Pterossauros recém-nascidos de espécies grandes e gigantescas competiam com espécies de pterossauros menores pelo domínio dos céus do período Cretáceo, cerca de 100 milhões de anos atrás, segundo um novo estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Portsmouth (Reino Unido). O trabalho foi publicado na revista Cretaceous Research.

Os pterossauros eram primos voadores dos dinossauros. Alguns eram tão grandes quanto um caça britânico Spitfire usado na II Grande Guerra, que superavam 9 metros de comprimento. Já outros eram tão pequenos quanto um tordo.

Durante os períodos Triássico e Jurássico (de 252 a 145 milhões de anos atrás), os pterossauros alcançaram apenas tamanhos modestos. No Cretáceo Superior, porém, muitos eram gigantes. Alguns alcançavam uma envergadura de 10 metros ou mais.

Testes rigorosos

Considerava-se antes que as espécies menores de pterossauros eram superadas por pássaros que haviam evoluído recentemente. A pesquisa mais recente descobriu, no entanto, que foram na verdade os bebês de pterossauros gigantes – conhecidos como flaplings – que ofuscaram seus pequenos rivais adultos.

O autor principal, Roy Smith, da Escola de Meio Ambiente, Geografia e Geociências da Universidade de Portsmouth, trabalhou no estudo com cientistas da África e do Reino Unido. A equipe foi formada por especialistas das universidades da Cidade do Cabo (África do Sul), de Leicester, Portsmouth (Reino Unido) e Casablanca (Marrocos).

“Nos últimos 10 anos ou mais, temos feito trabalho de campo no deserto do Saara, no Marrocos, e descobrimos mais de 400 espécimes de pterossauros do Grupo Kem Kem, arenitos altamente fossilíferos famosos mundialmente pelo espetacular dinossauro Spinosaurus”, disse Smith. “Encontramos mandíbulas de pterossauros realmente grandes e também espécimes que pareciam ter mandíbulas menores – do tamanho de uma unha. Mas esses pequenos restos de pterossauros poderiam ser apenas pontas de mandíbulas grandes. Então, tivemos de fazer alguns testes rigorosos para descobrir se eram de uma espécie pequena ou de minúsculos pterossauros grandes e gigantes jovens.”

Roy e seus colegas examinaram cinco pequenos fragmentos da mandíbula e uma vértebra do pescoço usando técnicas sofisticadas de microscópio para determinar a idade do indivíduo quando o animal morria.

Indivíduos imaturos

A coinvestigadora Anusuya Chinsamy-Turan, da Universidade da Cidade do Cabo, é uma especialista mundial na microestrutura óssea (histologia) de pterossauros e dinossauros. Ela disse: “Olhando para a seção fina como papel dos ossos em um microscópio, eu poderia dizer que eles eram de jovens, pois o osso crescia rapidamente e não tinha muitas linhas de crescimento. (…) Também examinamos a superfície dos ossos e descobrimos que eles tinham uma textura ondulada. Essa foi mais uma evidência de que eram ossos de indivíduos imaturos, já que os ossos de pterossauros maduros têm uma superfície incrivelmente lisa quando estão totalmente formados”.

Os pesquisadores também inspecionaram as mandíbulas e descobriram que o número de orifícios minúsculos por onde os nervos vêm à superfície para detectar suas presas, conhecidos como “forâmens”, eram iguais nas mandíbulas pequenas e nas mandíbulas grandes.

“Esta foi mais uma prova de que estávamos olhando para as mandíbulas de jovens, porque, se os espécimes fossem apenas a ponta de uma mandíbula, haveria uma fração do número de forâmens”, disse Smith.

Descobertas recentes sugeriram que os pterossauros recém-nascidos podiam voar logo após nascerem. Portanto, eram rapidamente independentes.

Semelhança com crocodilos

O professor David Martill, da Universidade de Portsmouth, disse: “O que realmente me surpreendeu nessa pesquisa é que a ecologia alimentar desses magníficos animais voadores é mais parecida com a dos crocodilos do que com a dos pássaros. Com os pássaros, haverá talvez dez espécies diferentes de tamanhos diversos ao longo da margem de um rio – pense no martim-pescador, no pequeno abetouro, na garça-real ou na cegonha para um grande rio europeu. Existem várias espécies, todas se alimentando de presas ligeiramente diferentes. Isso é chamado de diferenciação de nicho”.

Martill prosseguiu: “Os crocodilos, por outro lado, são muito menos diversificados. No rio Nilo, crocodilos recém-nascidos se alimentam de insetos e, à medida que crescem, mudam sua dieta para peixes pequenos, depois peixes maiores e, em seguida, pequenos mamíferos, até que um grande crocodilo do Nilo adulto seja capaz de pegar uma zebra.

“Existem muitos nichos de alimentação diferentes, mas todos eles são ocupados por uma espécie em diferentes estágios de sua história de vida”, acrescentou Martill. “Parece que os pterossauros fizeram algo bastante semelhante, ocupando nichos diferentes à medida que cresciam – uma estratégia de vida muito mais reptiliana do que aviária. (…) É provável que os pterossauros jovens estivessem se alimentando de pequenas presas, como insetos de água doce, pequenos peixes e anfíbios. À medida que cresciam, podiam pegar peixes maiores e – quem sabe – os maiores pterossauros podem ter sido capazes de comer pequenas espécies de dinossauros, ou jovens de grandes espécies de dinossauros.”