Pesquisadores internacionais descobriram evidências da presença das bactérias Yersinia pestis, causadora da Peste Negra, e Salmonella enterica, responsável pela febre tifoide, em dentes de pessoas da Idade do Bronze que poderiam explicar por que duas civilizações desse período caíram. O estudo, que reuniu cientistas do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana (ambos na Alemanha), da Escola Britânica de Atenas (Grécia) e da Universidade Temple (EUA), foi publicado na revista Current Biology.

No artigo, os pesquisadores apresentam seu estudo genético de dentes encontrados na caverna Hagios Charalambos, na ilha de Creta (Grécia). Os dentes provinham de pessoas que viveram aproximadamente entre 2290 e 1909 a.C. Além de vestígios de bactérias típicas também presentes na boca humana moderna (como as que podem produzir cárie dentária), eles descobriram  evidências de Yersinia pestis  e Salmonella enterica.

Localização de sítios arqueológicos com evidências de Y. pestis e S. enterica subsp. enterica. (A) Mapa da Eurásia indicando locais relevantes com evidência genética de Y. pestis (círculos) e S. enterica subsp. enterica (triângulos). A caverna Hagios Charalambos aparece em rosa, sítioss publicados anteriormente em preto. (B) Mapa de Creta mostrando a localização de Hagios Charalambos (rosa) e importantes sítios palacianos da Idade do Bronze (preto). Crédito: Current Biology (2022). DOI: 10.1016/j.cub.2022.06.094

Cepas extintas

Segundo pesquisas anteriores, o Antigo Reino do Egito e o Império Acadiano, ambas civilizações da Idade do Bronze, apresentaram declínios populacionais repentinos há milhares de anos. Essas quedas, que também acarretaram danos à infraestrutura, reduções no comércio e grandes mudanças culturais, estariam associadas a eventos extremos de mudança climática ou outros fatores ainda desconhecidos. Um desses fatores poderia ser o surgimento de epidemias, como sugere o novo estudo.

Mas existem alguns detalhes importantes a serem observados, ressalvam os pesquisadores. Tanto a cepa de Yersinia pestis quanto a de Salmonella enterica encontradas nos dentes em Creta se extinguiram – não são as mesmas que fizeram tantos estragos séculos depois. Isso não permite conhecer o seu grau de transmissibilidade nem se eram mortais ou não. De qualquer modo, a descoberta coloca o fator epidemia como possibilidade no declínio dessas civilizações e recomenda a realização de novas pesquisas a esse respeito, afirmam os cientistas.