As tentativas de construir uma sociedade mais justa e inclusiva deram um passo à frente com a descoberta de uma “ilusão de diversidade” por uma equipe de pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém (Israel). Suas descobertas mostram claramente que dentro de um ambiente social a maioria das pessoas superestima significativamente a presença de uma minoria – e essa superestimação é feita não apenas pela maioria, mas também pela própria minoria. Além disso, eles descobriram que essa ilusão provavelmente dificultará as tentativas de construir uma sociedade mais justa, pois leva a um menor apoio a políticas voltadas à promoção da diversidade.

A pesquisa foi publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

“Acredito que nosso trabalho tem implicações imediatas e na vida real”, disse o líder da equipe de pesquisa, o professor Ran Hassin, do Departamento de Psicologia da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Centro Federmann para o Estudo da Racionalidade. A fim de neutralizar esse viés, ele sugere que duas coisas devem ser feitas para melhorar a tomada de decisões: os números reais da minoria precisam ser conhecidos e as pessoas precisam entender como são afetadas por esse viés cognitivo.

Mas estar ciente da ilusão da diversidade é apenas o primeiro passo, explicou Hassin. “Também precisamos estar motivados para corrigi-la”, então poderemos avançar para a implementação de políticas melhores.

Repetição do mesmo experimento

A primeira experiência da equipe da Universidade Hebraica de Jerusalém se concentrou em estudantes da universidade, onde a maioria é de judeus-israelenses e a minoria (cerca de 12%) é palestina-israelense (árabe). Solicitou-se aos alunos que relembrassem momentos de caminhada pelo corredor principal do campus universitário e estimar qual a porcentagem de estudantes árabes que existem na universidade. Tanto os estudantes judeus quanto os árabes deram estimativas muito mais altas (os estudantes judeus estimaram 31% e os estudantes árabes estimaram 35%).

“No começo, não podíamos acreditar nos resultados, então fizemos o mesmo experimento várias vezes”, diz a drª Rasha Kardosh, pós-doutoranda na Universidade Hebraica de Jerusalém. Na verdade, foi ela quem sugeriu inicialmente esse projeto de pesquisa. Ela ficou surpresa ao descobrir que isso nunca havia sido pesquisado antes. Como psicóloga social de um grupo minoritário (ou seja, árabe), ela conseguiu trazer novas perspectivas para o campo.

Esses primeiros e surpreendentes resultados foram repetidos em vários outros experimentos, incluindo um com participantes americanos vendo uma grade de 100 rostos de alunos, com 25% dos rostos afro-americanos espalhados aleatoriamente entre os brancos. Uma grande superestimação da minoria (mais de 40%) foi registrada por participantes brancos e afro-americanos, confirmando que fazer parte da minoria não teve efeito na aferição da estimativa correta de companheiros de minorias.

Para uma explicação da ilusão da diversidade, a drª Kadosh aponta para o fato bem estabelecido de que “nosso sistema cognitivo muda seu foco para o que não espera. Basta pensar em andar pela seção de vegetais de um supermercado e de repente ver uma garrafa de detergente para a roupa entre as batatas”. Em um ambiente social, esse foco pode ser no grupo minoritário, e a mudança de foco faz com que o evento reivindique mais importância em nossa percepção e memórias; o resultado é uma superestimação da minoria. Tanto ela quanto o prof. Hassin agora planejam investigar como esse efeito afeta nossa percepção de outras minorias.