Quase tudo o que é feito ou construído, assim como a energia usada, provém da Terra. A sociedade depende cada vez mais dos recursos minerais e energéticos. Eles não são renováveis e sua disponibilidade, custos de produção e localização geográfica são variados.

Durante o século 20, o principal interesse da indústria ligada à produção de recursos não renováveis transitou dos minerais metálicos para os industriais, além do petróleo e do gás. Isso transformou essa indústria num dos atores principais das economias nacionais.

Os recursos minerais possuem natureza e composição diversas que refletem sua origem. A avaliação da possibilidade de prospecção requer que os geólogos compreendam esses processos e as interações que estão por trás das diferenças entre uma formação rochosa comum e um depósito mineral com valor econômico.

A procura crescente de recursos requer uma exploração contínua e o desenvolvimento de depósitos minerais ainda por serem descobertos. É raro descobrir-se um depósito de alta qualidade mundial, mas não se espera num futuro próximo uma redução global dos recursos não combustíveis, segundo o Projeto Global de Avaliação de Recursos Minerais (USGS). Diversos obstáculos, porém, começaram a restringir sua disponibilidade.

O “problema dos recursos minerais” é, essencialmente, uma questão de economia do desenvolvimento desses reticursos de uma forma social e ambientalmente responsável. Um bom planejamento e decisões que respeitem o desenvolvimento sustentável dos recursos precisam de uma perspectiva global a longo prazo e de uma abordagem integrada relativa ao uso do subsolo, aos recursos e à gestão ambiental. Por outro lado, essa abordagem requer que informações imparciais sobre a distribuição global dos recursos minerais conhecidos, os fatores econômicos que influenciam seu desenvolvimento e as conseqüências ambientais da sua exploração estejam disponíveis.

A indústria de rochas e agregados minerais fornece materiais para estradas, ferrovias, aeroportos, edifícios, portos e outras obras de engenharia civil, assim como as matérias-primas para o cimento. Os agregados são obtidos por meio da exploração de pedreiras e areeiros em terra e no mar e da reciclagem de resíduos industriais e de centrais térmicas. A indústria também fornece quantidades significativas de argila e rochas naturais.

Vários países tentam minimizar o volume da extração desses materiais de forma a proteger o ambiente e conservar a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos. A avaliação qualitativa dos materiais de construção é essencial para otimizar o ajuste do material com o trabalho a ser feito. O aprimoramento de métodos de exploração, a produção de resíduos menos perigosos, o desenvolvimento de novas tecnologias e instrumentos, além de produtos melhores e mais funcionais, beneficiarão toda a sociedade.

A indústria do petróleo mostrou que é possível lidar com os desafios ambientais. O gás natural tem-se tornado um combustível cada vez mais atrativo para diversos usos. Fornece uma chama limpa, gases de exaustão relativamente não poluentes, facilidade de controle de fluxo de calor e, quando necessário, alta intensidade de calor. Pode inclusive ser usado como combustível para automóvei

O petróleo é um recurso não renovável que tem origem na matéria orgânica oriunda de antigas plantas e microrganismos. Em 2004, a quantidade de óleo cru e gás natural a ser explorada foi estimada em cerca de 158 gigatoneladas de “equivalente do petróleo” tanto para o primeiro como para o segundo. Hidratos naturais de gás, assim como outros recursos não convencionais (por exemplo, petróleos extrapesados, areias oleosas e metano em camadas carboníferas) não constam dessa estimativa, mas existem em quantidades apreciáveis.

A partir de certo momento, as fontes de energia não fóssil ficarão competitivas diante do petróleo

A descoberta de um grande depósito mineral num país desenvolvido seria um bem econômico, mas teria relativamente pouco efeito na economia nacional. Já uma descoberta idêntica num país em desenvolvimento teria potencial tanto para ajudar imensamente seu desenvolvimento econômico como para iniciar uma ruptura econômica e uma degradação ambiental irreversível. Assim, será socialmente responsável, em escala global, explorar um depósito sem antes estimular o surgimento de outros investimentos num país com economia baseada num número limitado de indústrias?

O desafio atual de explorar recursos naturais como o ferro (esquerda) é fazê-lo com responsabilidade social e ambiental (esquerda, abaixo). Abaixo, veículo movido a gás natural, combustível mais “limpo”.

A extração de recursos naturais requer atenção especial ao desenvolvimento sustentável, envolvendo aspectos econômicos, ambientais e socioculturais. No futuro, terá de ser feito um trabalho no sentido de documentar as reservas e os recursos conhecidos e atualizar as estimativas de recursos desconhecidos. Esses recursos incluirão:

Produção de energia – petróleo e gás convencionais e não convencionais, carvão, urânio, tório, energia geotérmica, solar e eólica;

Minerais metálicos – cobre, ferro, manganês, molibdênio, níquel, tungstênio, zinco, chumbo, ouro, prata, alumínio, platina e paládio;

Minerais industriais e especiais, incluindo matérias-primas para cimento, terras-raras (óxidos encontrados nas areias monazíticas), diamantes;

Água – tanto superficial como subterrânea.

A queima de gás (flaring) é a combustão do gás natural que não pode ser vendido ou usado por razões econômicas ou técnicas. Ela representa uma grande perda de energia e pode ter conseqüências ambientais negativas. O metano associado à produção de petróleo é queimado em muitas partes do mundo, uma vez que o flaring é economicamente melhor que as alternativas (uso local, desenvolvimento de gasodutos ou reinjeção no reservatório). Estima-se que só na África o flaring represente uma perda de energia equivalente a US$ 500 milhões por ano.

