À medida que se estuda a questão do excesso ou da falta de chuva, se percebe que os problemas estão mais associados à terra do que ao céu.

Já em 2007, a “Lei das Piscininhas” (Lei N. 12.526) foi implementada no Estado de São Paulo, inspirada na lógica dos “piscinões”, grandes reservatórios criados no subterrâneo das cidades para reter parte da água das chuvas em locais que costumavam inundar. Uma ‘piscininha’, portanto, também tem o papel de conter um bom volume de água, que logo depois da chuva será liberada para a rede. A legislação determina que os projetos de engenharia civil que impermeabilizem mais de 500 metros quadrados do lote construam esse “reservatório de detenção”. 

Algumas cidades complementaram a lei com a obrigatoriedade de se construir ainda um poço com paredes permeáveis (como apresentado na imagem acima). O objetivo deles é ajudar na infiltração da água, que termina alimentando os lençóis freáticos.  A ideia, nos dois casos, é criar contrapartidas para desafogar o sistema de escoamento, cada vez mais pressionado pela perda de áreas onde a água pluvial antes se infiltrava naturalmente. 

Apesar de bem intencionadas, elas só se aplicam a projetos em terrenos muito grandes. E, além de a Lei das Piscininhas impor regras inflexíveis para determinar a dimensão do reservatório, ela desaproveita o potencial de reuso da água. Uma ação que poderia aliviar o consumo da rede pública também na época de seca.

Na visão de Simar Amorim, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), falta estímulo do governo, como redução em impostos, para que a ideia prolifere, como na Alemanha e na Austrália. “Embora o reservatório não seja caro, o tempo de amortização do investimento acaba sendo longo, porque a água da rede pública é barata no Brasil”, comenta.

Segundo estudo apresentado no 25º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental por pesquisadores da FEIS, USP e Unesp, o aproveitamento de água pluvial pode evitar desperdícios. Calculado para as cidades de Piracicaba, São José dos Campos, Sorocaba e Ribeirão Preto, o estudo mostra que o aproveitamento da água da chuva por meio de reservatórios representaria economia média de água potável de 39,4% – variando de 7% a 92,7%, dependendo da época do ano.

Dos 150 litros que, grosso modo, uma pessoa consome por dia de água, somente dois litros são para beber. Mas a água de chuveiro, pias e lava-roupas também devem vir da rede pública, para evitar contaminação. Já em descargas, jardinagem, limpeza de pisos e carros – que representam alta porcentagem do consumo doméstico – pode-se usar água pluvial ou água de reúso. Mesmo assim, são necessários alguns cuidados: os primeiros volumes de chuva devem ser desprezados, pois são altamente poluídos, e as águas coletadas precisam ser tratadas localmente com cloro.

Para Rodrigo Moruzzi, professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), construir boca de lobo e piscininha não é suficiente, enquanto se continuar canalizando rios e vendendo lotes de terrenos cada vez menores, que terminam impermeabilizados, aumentando a concentração demográfica e gerando maior volume escoado para a rede pública. “Temos que repensar o uso e ocupação do solo. Estamos privatizando todos os lucros na especulação imobiliária e socializando todo o prejuízo decorrente das suas consequências.”