquanto o vermelho – rádio – e os comprimentos de onda ópticos verdes foram visualizados pelo Very Large Array (EUA) e pelo Observatório Skinakas (Grécia), respectivamente. Dados dos satélites NuSTAR e Chandra da Nasa também foram usados ​​para o estudo, mas não são mostrados nesta imagem.

A nebulosa atraiu a atenção em 2018, quando o High-Altitude Water Cherenkov Observatory (observatório resultante de parceria científica entre o México e os EUA localizado em Puebla, México), que é sensível a fótons de raios gama de energia muito alta, revelou a presença de partículas altamente energéticas (centenas de teraelétron-volts), mas não conseguiu identificar de onde, dentro da nebulosa, as partículas eram originárias.

Laboratório próximo

O XMM-Newton foi crucial para localizar a região de aceleração de partículas no jato de raios X da “cabeça” do peixe-boi, que começa a cerca de 100 anos-luz de distância do microquasar (representado pelas cores magenta e ciano para o lado esquerdo SS 433 ) e se estende por aproximadamente 300 anos-luz (coincidindo com o “ouvido” de rádio onde o choque termina).

Segundo Samar Safi-Harb, da Universidade de Manitoba (Canadá), que liderou o estudo, “graças aos novos dados do XMM-Newton, complementados com dados do NuSTAR e do Chandra, acreditamos que as partículas estão sendo aceleradas para energias muito altas na cabeça do peixe-boi através de um processo de aceleração de partículas invulgarmente energético. O fluxo do buraco negro provavelmente chegou até lá e foi reenergizado para radiação de alta energia naquele local, talvez devido a ondas de choque nas nuvens de gás em expansão e campos magnéticos aprimorados.”

A nebulosa atua como um laboratório próximo para explorar uma ampla gama de fenômenos astrofísicos associados aos fluxos de muitas fontes galácticas e extragalácticas e estará sujeita a investigações adicionais. Além disso, estudos de acompanhamento do futuro observatório de raios X Athena, da ESA, fornecerão detalhes ainda mais sensíveis sobre o funcionamento interno desse curioso peixe-boi cósmico.