Uma opção é converter o metano em hidrocarbonetos líquidos que podem ser usados para a geração de energia em centrais elétricas, combustível para jatos e querosene. Uma associação global público-privada, conduzida pelo Banco Mundial, foi estabelecida em 2002 a fim de abordar essa questão.

Os hidratos de metano podem ser encontrados nas regiões polares, dentro de água ou em sedimentos marinhos a mais de 300 metros de profundidade. Dessa forma, são acessíveis apenas a países que possuem tecnologia apropriada. A temperaturas e pressões normais, o metano é um hidrocarboneto gasoso, o principal componente do gás natural. Sob condições de pressão relativamente elevada e temperatura baixa (comuns em áreas de solo perenemente gelado e no leito marinho da plataforma continental), podem ser encontrados enormes volumes de hidratos de metano no estado sólido, aprisionados em estruturas geladas. Acredita- se que a quantidade de gás existente nos reservatórios mundiais de hidratos exceda a dos recursos de gás convencionais.

Cada metro cúbico de hidrato de metano equivale a 160-180 metros cúbicos de gás metano. Os hidratos podem, ainda, ser armazenados e transportados. O metano pode ser liberado pela injeção de calor num depósito de hidratos.

Conhecer os recursos geológicos à disposição no mar e na terra (direita) permite uma visão holística de toda a cadeia de valor ligada a essas riquezas.

O Ano Internacional do Planeta Terra será uma oportunidade para focar a atenção na forma como as geociências podem ajudar a providenciar investimentos locais ou globais ligados a questões de prosperidade e sustentabilidade dos recursos, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. O tema vai se centrar na resposta a três questões-chave.

1) Como um melhor conhecimento sobre os recursos geológicos valiosos pode ser incorporado em melhor planejamento, políticas governamentais, estabilidade social e desenvolvimento, num clima de desenvolvimento sustentável?

A questão examina em que circunstâncias a falta de conhecimento adequado sobre o valor potencial e a distribuição geográfica dos recursos pode ameaçar a boa governança, o desenvolvimento sustentável e a paz. Esse estudo busca compilar dados que forneçam novos instrumentos para se entender melhor a relação entre os recursos naturais e as tendências sociais. A pesquisa permitirá a obtenção de uma visão holística de toda a cadeia de valor, assim como das conseqüências sociopolíticas dos ganhos regionais ligados aos recursos naturais e dos lucros potenciais do desenvolvimento desses recursos.

2) Até que ponto o metano e os hidratos de metano podem contribuir para a produção global de energia e qual será o impacto ambiental mais provável?

O objetivo dessa investigação é ajudar os investidores a avaliar o potencial local e regional ligado ao uso sustentável do metano como recurso. A iniciativa deseja promover a cooperação internacional na investigação, identificação e avaliação do metano superficial, assim como dos hidratos de metano, enquanto recurso energético e meio de transporte para o gás natural vindo de longe.

3) O crescente uso industrial dos recursos minerais e, em especial, dos relativos aos elementos do grupo da platina (EGP) pode ser suportado por uma nova produção sustentável?

A procura por depósitos minerais de EGP (rutênio, ródio, paládio, platina, ósmio e irídio) aumenta rapidamente, uma vez que são usados em células de combustível e em sistemas de redu- Há um imenso volume de metano retido em estruturas geladas ção de poluição. Suas principais reservas estão na Rússia e na África do Sul.

Os EGP podem ser transportados pelos gases de escapamento dos automóveis ou por soluções aquosas, dando origem à poluição por emissão de EGP. A liberação desses elementos pode acarretar problemas ambientais, como a fixação em tecidos vivos. Saber se isso representa perigo para a saúde humana, porém, ainda exige intenso monitoramento científico.

A exploração futura de EGP decorrerá, provavelmente, em partes do mundo que combinam grandes regiões geográficas com perfis geológicos favoráveis e uma história curta em termos de exploração mineral. Os resultados de projetos de investigação nessa área podem ajudar a delinear estratégias para a extração e consumo de EGP em todo o mundo.

Há um imenso volume de metano retido em estruturas geladas

UM ANO INTERNACIONAL DEDICADO AO PLANETA

A União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS), que representa cerca de 250 mil geocientistas de 117 países, proclamou um Ano Internacional do Planeta Terra 2007-2009 com o subtítulo “Ciências da Terra para a Sociedade”.

Os propósitos salientam a relação entre a humanidade e o planeta, e demonstram quanto os geocientistas são importantes na criação de um futuro equilibrado e sustentável.

Proclamado através da ONU, o Ano Internacional foi considerado atividade central pela Divisão das Ciências da Terra da Unesco. Ele também é apoiado por organizações congêneres da IUGS, como a União Internacional de Geodesia e Geofísica (IUGG) e a União Geográfica Internacional (IGU), além do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU).

Segundo as diretrizes da ONU para a proclamação de anos internacionais, os assuntos elegíveis devem corresponder a uma “preocupação prioritária de direitos políticos, sociais, econômicos, culturais, humanitários ou humanos”, envolvendo “todos os países (ou a maioria deles), independentemente do sistema econômico e social”, e deve “contribuir para o desenvolvimento da cooperação internacional na resolução de problemas globais”, dando especial atenção aos temas que afetam os países em desenvolvimento.

Autores: Richard Sinding-Larsen (Norwegian University of Science and Technology), Martin Hovland (Statoil, Stavanger, Noruega), Deborah Shield (U.S.D.A. Forest Service, Fort Collins, EUA), Nils Petter Gleditsch (Centre for the Study of Civil War, International Peace Research Institute em Oslo, Noruega), entre outros.

PARA SABER MAIS

Site: www.yearofplanetearth.org