Até hoje, sabia-se que seres humanos, outros mamíferos e diversas espécies de aves sabem elaborar mapas cognitivos – representações mentais do mundo exterior e do lugar que o indivíduo ocupa nele, o que lhe permite traçar a rota mais eficiente para o destino desejado. Em um estudo publicado ontem na revista “Journal of Experimental Biology”, abordado na revista “Cosmos”, Sabrina Burmeister, da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill (EUA), e sua equipe demonstraram que um pequeno anfíbio também possui essa capacidade.

O comportamento parental de rãs venenosas da família Dendrobatidae, encontradas nas Américas Central e do Sul, indica que elas têm uma capacidade sofisticada de navegação e memória espacial em seu complexo habitat na floresta tropical dessas regiões. Depois que seus ovos eclodem, em folhas úmidas no chão da floresta, os adultos levam os girinos – um ou dois de cada vez – para pequenas poças em buracos de árvores e plantas como bromélias. Os pais passam um tempo considerável localizando e monitorando as poças para garantir que seus girinos permaneçam na água.

Sabrina e sua equipe treinaram cinco rãs adultas venenosas verdes e pretas (Dendrobates auratus) para testá-las em uma versão modificada do labirinto aquático de Morris, apelidado de labirinto do fosso. Esse equipamento tem sido usado em ratos na pesquisa de mapas cognitivos, com animais treinados aprendendo pistas visuais para localizar uma plataforma oculta sob água opaca e, assim, poder parar de nadar.

Após adequarem as condições do labirinto para as rãs e treiná-las por dez dias, os pesquisadores observaram que quatro dos cinco animais tiveram êxito nos testes; o último deles localizou a plataforma corretamente no 13º dia. Os trajetos de cada rã foram registrados visualmente e analisados, revelando que elas escolheram caminhos cada vez mais diretos para a plataforma, à medida que o treinamento prosseguia.

“Em nosso labirinto de fosso, as rãs venenosas puderam usar uma configuração de pistas visuais para encontrar a plataforma oculta”, escreveram os pesquisadores. A “marca registrada de um mapa cognitivo” surgiu quando esses anfíbios escolheram caminhos diretos para o objetivo a partir de múltiplas posições iniciais aleatórias.

O desempenho das rãs estudadas representa a primeira evidência conclusiva de um mapa cognitivo em um anfíbio e enriquece o nível de conhecimentos sobre a evolução da cognição espacial em vertebrados.