Os chamados árabes israelenses vêm se envolvendo de forma ainda mais intensa na mais recente escalada de violência no Oriente Médio. Isso tem motivos não só econômicos mas também políticos.Foguetes e ofensivas militares, este é o novo patamar da nova escalada de violência no Oriente Médio. Mas há também uma segunda dimensão: dois grupos populacionais estão se enfrentando com uma intensidade sem precedentes por toda Israel, os formados por judeus e por palestinos israelenses.

Qual a explosividade da situação?

Na cidade de Lod, a sudeste de Tel Aviv, as forças de segurança foram mobilizadas para acabar com batalhas de rua entre os dois grupos, onde até armas de fogo e facas foram usadas. Também em Lod, uma sinagoga e uma yeshiva, ou seja, um local de ensino religioso judaico, foram incendiadas. Na antiga cidade portuária de Akko e nos subúrbios de Tel Aviv, homens foram retirados violentamente de seus carros em meio a uma multidão e severamente espancados – em Akko um judeu, em Bat Yam, o motorista foi confundido com um árabe.

Esses são apenas alguns exemplos da violência que se espalha dentro da população em muitas partes do país. Centenas de pessoas já foram presas após esses confrontos. Em Lod, foi declarado estado de emergência.

O presidente israelense, Reuven Rivlin, já alertou para uma iminente “guerra civil”. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse aos israelenses: “Não me importo se o seu sangue ferve. Não devem fazer justiça pelas próprias mãos. Nada justifica o linchamento de árabes por judeus e vice-versa. Isso não é aceitável”.

Qual a proporção de israelenses palestinos na população do país?

Quando da fundação do Estado de Israel em 1948, cerca de 700 mil palestinos tiveram que deixar sua terra natal – do ponto de vista palestino, a chamada “Nakba”, a “catástrofe”, foi uma operação de limpeza étnica realizada pelos militares israelenses; já o lado israelense diz que foi um êxodo voluntário ocorrido após ordens de retirada árabes. Os israelenses palestinos emergiram dos grupos populacionais que permaneceram no que hoje é o território israelense – os habitantes de Jerusalém Oriental têm um status diferente.

Os israelenses palestinos, muitas vezes também chamados de árabes israelenses, constituíam cerca de 21% da população de Israel nas estatísticas do governo israelense de 2019. Esse valor vem aumentando continuamente há mais de 50 anos, porque as taxas de fecundidade no grupo populacional costumam ser mais altas. Políticos israelenses nacionalistas de direita veem isso como uma ameaça à hegemonia da população judaica. Famílias judias ortodoxas e ultraortodoxas com muitos filhos garantem que esse desenvolvimento tenha se desacelerado recentemente.

O padrão de vida médio dos palestinos em Israel é mais alto do que o dos que vivem na Cisjordânia ou mesmo na Faixa de Gaza. Em comparação com a maioria judaica, no entanto, eles costumam ter menos participação na educação e nos índices de prosperidade: de acordo com dados do instituto estatal de seguros, quase metade das famílias palestinas em Israel vivia na pobreza em 2016 – em comparação com 13% das famílias judias. A estatística exclui os ultraortodoxos haredim, dos quais 45% das famílias viviam na pobreza.

Que influência política têm os palestinos israelenses?

A controversa lei “Estado-nação”, aprovada em 2018 por iniciativa do governo de direita de Benjamin Netanyahu, reduziu a influência do grupo populacional palestino: declarou Israel a “casa nacional do povo judeu” sob a Jerusalém indivisa como capital. O hebraico é, portanto, o único idioma nacional, enquanto o árabe é rebaixado a um status especial não especificado.

Por causa da lei, grupos palestinos convocaram um boicote nas eleições parlamentares subsequentes. Isso fez com que suas forças políticas estivessem menos representadas no Knesset, o Parlamento israelense, do que a demografia poderia sugerir. Sua “Lista Unida” juntou-se ao campo anti-Netanyahu. Antes da eleição mais recente, em março de 2021, no entanto, o partido islâmico Raam, liderado por Mansour Abbas, saiu do bloco. Abbas quer usar as cisões entre os partidos judeus em benefício dos palestinos e, antes das eleições, declarou estar pronto para apoiar um futuro governo com as maiores concessões possíveis a este grupo. Nesse ínterim, os quatro parlamentares do Raam chegaram a ser considerados fiéis da balança – mas a escalada mais recente também abalou as negociações sobre uma coalizão anti-Netanyahu.