A Fundação Toyota chega a 10 anos de Brasil com alguns dos mais importantes programas em defesa do meio ambiente. Seu presidente faz um balanço dessa década de vida e antecipa novidades para o futuro

A Fundação Toyota do Brasil completa em 2019 uma década de vida com alguns dos mais reluzentes projetos ambientais do país, como o Arara Azul (que contribuiu para aumentar o número de exemplares dessa ave ameaçada) e o APA Costa dos Corais. O trabalho desenvolvido é abordado aqui por seu presidente, Percival Mariante.

PLANETA – A Fundação Toyota nasceu em 1974 no Japão com o propósito de “contribuir para a concretização de uma sociedade mais orientada para as pes­soas e de um aumento resultante na felicidade humana”. Nesse sentido, ela abre seu leque de atuação para diversas áreas, como bem-estar social, educação, cultura e meio ambiente. Por que essa última área tem recebido atenção especial da Fundação Toyota brasileira?
PERCIVAL MARIANTE – Um dos pilares da Toyota é o respeito às pessoas e ao meio ambiente, e isso se estende à Fundação Toyota do Brasil na busca pelo desenvolvimento de sociedade e planeta sustentáveis. Conforme o nosso estatuto, a Fundação Toyota do Brasil realiza atividades com foco em conservação do meio ambiente e desenvolvimento de cidadãos.

PLANETA – Na área ambiental, a Fundação tem um compromisso histórico com a preservação da Mata Atlântica e, por meio do projeto Arara Azul, também marca presença no Pantanal. Esse é o limite de atuação ou outros biomas podem ser beneficiados no futuro?
MARIANTE – A Mata Atlântica é um dos focos de atuação da Fundação Toyota por ser o bioma que concentra mais de 70% da população brasileira e um dos mais devastados. Atualmente, seu remanescente é o equivalente a 7,5% do seu território original, e abriga centenas de espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção. Esses são alguns dos motivos pelos quais a Fundação Toyota desenvolve o projeto Águas da Mantiqueira, na Serra da Mantiqueira, e o Toyota APA Costa dos Corais, entre Pernambuco e Alagoas. No Pantanal, o projeto Arara Azul tirou a espécie da lista nacional de animais ameaçados de extinção, após um longo período de trabalho da equipe coordenada pela bióloga Neiva Guedes. No momento, estamos focados nesses projetos e regiões. Mas constantemente avaliamos desenvolver ações em outras regiões para podermos replicar os resultados positivos que estamos tendo todos os anos.

Neiva Guedes e uma arara-azul: projeto bem-sucedido após um longo período de trabalho (Foto: Divulgação)

PLANETA – Como a Fundação decide patrocinar um projeto? Seleciona propostas externas ou desenvolve iniciativas próprias?
MARIANTE – Os projetos apoiados pela Fundação Toyota têm origem tanto interna quanto externa, ou seja, há iniciativas da própria Fundação, mas também recebemos diversas propostas. A seleção é feita a partir de critérios internos, guiada pelo nosso estatuto, e os projetos devem estar alinhados com nossos objetivos e compromissos com a sociedade brasileira. O diferencial da Fundação Toyota é a gestão. Além do acompanhamento dos resultados periodicamente, participamos efetivamente das ações específicas, ajudamos na elaboração de planejamento, acompanhamos o seu desenvolvimento e a aplicação das ações nele planejadas, bem como os resultados que vêm sendo obtidos.

LEIA TAMBÉM: Tom Shroder: as evidências da reencarnação

PLANETA – O sr. poderia nos fazer um breve balanço dos projetos da Fundação em andamento no Brasil?
MARIANTE – Os projetos nacionais que apoiamos são o Arara Azul, que cuida da preservação da espécie no Pantanal do Mato Grosso do Sul, e o Toyota APA Costa dos Corais, focado na preservação dos recifes de corais, manguezais e mamíferos aquáticos no litoral de Pernambuco e Alagoas. Ainda dentro da linha nacional, o Projeto Águas da Mantiqueira visa à conservação da biodiversidade situada na Serra da Mantiqueira, onde está localizada uma das maiores províncias de água mineral do mundo, numa região nos estados de São Paulo e Minas Gerais. As ações são focadas na promoção do uso consciente e ordenado das bacias hidrográficas daquela área. Já dentro do segmento regional, o principal é o Projeto Ambientação, que promove o desenvolvimento de pes­soas por meio da capacitação e implementação de uma metodologia de gestão da Toyota em parceria com o poder público em prol do consumo consciente de recursos naturais em escolas e órgãos públicos de regiões onde a montadora atua.

