Ao tomarem decisões sobre o que fazer com seus relacionamentos românticos, as pessoas normalmente tendem a levá-los adiante em vez de terminá-los, afirma a pesquisadora Samantha Joel, professora de psicologia da Universidade de Ontário Ocidental (Canadá). Segundo ela, essas decisões pró-relacionamento favorecem o início, o avanço e a manutenção de conexões românticas em vez de decisões que paralisam ou encerram relacionamentos. Seu estudo foi publicado na revista Personality and Social Psychology Review.

No trabalho, Joel e o coautor Geoff MacDonald, da Universidade de Toronto (Canadá), revisaram a literatura sobre tomada de decisão no contexto de relacionamentos românticos. Em uma variedade de campos, como psicologia social, sociologia, estudos de família e economia comportamental, eles encontraram evidências consistentes de um “viés de progressão” – uma tendência a tomar decisões que movem os relacionamentos românticos para a frente.

Aumentar o investimento e o compromisso com um parceiro romântico parece relativamente fácil e sem esforço, enquanto as decisões que interrompem ou encerram relacionamentos parecem difíceis e dolorosas. Ou seja, parece mais fácil se comprometer do que se afastar de um relacionamento, pelo menos no curto prazo. Esse viés de progressão pode ajudar as pessoas a superar os desafios nos relacionamentos, mas também pode deixar as pessoas em relacionamentos que não são ideais.

Possível papel da evolução

Joel e MacDonald argumentaram que a evolução e as normas culturais estão por trás da tendência de se direcionar para o aumento do investimento e do comprometimento em tais relacionamentos.

Segundo Joel, a evolução pode ter contribuído para o viés de progressão na medida em que para nossos ancestrais, que não tinham tantas opções de parceiros quanto nós agora, ter um parceiro romântico pode ter sido mais importante do que ter um ‘ideal’. Ou seja, as pessoas que esperaram por um parceiro ideal e perderam a chance podem ter menos probabilidade de passar seus genes para nós.

“Certificar-se de que estão formando casais pode ter sido mais importante para a sobrevivência dos genes do que ser realmente exigente e encontrar uma combinação ideal”, disse Joel.

Os pesquisadores citaram um estudo anterior com 10 mil encontros rápidos que sugeriu que as pessoas estão abertas a namorar uma ampla gama de parceiros românticos. Os participantes disseram sim para uma média de 40% das opções de namoro (34% para mulheres e 49% para homens).

Pássaro na mão

Em outro estudo anterior, este liderado por Joel, os participantes foram trazidos para o laboratório e apresentados a perfis de namoro. Essas pessoas foram informadas de que seus possíveis candidatos a namoro possuíam pelo menos uma das características que elas haviam dito especificamente que não queriam em um parceiro. Quando os participantes acreditavam que essa era uma oportunidade real de namoro, 74% deles concordavam em namorar o pretendente incompatível, de qualquer maneira. Ou seja, o viés de progressão pode ter levado as pessoas a pegar ‘o pássaro na mão’ em vez de esperar por dois voando.

Existem também normas e pressões culturais profundas e duradouras que empurram os solteiros para relacionamentos que estão, na melhor das hipóteses, em descompasso com os tempos atuais.

“Sentimos muita pressão social para manter um relacionamento. E há muitas pesquisas boas sobre como a solidão é estigmatizada”, disse Joel. “Existem benefícios sociais também, independentemente de quem seja o seu parceiro. Culturalmente, estar casado significa ser visto como uma unidade social legítima.”

Luz positiva

Também pode ser outra razão pela qual os solteiros parecem estar abertos a uma ampla gama de parceiros de namoro, disse Joel. Segundo ela, muitas pessoas estão motivadas a ver potenciais parceiros de namoro sob uma luz positiva, na medida em que irão ignorar possíveis falhas e incompatibilidades. Se sua motivação para estar em um relacionamento é preencher uma lacuna na sua área social, a maioria dos parceiros em potencial será suficiente para cumprir esse papel.

Outros estudos anteriores examinados por Joel e MacDonald revelaram que as pessoas tendem a investir em novos relacionamentos rapidamente. Em um estudo com uma amostra de 122 pessoas que viviam com seus parceiros, 36% haviam passado a morar juntos seis meses após o início do namoro. Outro estudo mostrou que os participantes tendem a se apegar profundamente a novos parceiros românticos três meses após o namoro.

“Muitas vezes, quando você descobre que seu parceiro tem algumas características ou objetivos de vida incompatíveis com os seus, você já investiu substancialmente nesse relacionamento. Nesse ponto, é muito mais difícil cortar suas perdas”, disse Joel. “Não gostamos de perder nosso tempo e energia, e os relacionamentos exigem muito dos dois. Terminá-los exige ainda mais. Realmente, parece uma perda nesse ponto.”

No artigo, Joel e MacDonald também abordaram os limites potenciais para o viés de relacionamento e desenvolvimento. “Para muitas pessoas, é mais fácil entrar em um relacionamento romântico do que sair de um. Mas também é importante reconhecer que, para muitas pessoas, também não é fácil entrar em um relacionamento”, observou Joel.