Não são só crises hídricas que ameaçam a produção de alimentos e a própria estabilidade de ecossistemas. O aquecimento global é um dos principais fatores pelos quais o déficit de pressão de vapor (VPD, sigla em inglês) está aumentando. Quando o VPD ultrapassa um limiar, plantas reduzem as trocas com a atmosfera para conservar a água e, como isso, reduzem sua atividade fotossintética.

Agora, pesquisadores descobriram que déficits mais altos impactam mais as plantas do que sua fotossíntese. Analisando dezenas de tratos e variáveis fisiológicas em 112 espécies de diferentes ambientes, eles notaram mudanças anatômicas, como uma redução no tamanho das folhas, que reduzem ainda mais a capacidade das trocas com a atmosfera. Também notaram efeitos negativos nos sistemas reprodutivos. Os autores do trabalho que acaba de sair na “Global Change Biology” apontam para uma queda na produtividade de lavouras e impactos nas dinâmicas dos ecossistemas.

Vale lembrar dois outros artigos publicados em 2019 tratando do impacto do aumento do déficit de pressão de vapor. O primeiro, na “Nature”, examinou os impactos na franja sul da Floresta Amazônica durante as fortes secas neste século. Eles apontam que o aumento do déficit foi a combinação do aquecimento global com os aerossóis saídos das queimadas e incêndios que aconteceram na floresta seca. E alertam para o feedback positivo entre uma floresta com atividade fotossintética reduzida com menos evapotranspiração, aumentando o déficit de vapor, portanto uma atmosfera mais seca.

O segundo trabalho saiu na “Science” e analisou imagens de satélite da vegetação ao redor do globo. Ele concluiu que a perda de cobertura, contínua e generalizada desde o final dos anos 90 pode ser atribuída ao aumento do VPD.