As emissões de partículas de cozimento permanecem na atmosfera por mais tempo do que se acreditava. Isso contribui de forma prolongada para a má qualidade do ar e a saúde humana, de acordo com um novo estudo britânico.

Pesquisadores da Universidade de Birmingham conseguiram demonstrar como as emissões de cozimento – que respondem por até 10% da poluição particulada no Reino Unido – conseguem sobreviver na atmosfera por vários dias, em vez de serem quebradas e dispersas.

A equipe colaborou com especialistas da Universidade de Bath, da Central Laser Facility e do acelerador de partículas Diamond Light Source (a instalação científica nacional de fontes de luz síncrotron do Reino Unido) para mostrar como essas moléculas de ácido graxo reagem com moléculas encontradas naturalmente na atmosfera da Terra. Durante o processo de reação, um revestimento ou crosta é formado ao redor da parte externa da partícula que protege o ácido graxo interno de gases como o ozônio que, de outra forma, quebrariam as partículas.

Estudo em condições de laboratório

Esta é a primeira vez que os cientistas conseguiram recriar o processo de uma forma que permite que seja estudado em condições de laboratório. Para isso, eles usaram o poderoso feixe de raios X do Diamond Light Source a fim de acompanhar nos mínimos detalhes a degradação de finas camadas de moléculas representativas dessas emissões de cozimentos. Os resultados foram publicados no periódico “Faraday Discussions”, da Royal Society of Chemistry.

A capacidade dessas partículas de permanecer na atmosfera tem uma série de implicações para as mudanças climáticas e a saúde humana. Como as moléculas estão interagindo tão intimamente com a água, isso afeta a capacidade das gotículas de água de formarem nuvens. Por sua vez, isso pode alterar a quantidade de chuva e também a quantidade de luz solar que é refletida pela cobertura de nuvens ou absorvida pela terra – tudo o que pode contribuir para as mudanças de temperatura.

Além disso, à medida que as partículas de emissão de cozimento formam sua camada protetora, elas também podem incorporar outras partículas poluentes. O grupo inclui partículas reconhecidamente prejudiciais à saúde, como os carcinógenos das emissões de motores a diesel. Essas partículas podem ser transportadas por áreas muito maiores.

Proporção significativa

O autor principal do estudo, dr. Christian Pfrang, da Faculdade de Geografia, Ciências da Terra e Ambientais da Universidade de Birmingham, disse: “Essas emissões, que vêm principalmente de processos de cozimento, como fritura em gordura profunda, constituem uma proporção significativa da poluição do ar nas cidades , em particular de material particulado que pode ser inalado, conhecido como partículas PM2.5. Em Londres, elas respondem por cerca de 10% dessas partículas. Mas em algumas das megacidades do mundo, por exemplo na China, podem chegar a 22%. Há medições recentes em Hong Kong indicando uma proporção de até 39%”.

Ele acrescentou: “As implicações disso devem ser levadas em consideração no planejamento da cidade. Mas também devemos buscar maneiras de regular melhor as formas como o ar é filtrado – particularmente nas indústrias de fast food, em que as regulamentações não cobrem atualmente os impactos da qualidade do ar das emissões de exaustores de cozinha, por exemplo”.