PLANETA – Como anda o projeto Águas da Mantiqueira, lançado em 2017?
MARIANTE – O nosso mais recente projeto está em pleno desenvolvimento e estamos estudando uma série de parcerias para ampliação. Ele está ganhando fortalecimento institucional como modelo de política pública para toda a Mantiqueira. A pesquisa foi expandida para Sapucaí-Mirim e em breve chegará a Gonçalves, municípios mineiros que fazem parte das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Estadual Sapucaí-Mirim e Estadual Fernão Dias, respectivamente. Em paralelo, a equipe do projeto auxilia a implementação das diretrizes do projeto junto às Secretarias Municipais em Santo Antônio do Pinhal (SP), em especial a Secretaria da Educação. Com isso, esperamos poder influenciar o currículo escolar com conteúdos baseados nos dados da pesquisa, visando ao desenvolvimento sustentável da região também por meio do processo educativo. Essa parceria estimula a criação de políticas públicas não somente para os municípios nos quais serão realizadas as pesquisas, mas para a região como um todo. A Serra da Mantiqueira é um importante remanescente de Mata Atlântica e sua conservação é estratégica para a manutenção dos serviços ambientais para o Sudeste, em especial, o fornecimento de recursos hídricos. Os resultados dos diagnósticos serão divulgados para todos os municípios associados à Associação de Desenvolvimento Integrado do Território da Mantiqueira (ADITM), com o objetivo de compartilhar boas práticas e gerar engajamento. A realização da pesquisa nos três municípios citados faz parte de uma estratégia do projeto e se dá pela necessidade da obtenção de variabilidade genética vegetal. Ou seja, é necessária uma quantidade grande de espécies diferentes para garantir condições adequadas para projetos de restauração ecológica, base da sustentabilidade dos serviços ambientais. Nesse projeto, a nossa causa é a água.

PLANETA – O Projeto Ambientação, cujo foco é a redução de consumo de recursos naturais e gestão de resíduos, é feito em parceria sobretudo com prefeituras das cidades onde a Toyota tem fábricas. Prefeituras de outros municípios têm procurado a Fundação para conhecer a iniciativa? Nesse caso, qual é o procedimento adotado para encaminhar a parceria?
MARIANTE – Desde 2018, o projeto Ambientação foi ampliado para as re­giões metropolitanas de Sorocaba e Campinas, atingindo mais de 30 cidades. Atualmente, para esse projeto estamos focados nessas regiões. E em agosto, foi aberto o Ambientação EAD (Ensino a Distância) a fim de ampliar o projeto para interessados em qualquer região do país. A primeira edição do curso será gratuita e realizada de agosto a novembro. Acompanhem as redes sociais da Fundação Toyota do Brasil no Facebook e no Instagram que em breve divulgaremos novas informações.

APA Costa dos Corais: frutos positivos (Foto: iStock)

PLANETA – A carência de cuidados ambientais no Brasil é enorme – assim como em outras áreas de interesse da Fundação, como educação e cultura. Há planos para novos projetos nessas áreas?
MARIANTE – Conforme o estatuto da Fundação Toyota do Brasil, podemos apenas realizar atividades relacionadas à conservação do meio ambiente, desenvolvimento de cidadãos e ajuda humanitária. Por enquanto, cultura não faz parte do escopo de atividades da entidade.

PLANETA – Como a Fundação avalia o uso dos recursos que aplica nos projetos em andamento?
MARIANTE – Para nós, os resultados são muito positivos. Entendemos que os recursos aplicados estão alinhados com nossa missão e nossos valores, que são promover a sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente, por meio de ações de cunho ambiental e educacional que beneficiem a sociedade brasileira e sua riqueza cultural. A cada ano obtemos resultados positivos que nos fazem perceber que estamos no caminho certo.

PLANETA – Vivemos no Brasil uma era de incertezas no que se refere à visão e às ações do governo federal relativas ao meio ambiente. O projeto APA Costa dos Corais é operacionalizado pelo ICMBio, um órgão que tem passado por turbulências nos últimos tempos. Isso chega a interferir no compromisso da Fundação com o projeto? Como preservar a iniciativa nessas condições?
MARIANTE – O Toyota APA Costa dos Corais vai muito além de uma parceria público-privada entre a Fundação Toyota, SOS Mata Atlântica e o ICMBio. Além dessas entidades na linha de frente, contamos com a operação de diversas entidades locais muito bem estruturadas e fortalecidas para continuar a desenvolver as atividades planejadas em prol da conservação ambiental e do desenvolvimento das comunidades locais. Temos muito respeito pelos nossos parceiros, sejam da esfera pública ou privada, e temos certeza de que esse projeto conti­nuará a render frutos positivos para a região e a biodiversidade brasileira.