Na natureza, os pais enfrentam uma troca complicada entre prover recursos para seus filhos versus usar recursos para aumentar suas chances de sobrevivência a fim de que possam ter mais filhos. A melhor alocação de recursos depende da idade. Pais mais experientes são melhores em conseguir comida, então podem passar mais para seus filhos. No entanto, são necessários recursos para combater o “desgaste”, pois na velhice se pode transmitir menos.

Esse padrão de aumento-diminuição de alocação para a prole é visto em muitos mamíferos, pássaros e insetos. Cientistas da Universidade de Bristol, com colegas das universidades de Exeter e Oxford (todas no Reino Unido), encontraram esse padrão em um importante inseto transmissor de doenças, a mosca tsé-tsé. As moscas tsé-tsé dão à luz filhotes vivos que são quase tão grandes quanto sua mãe.

Com colegas da Escola de Medicina Tropical da Universidade de Liverpool (Reino Unido), a equipe estudou mães tsé-tsé no laboratório por toda a vida. Agora, a equipe fez um modelo matemático, publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, que mostra como o padrão pode ser explicado pelas mudanças que as mães experimentam à medida que envelhecem.

Mosca tsé-tsé digerindo sangue. Crédito: Daniel Hargrove

Padrões ótimos

A mosca tsé-tsé vive de sangue, que é um alimento rico, mas difícil de obter. Os insetos precisam voar um longo caminho para encontrar um animal e evitar suas defesas, como uma cauda capaz de golpear. As moscas tsé-tsé provavelmente ficam melhores em adquirir comida através da experiência, mas a energia de que precisam para voar aumenta à medida que suas asas se desgastam. As mães tsé-tsé evoluíram para responder a esses efeitos ao passar a gordura para seus filhos.

“Esperamos que os pais tenham desenvolvido padrões ótimos de alocação de recursos para maximizar seu sucesso reprodutivo”, disse o autor principal do estudo, dr. Antoine Barreaux, pesquisador associado da Universidade de Bristol e agora professor do laboratório Intertryp no Cirad (órgão de pesquisa agronômica do governo francês). “Nosso trabalho leva em consideração a dependência da idade em muitos fatores, como capacidade de alimentação, custos energéticos e mortalidade.”

A drª Sinead English, da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Bristol e líder da equipe, acrescentou: “Nosso modelo é o primeiro a prever o aumento inicial e posterior diminuição com a idade da alocação de recursos pelos pais para seus filhos.”

O modelo matemático se aplica a todos os animais que têm mais de uma prole durante a vida. Ele prevê quais escolhas estratégicas os indivíduos farão dependendo de sua ecologia. Algumas espécies alocarão quase tudo para cada evento de reprodução, enquanto outras acumularão seus recursos e se reproduzirão com menos frequência. Explicar essa diversidade é um objetivo do projeto.

Mosca tsé-tsé dando à luz. Crédito: Daniel Hargrove

Teoria geral

“Esperamos que esta teoria inspire futuros testes com os dados de estudos de longo prazo de populações selvagens, como veados, bisões ou andorinhas. Isso permitiria aos cientistas chegar a uma teoria geral do investimento dos pais ao longo de suas vidas”, disse Barreaux.

A equipe está desenvolvendo o modelo para incluir os parasitas que a mosca tsé-tsé transmite. A esperança é que uma melhor compreensão desses importantes insetos seja usada para reduzir a transmissão de doenças, como a doença do sono, para humanos e animais.