Um pica-pau bica o tronco de uma árvore quase 20 vezes por segundo quando procura larvas e insetos para comer ou prepara um ninho. Apesar de tanto impacto, essas aves não parecem sofrer lesões cerebrais. Como?

Há meio século estudiosos sugerem que os ossos do crânio, esponjosos, ou a língua, bastante longa, fariam o papel de amortecedores. Um estudo liderado por Sam Van Wassenbergh, da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, indica que a explicação pode ser outra.

Em 109 vídeos gravados em câmera lenta, ele e colaboradores rastrearam o movimento de pontos no bico e na cabeça de três espécies de pica-pau em ação. Concluíram que, no impacto, o crânio sofre a mesma desaceleração que o bico. Ou seja, não há amortecimento, embora, a cada bicada, o cérebro, no choque com o crânio, sofra uma redução de velocidade três vezes superior à que provocaria concussão cerebral em humanos (Current Biology, 14 de julho). O tamanho e o formato do crânio, porém, evitam que a pressão interna aumente a ponto de causar danos no cérebro.

* Este artigo foi republicado do site Revista Pesquisa Fapesp sob uma licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o artigo original aqui.