Quase 20 anos depois da aposentadoria do Concorde, o sonho de viagens em aviões superrápidos continua de pé, e com evoluções. De acordo com artigo publicado no site NBC News, já não se fala tanto em velocidades como a do supersônico anglo-francês, que atingia cerca de 2.200 km/h, ou quase duas vezes a velocidade do som (1.235 km/h, ou Mach 1). Alguns projetos trabalham em um filão mais ousado: o dos aviões hipersônicos, que voariam acima de Mach 5 (6.175 km/h).

Em 2018, a Boeing revelou planos para um avião capaz de atingir cerca de 6.000 km/h. O Stratofly MR3, avião de passageiros de 300 passageiros em desenvolvimento por um consórcio europeu que inclui o Centro Aeroespacial Alemão, o Laboratório Aeroespacial Francês e oito outras universidades e organizações de pesquisa, chegaria a Mach 8 (quase 10.000 km/h).

Dotado de perfil aguçado e unidades de propulsão avançadas, o Stratofly atingiria quase 30 mil metros de altitude. (Os aviões convencionais voam a cerca de 11 mil metros do solo.) Com isso, ele basicamente se livraria de turbulências e mau tempo. Seria até possível para os passageiros verem a curvatura da Terra pelas janelas (embora o mais provável é que a cena seja vista por telas a bordo).

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O Concorde se notabilizou por fazer a ligação entre Europa e América do Norte. Já o Stratofly percorreria distâncias maiores. Segundo o consórcio responsável, o avião hipersônico faria o percurso Nova York – Sydney em cerca de três horas. Um vôo de Los Angeles a Tóquio duraria aproximadamente uma hora e 45 minutos.

Alívio para o congestionamento

Com os voos hipersônicos, “será muito mais fácil viajar para destinos distantes”, afirma Nicole Viola, professora de projeto de sistemas aeroespaciais na Politécnica de Turim (Itália) e coordenadora do projeto do consórcio Stratofly. Segundo ela, por voar em altitudes além do alcance de aviões convencionais, o novo avião também ajudaria a aliviar o congestionamento causado pelo estimado aumento do tráfego aéreo no futuro.

O consórcio Stratofly quer iniciar ainda em 2019 testes de túnel de vento dos componentes do motor. Mas Viola prevê que as tecnologias-chave poderão não estar prontas até 2035. E será necessária ainda mais uma década até que os testes de voo sejam concluídos e o avião esteja pronto para transportar passageiros.

O prazo dilatado tem relação com o aprimoramento de tecnologias ainda pouco conhecidas. A última vez que um avião hipersônico voou com uma pessoa a bordo foi em 1967. Tratava-se do americano X-15, movido por motores de foguete – algo impensável hoje para viagens comerciais.

Um dos problemas a serem superados é a capacidade da fuselagem de resistir à fricção e ao calor conforme velocidades hipersônicas são atingidas. Pelos cálculos, seria necessário suportar temperaturas acima de 530 °C. Para tanto, a equipe do Stratofly está explorando o uso de materiais de alta tecnologia, incluindo cerâmica reforçada com fibra de carbono. Eles também procuram formas inovadoras de resfriar o avião. Uma alternativa seria permitir que parte do hidrogênio líquido superfrio usado como combustível da nave se evapore durante o voo e absorva parte do calor induzido pelo atrito, diz Viola.

Ela acrescenta que o consórcio não despreza o efeito do avião no meio ambiente. “Estamos analisando todas as operações e todas as tecnologias para minimizar o impacto ambiental”, afirma.