Em vários países, 1º de abril é comemorado como o Dia da Mentira. Pela tradição, pregam-se peças nas vítimas, após o que se diz a elas: “Primeiro de abril!” ou “Dia da mentira!”.

A data é celebrada há vários séculos por diferentes culturas, mas suas verdadeiras origens são desconhecidas.

Ela se assemelha a festivais como a Hilaria, da Roma antiga, realizada em 25 de março, e o Holi, na Índia, que termina em 31 de março.

De acordo com o site History.com, alguns historiadores especulam que o Dia da Mentira moderno data de 1582, quando a França mudou do calendário juliano para o gregoriano, conforme solicitado pelo Concílio de Trento em 1563.

Por determinação do papa Gregório XIII, o novo calendário deveria começar a partir de 1º de janeiro, em vez da celebração anterior no final de março ou 1º de abril.

A mudança no calendário anual foi implementada pela França – mas, no restante da Europa, as pessoas continuaram a seguir o calendário juliano.

E aqueles que não assimilaram o uso do novo calendário e acabaram celebrando o Ano Novo em abril foram marcados como “tolos”. Assim, um dia especial para os tolos passou a existir.

A origem francesa

O site Britannica.com também sugere que o costume moderno se originou na França na mesma época, mas não por culpa exclusiva do papa.

Pelo Édito de Roussillon (promulgado em agosto de 1564), o rei francês Carlos IX decretou que o ano novo não começaria mais na Páscoa, como era comum em toda a cristandade, mas sim em 1º de janeiro.

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A justificativa era que a Páscoa era lunar e, portanto, uma data móvel. Aqueles que continuaram a seguir o velho calendário foram as primeiras vítimas do “Dia da Mentira”.

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Outra hipótese sugerida é que o dia poderia estar relacionado ao equinócio da primavera no hemisfério norte (21 de março), uma época em que as pessoas são enganadas por mudanças repentinas no clima.

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A celebração do Dia da Mentira pode apresentar diferenças de país para país. Na essência, porém, há sempre uma desculpa para fazer alguém bancar o idiota.

Ingresso de 1857 para a “Lavagem dos Leões” na Torre de Londres. Nenhum evento desse gênero foi realizado. Crédito: http://www.museumofhoaxes.com/hoax/Hoaxipedia/Washing_The_Lions/

O limite do meio-dia

* Na França, por exemplo, a pessoa enganada é chamada de poisson d’avril (“peixe de abril”), uma possível referência a um peixe jovem e, portanto, facilmente pescado. Nessa data, é comum ver crianças francesas prenderem um peixe de papel nas costas de amigos desavisados. A tradição também é seguida em áreas de língua francesa na Suíça e no Canadá, na Bélgica e na Itália.

* Segundo um estudo dos anos 1950, dos folcloristas Iona e Peter Opie, no Reino Unido e em países cujas tradições derivam dele, as brincadeiras de 1º de abril cessavam ao meio-dia. A tradição continua em vigor hoje – depois do meio-dia, não é mais aceitável pregar peças. Assim, a pessoa que prega uma peça de 1º de abril nesses países depois do meio-dia é considerada ela própria uma vítima do 1º de abril.

* Na Polônia, o prima aprilis (“1º de abril” em latim) ocorre num espírito semelhante. As farsas são preparadas por pessoas, meios de comunicação e até instituições públicas. Em geral, as atividades sérias são evitadas e, geralmente, todas as palavras ditas em 1º de abril podem ser falsas. A convicção em relação a isso é tão forte que a aliança antiturca dos poloneses com o rei Leopoldo I, do Sacro Império Romano-Germânico, assinada em 1º de abril de 1683, foi datada de 31 de março. No entanto, muitos na Polônia consideram que há o mesmo limite no horário seguido pelos britânicos: o prima aprilis termina ao meio-dia de 1º de abril, e brincadeiras com a data depois dessa hora são consideradas inadequadas e sem classe.

Feriado em Odessa

* Na Escócia, o 1º de abril é o Dia Gowkie, derivado de gowk (cuco), pássaro que simboliza o tolo e o corno (o que sugere que em algum momento foi feita uma ligação com os relacionamentos sexuais); no dia seguinte, cartazes com os dizeres “chute-me” são pregados nas costas dos amigos.

* Na Irlanda, um costume tradicional era confiar à vítima uma “carta importante” a ser entregue a alguém identificado no conteúdo. Essa pessoa lia a carta, pedia à vítima para levá-la a outra pessoa e assim por diante. Quando aberta, a carta continha as palavras “mande ao tolo mais adiante”.

* Em vários países de língua espanhola e nas Filipinas há uma festa muito semelhante ao Dia da Mentira, denominada “Día de los Santos Inocentes”. Mas a data é diferente: 27, 28 ou 29 de dezembro, dependendo da localização.

* Na cidade de Odessa (Ucrânia), o Dia da Mentira é comemorado desde 1973 como feriado, sob o nome Humorina. Na data ocorrem um grande desfile no centro da cidade, shows gratuitos, feiras de rua e apresentações. Os participantes do festival se vestem com uma variedade de fantasias e andam pela cidade brincando e fazendo pegadinhas com os transeuntes. Uma das tradições da data é vestir o principal monumento da cidade com roupas engraçadas.

* Nos países escandinavos, na Dinamarca e na Islândia, a maioria dos meios de comunicação publica uma história falsa em 1º de abril. No caso de jornais, normalmente será um artigo de primeira página, mas não a manchete principal.

A mídia e o 1º de abril

Em muitos países, jornais e outras mídias participam da brincadeira, publicando manchetes ou notícias falsas na data, por exemplo. A ideia é divertir-se com os eventuais consumidores dessas publicações absurdas que as levem a sério.

Nos países escandinavos, na Dinamarca e na Islândia, a maioria dos meios de comunicação publica uma história falsa em 1º de abril. No caso de jornais, normalmente será um artigo de primeira página, mas não a manchete principal.

Um caso clássico de pegadinha de 1º de abril na mídia ocorreu em 1957, quando a BBC britânica transmitiu um filme em sua série Panorama, de atualidades, que apresentava fazendeiros suíços “colhendo” espaguete recém-crescido. A emissora logo foi inundada com pedidos de compra de uma planta de espaguete. No dia seguinte, ela teve de declarar em seu noticiário que o filme era uma farsa.

O problema com esse costume é que, nos últimos tempos, a indústria de fake news tem mostrado que as dimensões da credulidade popular sobre notícias falsas não são tão desprezíveis como se poderia imaginar antes.