No dia em que o país realizava homenagens à rainha Elizabeth 2ª, grupos indígenas promoveram manifestações condenando o legado colonial britânico e exigindo a devolução de suas terras tradicionais.No mesmo dia em que a Austrália promoveu um feriado em memória da rainha Elizabeth 2ª, centenas de pessoas realizaram um ato público em protesto contra o impacto destrutivo do legado colonial britânico para os povos indígenas.

Os participantes do movimento “Abolir a monarquia” se reuniram nesta quinta-feira (22/09) em várias cidades, incluindo Sidney, Melbourne e Canberra, para protestar contra a perseguição ao indígenas desde a chegada dos britânicos na Austrália, há mais de dois séculos.

A chegada dos primeiros colonos britânicos em 1788 marcou o início de dois séculos de discriminação e opressão dos indígenas australianos que habitam o continente há cerca de 65 mil anos, segundo estimativas.

Em Sidney, uma multidão se reuniu próximo à estátua da rainha Victoria no centro cidade, antes de iniciarem uma passeata. O movimento pede a devolução de terras indígenas e compensações por crimes cometidos pelos colonizadores britânicos.

Alguns disseram que se recusam a lamentar a morte de Elizabeth 2ª. “A monarquia precisa ser abolida, já deveria ter sido há muitos anos”, disse Paul Silva, um ativista indígena de 24 anos. “Os povos originários da Austrália ainda lutam por suas terras tradicionais”, explicou.

A longa jornada pela reconciliação

Durante um cerimônia em memória de Elizabeth 2ª em Canberra, o governador-geral da Austrália, David Hurley, que representa a monarquia britânica, disse reconhecer as reivindicações dos representantes dos primeiros habitantes do continente.

“Tendo em vista o papel unificador que Sua Majestade desempenhava, eu reconheço que seu falecimento tenha incitado reações diferentes em alguns de nossa comunidade”, afirmou,

“Tenho consciência e respeito que a reação de muitos nas nações originárias da Austrália sejam influenciadas por nossa história colonial e nossa longa jornada pela reconciliação. Esta é uma jornada que nós, como nação, devemos completar.”

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, prometeu que durante os três anos de seu primeiro mandato haverá a realização de um referendo para dar aos povos indígenas o direto de serem consultados por parlamentares sobre questões que os afetem, a chamada Voz no Parlamento.

Mesmo sendo um ávido apoiador do republicanismo, Albanese fez da Voz no Parlamento a sua prioridade, rejeitando discutir uma transição para um regime republicano na Austrália, algo que considerou inadequado durante o período de luto.

Desigualdade perduram

A perseguição aos indígenas ficou marcada na história australiana, desde a dizimação da população após a colonização, até a implementação de políticas como a remoção forçada das crianças.

As desigualdades enfrentadas pelos aborígenes e nativos do Estreito de Torres na Austrália ainda são significativas. Os indígenas, inclusive, têm expectativa de vida bem mais baixa do que a dos demais australianos.

rc (AFP)